Artigo de João Otávio Macedo – O PODER FASCINA


“No nosso imenso Brasil não há tradição, nem condições satisfatórias, pelo passado político e cultural, para a reeleição”


Na formação das sociedades, partindo dos primórdios, as pessoas foram se dando conta do poder e do fascínio que este exerce, o que tem motivado, e certamente continuará motivando, brigas, desavenças, traições e crimes de vários matizes.

Passado tanto tempo, apesar do avanço da ciência, do conhecimento e da enxurrada de leis, ainda se briga muito pelo poder, principalmente à medida que as eleições vão se aproximando; candidatos que hoje dizem uma coisa, amanhã estão com uma conversa bem diferente e isso é um prato feito para a crônica política.

Estamos há nove meses de um novo governo, com problemas seríssimos em várias  áreas, em um país que apresenta uma desigualdade regional de grandes  proporções e boa parte do mundo político já se preocupa com eleições que irão ocorrer daqui a três anos. O presidente em exercício disse que não seria candidato à reeleição, muitos acreditaram, mas acho que já mudou de ideia. O seu ministro da justiça, nomeado com muita pompa, embalado pela brilhante passagem nos caminhos da Lava-Jato, pelo que diz a crônica política e em virtude dos altos índices de aceitação, teria sido mordido pela “mosca azul” e passou a sonhar com o Palácio do Planalto, ocasionando uma ciumeira que, ainda seguindo a “fofoca” do mundo político, o colocaria em rota de colisão com o presidente. Essas discussões são prematuras e poderão prejudicar o caminhar de um governo que tem acertado na maior parte de suas ações, tem pautado pelo combate à corrupção e à  gastança irresponsável do dinheiro público. Como bem disse o colunista J.R. Guzzo, na ultima página de VEJA do dia 18 de setembro, “Há oito meses não se rouba por atacado no governo federal”.

Já tive oportunidade de comentar, em outras ocasiões e, salvo melhor juízo, que tivemos, de 1950 para cá, dois grandes presidentes, Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso, o primeiro promovendo um desenvolvimento muito grande e abrindo o centro-oeste para o resto do país, implantando a indústria automobilística e da construção naval, edificando Brasília e outras conquistas que marcaram o seu alegre e desenvolvimentista governo; o segundo, ao promover a queda e o controle de uma inflação que parecia imbatível, além da seriedade com que atuou em áreas importantes que mudaram a feição do país. Acredito que seu único erro foi estimular o Congresso a votar uma emenda constitucional promovendo o instituto da reeleição, para presidente, governadores e prefeitos, causa de muitos males que ainda perduram e, no caso presente, já é motivo de possíveis desavenças no cerne do atual governo.

No nosso imenso Brasil não há tradição, nem condições satisfatórias, pelo passado político e cultural, para a reeleição; o eleito, desde o primeiro dia de governo, já começa a agir pensando num possível novo mandato, causa de desmandos e corrupção. Talvez fosse melhor retornar ao mandato de cinco anos, sem reeleição, quando o governante teria mais tempo e saberia, desde o início de seu governo, que não poderia disputar um novo mandato.

Até para os cargos legislativos acredito que seria bem melhor que houvesse a possibilidade de apenas uma, ou no máximo, duas reeleições, para o mesmo cargo; o candidato poderia alternar as casas do congresso e não ficaria uma eternidade como deputado ou senador, como vimos com certa frequência.

Evidentemente que são, apenas, opiniões de um brasileiro que acompanha o desenrolar da nação desde os dez anos de idade, com muita vontade e alegria de ver o nosso grande país cada vez melhor e com um povo com mais oportunidades e alegria. Mas tudo isso passa pela “famigerada” política e o fascínio que ela exerce para alguns.