Audiência discute Vetor Disciplinar em cinco escolas de Itabuna


Projeto em pauta para votação neste período extraordinário na Câmara


Audiência antecedeu votação do projeto, prestes a acontecer (Fotos: Andreyver Lima)

 Com o plenário da Câmara lotado de professores, diretores e estudantes, uma audiência segunda-feira (20) buscou colher da comunidade o olhar sobre a implantação do Vetor Disciplinar. Afinal, deverá ser votado pelos vereadores neste período extraordinário o projeto (nº 055/2019, do Executivo) que estabelece normas para a gestão compartilhada entre o Município e a Polícia Militar como alternativa por mais segurança em escolas da rede em Itabuna.

Além do IMEAM (Instituto Municipal de Educação Aziz Maron), adotado em 2019 como projeto-piloto, a proposta contemplará outras quatro unidades: CAIC (Centro de Atenção Integral à Criança) Jorge Amado, do bairro Jardim Primavera; Escola Lourival Vieira, em Ferradas; Escola Margarida Pereira, no Pedro Jerônimo; e Escola Flávio Simões, no Califórnia.

O projeto final a ser votado tem, até então, o acréscimo de 22 emendas, assinadas pelos vereadores relatores da matéria, Babá Cearense (PSL) e Beto Dourado (PSDB), mais Júnior Brandão (PT). Professores por formação, Beto e Júnior ponderaram que não gostariam de ver em tela tal interferência no processo educativo.

Brandão ponderou se, ao invés do Vetor Disciplinar, não seria possível adotar modelos de escolas com resultados reconhecidos na cidade. Babá, por sua vez, disse ter ficado claro nas visitas às citadas escolas – e até no entorno delas – o quanto a chegada do Vetor Disciplinar é esperada.

Nomes da política, do controle social e da PM à mesa de discussão

 “Direito de ensinar”

Para a diretora do IMEAM, Wildes Alvarenga, mudanças expressivas foram percebidas na comunidade escolar, a partir do momento em que o referido vetor foi implantado. Citou números para traduzir a nova realidade: eram 437 alunos e hoje são 1.225. “A inserção do vetor foi o grande motivo para a confiança dos pais, está sendo uma parceria valorosa. O lema era pelo direito de aprender; o Vetor garante ao professor o direito de ensinar”, comparou.

Segundo Maria da Conceição Araújo Lagariça, representante do Departamento de Educação Básica, foram selecionadas regiões com mais problemas decorrentes da violência, a fim de definir as escolas com a cooperação entre município e PM. “Foi a solução mais viável no momento e a implantação só vai se viabilizar com a adesão dos pais. Para aqueles que não desejarem, o município garante o acesso até uma escola que não tenha o vetor, inclusive dando vale-transporte”, explicou.

 “Reconstrução da identidade”

O professor Érico José dos Santos, há 18 meses diretor da Escola Margarida Pereira, mencionou a expectativa de mudanças numa unidade em que muitas famílias não podem frequentar por causa da criminalidade. Informou sobre a parceria com grupos de estudo da Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz), a atual retomada da confiança e a consulta que mostra 82,75% dos pais favoráveis ao Vetor Disciplinar naquele colégio.”Os alunos estão vivendo um momento de reconstrução da identidade”, observou.

Jairo Araújo (PCdoB) também lamentou que estejamos num momento de recorrer a tais expedientes, sobretudo por questões de segurança, e chamou a atenção para o impacto financeiro da implantação do Vetor Disciplinar – aproximadamente R$ 300 mil por escola a cada ano. Em contrapartida, o vereador Ronaldão (PMN) lembrou a situação de perigo que tem rondado o dia-a-dia dos professores, o que torna menos importante considerar o impacto financeiro em vista.

 “Respeito ao professor”

A audiência, solicitada pelo já citado Junior Brandão, foi presidida pelo edil Robson Sá (PP), e também teve à mesa a presidente do Conselho Municipal de Educação, Rosemary Santiago, que reconheceu os já corrigidos pontos de ilegalidade no projeto; apontou deficiências como falta de infraestrutura e de equipamentos nas unidades escolares e ressalvou, sobre a complexidade dos fatores causadores da violência: “Estamos levando para a escola uma questão social! E a escola não tem esse poder”.

O capitão Carlos Araújo, representando a Polícia Militar, frisou a importância de o projeto ter tido o envolvimento de quem concorda e de quem discorda. “É importante a participação de todos, durante a aplicação do modelo: professores, pais, alunos. Porque não adianta aplicar um modelo, seja ele qual for, sem a participação de todos os segmentos integrantes desse processo”, sublinhou.

Perguntado se a cooperação envolverá ou não a questão pedagógica, alvo de dúvidas entre as vozes contrárias ao Vetor, ele explicou: “O Policial Militar, à frente do Vetor Disciplinar, ele não influencia na questão pedagógica; o professor é autoridade na sala de aula. Pelo contrário: o militar trabalha para que o professor tenha tranquilidade para transmitir os seus ensinamentos. O Vetor Disciplinar é só pra reforçar o respeito ao professor. A gente não é nada sem um professor”.

 Pais e professores

Já a mãe Ane Carina Assis dos Santos, que tem um filho estudando no IMEAM, ressaltou o quanto é importante os pais se fazerem presentes no processo educativo – o papel deles vai além da responsabilidade com seus próprios filhos. “O jovem na porta da escola também precisa da nossa ajuda”, alertou.

A mesma opinião foi compartilhada pela diretora do Caic, Stella Soares. Ela referiu-se ao fato de a escola estar numa grande zona de vulnerabilidade e assinalou: “Não é que os professores não dão conta; é que não têm os pais para acompanhar. Estamos esperando ansiosos esse vetor para nos ajudar”.

Por fim, o educador e ativista Egnaldo França, fundador do grupo Encantarte, fez uma crítica, que considera valer para todos: “Estamos na era da terceirização porque os pais acham que é dever do professor educar e o professor está achando que é dever da polícia disciplinar”.