AS DECLARAÇÕES DE LULA E OS “COMPANHEIROS” DO PARTIDO COMUNISTA


Marco Wense entende que o ex-presidente não está sendo leal ao PCdoB


Nota-se logo no título do comentário que a palavra “companheiros” vem aspeada, o que pode ser interpretado como uma falta de gratidão e respeito do ex-presidente Lula com o PCdoB, que não merece o desdém de quem sempre recebeu o apoio da legenda para seu projeto de poder.

Se tem um partido que foi integralmente justo com o petismo, esse é o PCdoB. Um aliado histórico e fiel. Foram cinco campanhas para o Palácio do Planalto ao lado do postulante do PT. O apoio da legenda na sucessão de Jair Messias Bolsonaro já é dado como favas contadas, 2+2=4.

Em recente entrevista à rede TV, o ex-mandatário do país soltou os cachorros no PCdoB. O alvo principal foi Flávio Dino, governador do Maranhão e maior liderança da sigla. Dino faz um bom governo no Estado que já esteve sob o domínio absoluto da família Sarney.

Lula, com o nítido propósito de enfraquecer o direito legítimo de Dino pleitear uma candidatura à presidência da República, disse, entre outras coisas, provando que a soberba continua intacta, que a prisão não levou a pensar em calçar as sandálias da humildade, que “é difícil eleger um comunista”. Como não bastasse, mais duas alfinetadas nos “companheiros”: 1) “o PT é um partido muito grande se comparado ao PCdoB”. 2) “é muito difícil eleger alguém de esquerda sem o PT”.

Lula pode até ter razão nas suas opiniões, mas não poderia torná-las públicas. Foi um desrespeito com os “companheiros”. Só faltou dizer que os políticos do PCdoB conseguiram seus mandatos às custas do petismo. O que não é verdade. O PT continua se achando, mesmo depois de ter várias lideranças envolvidas em escândalos.

O deputado federal Orlando Silva, do PCdoB, que já foi ministro do Esporte no então governo Dilma Rousseff, não gostou das declarações de Lula. Depois de fazer críticas contundentes, deixou no ar uma pergunta: “Qual a utilidade de reforçar a retórica anti-comunista?”.

Silva lembrou que Lula, pelo fato de Dino ser do PCdoB, considerava impossível sua eleição para o governo do Maranhão. Dino foi eleito sem o apoio do PT e do próprio ex-presidente, que se afastou da campanha como o diabo da cruz.

Sobre os elogios de Lula a Dino, depois do arrependimento pelas declarações, o parlamentar, que já foi líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, fez uma advertência: “O elogio do presidente Lula a Flávio Dino é como um abraço de urso”. Finaliza com um conselho: “Flávio precisa saber o ponto exato de proximidade, ou será esmagado”.

Não são só os partidos da esquerda e centro-esquerda que estão achando o comportamento de Lula estranho. As centrais sindicais que participaram do “Lula Livre” têm demonstrado insatisfação com sua atuação política depois que deixou a prisão, mais especificamente com o encrustado rompante, como se o PT fosse o dono da verdade.

O ex-presidente tem o costume de comparar determinadas situações políticas ao futebol. Orlando Silva preferiu a música. Citou a canção Demorô, de Crioulo, para ilustrar a decepção com o “companheiro” : “Onde falta respeito/A amizade vai pro lixo (…)/Muda essa roupa, corta esse cabelo”.

PS – Vale lembrar que o PCdoB é a única legenda de esquerda que continua atrelada 100% ao petismo. Até o PSOL vem se afastando gradativamente.