Artigo de João Otávio Macedo – O DIVINA PROVIDÊNCIA


"O que nos tem faltado são governos que olhem para a esse lado da história"


Li, semanas atrás, nas paginas deste jornal, que alguns ex-alunos do Divina Providência compartilharam um almoço, em um dos restaurantes da cidade, para rememorar fatos e datas envolvendo aquele antigo estabelecimento de ensino de nossa cidade, o nosso primeiro ginásio, que a incúria, a irresponsabilidade e a falta de sensibilidade de muita s pessoas, inclusive participantes do poder público, deixaram acabar um estabelecimento que seria um marco – caso cultivássemos  a história – do ensino em nossa Itabuna. Nele estudei e, também, fui professor.

O Colégio Divina Providência começou a funcionar, como escola primária, em 1924 e, como ginásio, a partir de 1946, graças ao pioneirismo e a visão progressista do Monsenhor Moysés Gonçalves do Couto que, mesmo antes de fundar a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, em 1917, fundou a Sociedade São Vicente de Paulo, em 1913, que, por sua vez, foi o embrião do Divina Providência. Em 1940, o jovem advogado itabunense, Aziz Maron, pertencente à colônia sírio-libanesa que muito contribuiu para o progresso da cidade e da região, arrendou o colégio e inaugurou o ginásio em 1946, com a primeira turma diplomada em 1949. Os nossos jovens já não precisavam deixar Itabuna para fazer o curso ginasial, pois o Divina Providência aí se encontrava, já com o novo nome de Ginásio Divina Providência, aceitando alunos de ambos os sexos e, desde os primeiros dias de funcionamento, sob a direção da Profª Lindaura Brandão de Oliveira. Receberam o seu diploma, nessa primeira turma os irmãos Vitório e Zequinha Carmo, Florisvaldo Matos, Joel Brandão de Oliveira, José Carlos Miranda Oliveira, Denir Borges, Leila e Elza Haun, Carmen Hagge, Arthur Silva, Olga Midlej, Noeme Modesto e Bartolomeu Rebouças. Antes do término da década de quarenta, era inaugurado o Colégio São José da Ação Fraternal de Itabuna, para estudantes do sexo feminino e, nos anos cinquenta, surgiram o Colégio Firmino Alves, a Escola Técnica de Comércio e o Colégio Estadual de Itabuna.

Ouvi de alguns dirigentes da Sociedade São Vicente de Paulo, mantenedora do Divina Providência ,que as coisas foram se tornando difíceis e não havia como manter funcionando o colégio e aí é que deveria entrar o poder público, tentando uma negociação para manter incólume aquele  antigo prédio, mesmo que o colégio passasse para outra localidade, como de fato ocorreu, com outros responsáveis pela sua direção. O prédio poderia ser transformado, quem sabe, num museu da educação ou abrigando uma instituição cultural relacionada às coisas da cidade e da região, pois é um marco importante de nossa história. Bem à sua frente ergue-se outro antigo prédio, que já foi do Instituto de Cacau da Bahia, já funcionou, por um pequeno período, a igreja de Itabuna, quando do desabamento da  primeira igreja, no início da década de quarenta e, também, já abrigou a primeira companhia dos policiais conhecidos como “Cosme e Damião”, em 1956.O último estabelecimento que ali funcionou foi a Cesta do Povo e não sabemos qual será o seu destino.

Outro dia assistia ao interessante programa “Brasil Visto de Cima”, produzido pela “Mais Globo Sat”, focalizando algumas cidades do sudoeste de Minas Gerais e, confesso, fiquei com inveja dos mineiros; cidades bem arrumadas, ruas limpas, arborizadas e de trânsito disciplinado; o programa fazia questão de mostrar alguns prédios antigos, alguns centenários e que foram estações de estrada de ferro mas que, hoje, foram transformados em centros de cultura ou museus. Seria por que os mineiros são mais ricos que nós? Acredito que não, pois não é preciso recursos imensos para cuidar da cultura e das tradições.

O que nos tem faltado são governos que olhem para a esse lado da história e da cultura e, também, a falta de envolvimento da população que muito bem poderia cobrar do executivo, da câmara de vereadores, que voltassem o seu olhar para esse lado da vida de uma cidade, principalmente uma da importância da nossa maltratada Itabuna.