Biofábrica celebra resultados favoráveis e busca inovação



Dia de Campo Ibicaraí
Lanns Almeida (à esquerda), acompanhado de produtores, num Dia de Campo em Ibicaraí

Por Celina Santos

 

O Instituto Biofábrica de Cacau, que atende desde agricultores familiares até grandes produtores, projeta um encontro cada vez maior com a modernidade, através da tecnologia e da inovação. Há seis meses à frente daquela Organização Social (OS), o engenheiro agrônomo Lanns Almeida aposta em uma gestão programática e tem uma meta objetiva: “o maior desafio é fazer a Biofábrica chegar ao século 21”. Para ele, não se pode desconsiderar um cenário em que o ramo agrícola cresceu mais de 20% no último período, apesar da crise econômica que atingiu os demais setores no país.

Para “chegar ao século 21”, Almeida percebe a necessidade de um espaço interno de inteligência. “Que a gente consiga ter informações geradas pela Biofábrica e disponibilizadas para a sociedade”, esclareceu. Outro desafio citado por ele é “aumentar a produção, principalmente com a diminuição do uso de água e demais recursos naturais”. “Hoje, se todos os viveiros estiverem em produção, pode usar muita água diariamente. Não adianta produzir e continuar impactando. Precisamos aumentar com eficiência e eficácia. Esse é, na verdade, um dos maiores desafios da agricultura como um todo”, ilustrou.

Desde que assumiu a presidência do instituto, o agrônomo dedicou-se ao diálogo com instituições, para formar parcerias. “Primeiro, a Biofábrica é uma filha da Ceplac. Todo conhecimento que temos de produção – científico e técnico – nos é aportado através dela. Temos uma relação fraterna, paterna, materna…”, afirmou, mencionando os diretores Sérgio Murilo, Adonias de Castro e o superintendente Carlos Alexandre.

Festival do Chocolate
Recepção ao governador Rui Costa, no 8º Festival Internacional do Chocolate e Cacau

Lanns Almeida referiu-se, também, ao contato estreito com as secretarias estaduais de Desenvolvimento Rural (secretário Jerônimo Rodrigues) e Agricultura (Vitor Bonfim), CAR (Companhia de Ação Regional), além de sindicatos, movimentos sociais, Uesc, UFSB, IfBaiano, IFBa, Instituto Cabruca, Bahiater, Teia do Povos, entre outros.

Segundo ele, o propósito é compartilhar conhecimentos. “Pensamos em fazer uma Casa do Saber na Biofábrica, para ser uma residência de graduação e pós-graduação. Precisamos estar abertos para absorver novas tecnologias, ajudar na geração e massificação de tecnologia, difundir e inovar. Precisamos abrir as portas e dar as condições para que professores, agricultores, agricultoras, graduandos e pós-graduandos tenham a oportunidade de fazer ciência”, declarou, dando uma ideia do que representa esse novo perfil da organização.

 

Cacau e biodiversidade

Como já é de conhecimento público, a estiagem dos últimos 11 meses afetou a cacauicultura no sul da Bahia. “A Ceplac aponta a morte de algo em torno de 13 milhões de pés de cacau, mas pode ser ainda mais”, estimou o diretor-presidente da Biofábrica. Entretanto, ele ressalva ser o cacau o cultivo principal no instituto. E os resultados obtidos na região com a comercialização do chocolate de origem reforçam a necessidade de zelar ainda mais pela qualidade do produto. “Não podemos ter bom chocolate sem bons cacaueiros”, frisou.

Almeida lembrou, também, o quão importante foi a Cabruca para preservar quase 600 mil hectares de Mata Atlântica e manter a biodiversidade da região, considerada uma das maiores do mundo. “A Cabruca é o sistema mais moderno de produção tropical no mundo. Nela não tem só o cacau; tem palmito, cupuaçu, seringueira, jaca, serviços ecossistêmicos (ambientais), a possibilidade do turismo rural, turismo de esportes radicais… As gerações passadas tiveram um papel extremamente importante para fazer a cacauicultura chegar ao momento atual”, reconheceu.

 

Programas desenvolvidos

A capacidade instalada da Biofábrica é de 26 milhões de mudas por ano. O estado compra 3,5 milhões, o que gera um faturamento de R$ 3,3 milhões a cada 12 meses. Porém, a gestão vislumbra a possibilidade de atrair novos clientes, inclusive da iniciativa privada, dada a demanda, e chegar a um faturamento de R$ 6,2 milhões.

“Nossa meta é elevar essa capacidade de 26 milhões para 50 milhões de mudas, porque há uma demanda reprimida do setor privado. Temos feito o diálogo com os sindicatos rurais, com a FAEB [Federação de Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia]. Mas nosso centro de existência é a agricultura familiar”, assinalou Lanns.

Ele explicou que o estado compra as mudas, que são subsidiadas, e a Biofábrica faz a distribuição para os agricultores familiares que tenham DAP [Declaração de Aptidão ao Pronaf], que identifica o agricultor familiar. Ressaltou, ainda, que está sendo feito um trabalho de divulgação do instituto, para mostrar que a oferta vai muito além do cacau. Atualmente, há quatro programas específicos em funcionamento: Cacau e Frutíferas (coordenado por Lanns Almeida); Florestal (sob a coordenação do engenheiro Maurício Galvão); Reniva (com Roberto Gama à frente) e Laboratório (coordenado por Hepitágoras Gonçalves).

“A Biofábrica tem a possibilidade de produzir a seringueira, o dendê, as essências florestais (pau-brasil, olho de pavão, cajá, ipê amarelo, cedro rosa …). Somos um dos únicos viveiros e laboratórios do país certificados para produzir mandioca. E fornecemos serviços, como certificação de outros viveiros, implantação de jardins clonais, produção de hastes, logística para envio de mudas para qualquer lugar do país, serviço de atendimento ao produtor…”, enumerou, sobre o trabalho desenvolvido numa área de 59 hectares.

 

Certificação e dias de campo

Ao mesmo tempo em que planeja a busca de recursos da iniciativa privada, para alcançar objetivos como a reforma do parque fabril, Lanns Almeida não perde de vista a importância de obter as certificações necessárias, para atestar a qualidade da Biofábrica. “Temos certificações a partir da parceria com a Ceplac, com o Ministério da Agricultura, através da Superintendência de Fiscalização Agropecuária, com a Embrapa e Adab, que é da Secretaria de Agricultura. Mas também precisamos certificar nossa gestão administrativa”, detalhou.

Ele adiantou, por fim, que o instituto já identifica demandas de outros estados, como Tocantins e Piauí (mandioca), Pará (cacau), norte do Espírito Santo e extremo-sul da Bahia (mandioca), oeste da Bahia (cacau). “A Biofábrica precisa estruturar uma rede de outros viveiros; sozinha não vai conseguir dar vencimento na demanda de muda e semente no estado”, ressalvou.

Uma espécie de “feed-back” com os produtores é o resultado dos dias de campo, constantemente promovidos em várias cidades. “A Biofábrica não pode se contentar em dizer: ‘produzi um milhão de mudas’; ela precisa ter certeza de que esse milhão de mudas foi para a mão do agricultor e gerou frutos, que foi bem produzida e bem acompanhada. Precisamos ter certeza de que a nossa muda serviu para melhorar a qualidade de vida de uma família, de uma agroindústria, de uma cooperativa, de uma associação”, justificou Almeida.

 

Perfil

Lanns Almeida é formado há 13 anos pela Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz), já foi secretário de Agricultura de Itabuna, com atuação anterior na CAR (Companhia de Ação Regional) e na FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).