Artigo de João Otávio Macedo – DUAS VOZES ABALIZADAS


“Análise sobre as entrevistas de Fernando Henrique Cardozo e Janaína Pascoal”


O mundo da política sempre desperta atenção e paixão, tal como ocorre com a religião, o futebol e em outras áreas das artes e dos esportes. Muitos dizem abominar a política, mas acabam emitindo opinião mesmo porque, goste-se ou não, todos dependemos da atividade dos políticos; é assim no mundo organizado e está difícil encontrar outra maneira de agir, dentro dos  postulados da democracia e das leis.

Desde que tomou posse, em janeiro último, que o presidente Jair Bolsonaro vem sendo alvo, tal como ocorreu com seus antecessores, de manifestações de apoio, de um lado e, do outro, de críticas contundentes, pois, afinal, cada brasileiro julga-se, não apenas técnico de futebol, mas cientista político; na democracia é assim mesmo e é bom que continue sendo; é do debate saudável, respeitando-se o contraditório, que se encontra a solução para os inúmeros problemas de um país tão grande e tão desigual quanto o nosso.

Na edição da revista VEJA de 23 de outubro último, houve uma ampla reportagem e entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, abordando os últimos anos de seu profícuo governo e o panorama atual. Já tive oportunidade de escrever, aqui nas páginas do Diário Bahia, que poucas vezes o Brasil teve na sua presidência uma pessoa do gabarito de FHC; ele costuma ser lembrado como presidindo um governo que “domou o monstro” da inflação, mas, fez muito mais; não comandou, como fez Juscelino Kubitschek, obras gigantescas, mas colocou o nosso país em pé de igualdade com as nações mais importantes; em seu segundo mandato, teve a desdita de enfrentar crises internacionais como a asiática, a mexicana e a russa e isso abalou o ritmo que vinha tomando, preparando o Brasil para o futuro. O grande azar do Brasil, e alguns comentaristas já começaram a falar sobre isso, foi José Serra não ter sido o sucessor de Fernando Henrique. Veja-se o que ocorreu entre 2003 e 2015 e a gigantesca teia de corrupção.

Na sua aguda observação sobre o Brasil e o mundo, durante a entrevista, FHC salienta que o “meio político está não só apodrecido como muito aquém do país” e isso me faz lembrar um desabafo do ultimo general-presidente, João Batista Figueiredo, quando disse que “o Brasil não merecia os políticos que tinha”. Fernando Henrique também critica setores da imprensa ao dizer que “a mídia precisa de gente histriônica e de fanfarronice antiga, arcaica”, acrescentando que “a imprensa distorce tudo”. Sobre o governo Bolsonaro, o ex-presidente julga que “parece um governo que não tem rumo” e acha que o atual presidente é uma “pessoa tosca”. Estou citando trechos da entrevista e deixo que o (a) leitor (a) faça o seu julgamento.

Outra voz abalizada, sem ter o brilho e a experiência de Fernando Henrique, mas estribada na sua condição de deputada estadual a receber o maior número de votos no Estado de São Paulo e haver sido, juntamente com outros dois famosos juristas, autora da peça que motivou a queda da ex-guerrilheira Dilma Rousseff da Presidência da República, a deputada Janaína Paschoal, ocupando o centro do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, no dia 4 do corrente, ao responder a perguntas dos entrevistadores, fez uma análise do governo Bolsonaro, do quadro político atual e do que espera no futuro; fiel escudeira do presidente, desde os primeiros momentos e pertencendo ao mesmo partido, a deputada critica a ingerência e a altivez dos filhos do presidente, teme pelo destino político do Bolsonaro pai chegando, mesmo, a pensar que ele não terminará o mandato; a deputada é contra o fundo partidário, mais uma sabedoria engendrada pelos políticos, defende candidaturas avulsas e a diminuição de parlamentares. Devo acrescentar que não concordo com tudo o que foi dito pela deputada, mas seus questionamentos devem ser ouvidos e analisados.

É assim que se faz política, discutindo os temas, analisando bem as opiniões até se chegar a um consenso – nem sempre fácil – mas, quando não houver consenso, decidindo no voto.