Artigo João Otávio Macedo – FALA DE TEMER


“filho de libaneses que chegou à presidência da república num momento muito delicado; acredito que tenha procurado acertar e muitas de suas ações serão aplaudidas”


A TV Cultura, sediada em São Paulo, tem uma programação diversificada e muito boa, com vários programas interessantes, sem apelar para o sensacionalismo; apresenta um telejornalismo sério e, às segundas-feiras, às 22 horas, tem lugar o programa Roda Viva, sempre com um entrevistado que se submete às perguntas de entrevistadores, a maioria formada por jornalistas. No último dia 16 do corrente, foi a vez de Michel Temer comparecer, o que já havia acontecido tão logo assumira o poder, em 2016. Alguns pontos interessantes foram abordados e o ex-presidente respondeu com muita segurança e elegância, aliás um jeito peculiar desse filho de libaneses que chegou à presidência da república num momento muito delicado; acredito que tenha procurado acertar e muitas de suas ações serão aplaudidas. Infelizmente governou num momento crítico e foi acusado de muitos lances de corrupção que, talvez um dia, o fato seja devidamente esclarecido; se for, realmente, culpado, ocupará a galeria junto aos bandidos que assaltaram os cofres públicos, sem dó nem piedade, principalmente a partir de 2003; se for inocentado, terá lugar garantido em meio aos homens e mulheres que trabalharam, com afinco, seriedade e honestidade. Pela nação brasileira.

Dois assuntos foram abordados, durante a entrevista, um sobre esse imoral número de siglas partidárias que políticos sérios como Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin já se queixavam e, o outro, o velho tema do parlamentarismo que, acaso estivesse em vigor no país, talvez não tivéssemos tantas crises; acredito que, enquanto o assunto parlamentarismo for discutido e decidido via plebiscito, como já ocorreu duas vezes, continuaremos com o modelo presidencialista e as suas constantes e intermináveis crises.

Temer ressaltou que o seu governo foi responsável pela reforma trabalhista, outra transformação importante na relação entre empregado e empregador e que teve vontade de fazer a reforma da previdência, mas o clima não era propício.

Perguntado sobre o que achava da vitória de Bolsonaro o ex-presidente levantou uma tese interessante para explicar a última eleição, ao dizer que o povo brasileiro, num intervalo de mais ou menos trinta anos, resolve mudar tudo,ao que eu acrescentaria que,também no bojo da avalanche dessas mudanças, ocorre o surgimento de líderes populistas e enganadores; Jânio Quadros, Collor e Luiz Inácio são exemples muito próximos do que aconteceu por aqui a partir do início da década de sessenta. Esclareço que o ex-presidente não fez críticas ao atual que, pelo menos até o momento, não enveredou pelos caminhos tortuosos da corrupção.

O ex-presidente Temer mantém o seu velho jeitão de professor, diz-se cerimonioso e tem cuidados na aplicação do vernáculo; além da presidência da república, exerceu cargos importantes como a presidência do PMDB, a presidência da Câmara dos Deputados e a vice-presidência da república antes de assumir a presidência. Afirma, enfaticamente, não ser golpista. A história mostrará se agiu corretamente, principalmente na escolha de alguns colaboradores, afundados na suspeita de corrupção.

Temer salientou que o atual governo está dando continuação a vários empreendimentos que ele iniciou, mas não teve chances de levar adiante.

Estamos, de qualquer modo, em outra fase da história do Brasil, mormente após a operação Lava Jato que, ao implodir uma teia tenebrosa de corrupção, como jamais se viu no país, mostrou que este país-continente é viável e, um dia, estará situado no topo da pirâmide do desenvolvimento.