A candidatura de Ciro é irreversível



Ciro Gomes

O sonho do Partido dos Trabalhadores é ter Ciro Gomes (PDT) como vice de Luiz Inácio Lula da Silva na sucessão presidencial de 2018.

Uma missão impossível. A candidatura do ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda do então governo Itamar Franco é irreversível.

A cúpula do PT fica mandando recadinhos pela imprensa, mais especificamente pelo jornal digital Brasil 247, convidando Ciro para compor a chapa majoritária.

Para alimentar alguma esperança, os petistas oferecem como contrapartida um “se”. Ou seja, se Lula ficar inelegível, em decorrência da Lei da Ficha Limpa, o PT apoiaria o pedetista.

Ciro seria o candidato do PT com Jaques Wagner ou Fernando Haddad como vice. E mais: fariam alianças em algumas unidades federativas visando o governo estadual e o Senado da República.

Confesso que não sei o que passa pela cabeça de Carlos Luppi, presidente nacional da legenda brizolista, sobre essa iniciativa do petismo.

Ora, o PT não deveria lançar candidatura própria. O apoio a Ciro, logo no primeiro turno, seria um gesto de grandeza, retribuindo tudo que o PDT fez por Lula.

O PT esquece que Leonel Brizola engoliu o “sapo barbudo” por várias vezes, no momento que a legenda e Lula estavam desamparados, eram considerados como uma ameaça ao Brasil.

Vale lembrar que o saudoso e inesquecível Leonel Brizola, hoje em um lugar chamado de eternidade, e em um canto reservado para os políticos decentes, foi vice de Lula na eleição de 1998.

Outro detalhe é que o então presidente Lula passou quatro anos, no seu segundo mandato, dizendo a Ciro que ele seria o seu candidato na sucessão. Voltou atrás e indicou Dilma.

Lula, não de público, mas nos bastidores, longe dos holofotes, em conversas reservadas, admite que o segundo governo de Dilma Rousseff foi um fiasco.

Mas como queria ser presidente pela terceira vez, e sabia que Ciro faria um grande governo e seria reeleito, colocou Dilma como um instrumento para facilitar sua volta ao poder.

Portanto, resta ao PT, volto a repetir, um gesto de grandeza e não de sabedoria, sob pena de ficar na história como um partido que só pensa nele.

A candidatura de Ciro Gomes é favas contadas e para ganhar. É, sem nenhuma dúvida, o candidato mais preparado de todos. Não à toa o temor dos adversários com os debates.

Antes era uma impressão, agora é a constatação de que a campanha de Ciro vem crescendo a cada dia, principalmente entre os formadores de opinião e os estudantes universitários.

Os petistas têm que guardar suas energias para outras missões, vão precisar delas lá na frente. Fica mais fácil convencer o PCdoB de não ter candidatura própria.

Gleisi e Lula em caminhos diferentes

Luiz Marinho, que é o presidente estadual do PT de São Paulo e pré-candidato ao governo paulista, não iria dar declarações polêmicas sem antes consultar Lula.

Marinho andou pregando a aliança do PT com partidos que defenestraram Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, entre eles o PMDB de Temer, Romero Jucá, Geddel, Renan Calheiros, Eunício Oliveira, Moreira Franco e companhia Ltda.

Marinho defende, assim como Lula, que os “golpistas” sejam perdoados, que o impeachment é coisa do passado, não pode atrapalhar os planos do PT para retornar ao comando da presidência da República.

O Partido dos Trabalhadores já estaria apalavrado com Renan Calheiros em Alagoas, com Eunício Oliveira no Ceará e fazendo composições com o PMDB em mais quatro estados.

Mas aí veio a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, e colocou água no chopp de Marinho, adepto fervoroso do perdão aos “golpistas”.

Gleisi divulgou um texto em suas redes sociais defendendo a decisão do partido de se aliançar com legendas e grupos de esquerda.

Como o confronto de Hoffmann foi com um companheiro hierarquicamente abaixo dela, vamos ver como será a reação do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma Vana Rousseff continua em silêncio, sem tomar nenhuma posição, assumindo assim uma postura, digamos, atucanada, obviamente ao modo PSDB.

Preocupados devem estar os pré-candidatos peemedebistas lá do Nordeste, doidos para pegar carona na popularidade de Lula na Região.

Se o PT escolher o caminho do pragmatismo, do vale tudo para alcançar seus objetivos, estará dando mais um passo para piorar a sua já desgastada imagem.

O ex-presidente Lula, que pode ficar inelegível em decorrência da Lei da Ficha Limpa, ainda não deu nenhuma declaração sobre a “rebeldia” de Gleisi Hoffmann.

Não se sabe ainda o que pensam o governador Rui Costa e o ex Jaques Wagner sobre esse reencontro do PT com as legendas que protagonizaram o “golpe”.

É incrível como o PT não aprendeu a lição. Parece sentir uma inominável saudade dos tempos que governava com a turma do PMDB.

O óbvio ululante de ACM Neto 

O prefeito de Salvador, ACM Neto, uma das principais lideranças do DEM nacional, disse que sua candidatura “é a mais forte da oposição”.

Para ser mais sincero, o alcaide deveria dizer que o oposicionismo não tem outro nome competitivo para enfrentar o governador petista Rui Costa (reeleição).

O que não acontece no governismo, que além do chefe do Executivo, tem Jaques Wagner e o senador Otto Alencar, que é o presidente estadual do PSD.

Se algum acidente de percurso impedisse a candidatura de Rui, o substituto imediato seria Wagner. O PT não abriria mão para um outro nome que não fosse da legenda.

Dificilmente Otto seria o candidato da situação, já que seu partido, o PSD, além de ser aliado do presidente Temer, participando do Centrão, pode ter candidatura própria com Henrique Meirelles, ministro da Fazenda.

Há também uma parcela significativa no petismo – na sua cúpula, não só da Bahia como nacional – que não confia no senador.

ACM Neto só disputará o comando do Palácio de Ondina se enxergar alguma chance de derrotar Rui Costa. Do contrário, o melhor conselho é permanecer na prefeitura ou, então, ser candidato a vice-presidente da República em uma chapa com possibilidades de vitória.

Se ACM Neto decidir lançar seu nome para concorrer na sucessão estadual de 2018, é porque tem informações de que pode ganhar.

Que ACM Neto é o mais forte da oposição, ninguém contesta, nem mesmo os adversários. Diria até que o alcaide soteropolitano é o único.

Quem vai mandar é o Centrão

Um presidente da República refém de um grupo político faminto por cargos, querendo empregar parentes e correligionários no governo, é o fim da picada.

É o tal do Centrão, formado pelo PP, PR, PTB e o PSD. Os líderes desses partidos na Câmara Federal e no Senado são os encarregados do toma lá, dá cá.

“Ou muda (o Ministério) ou não vota mais nada aqui”, diz o deputado alagoano Arthur Lira, líder da bancada do PP, a quarta da Câmara com 45 parlamentares.

Lira se refere, mais especificamente, ao PSDB, que tem quatro ministérios. Alega que os tucanos, na votação da segunda denúncia contra o chefe do Executivo, por obstrução de justiça e organização criminosa, ficaram divididos.

Outro detalhe é que a cúpula do tucanato ensaia uma saída “honrosa” do governo, fugindo assim da impopularidade de Temer em plena véspera de uma eleição.

O Centrão só pensa em se beneficiar e usufruir das benesses inerentes ao poder. A tal da governabilidade termina facilitando o fisiologismo, a parte podre das relações políticas.

O Centrão não é uniforme, não tem posição política, convicção, enfim, nada que possa identificá-lo no campo ideológico. O Centrão é o toma lá, dá cá.

Na Bahia, o PP, PR e o PSD são aliados do governador Rui Costa, que é do PT de Lula. O PTB é parceiro do prefeito ACM Neto, que é do DEM de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos deputados.

Rui e Neto, no entanto, sabem que não podem contar com a certeza de que essas legendas vão mesmo apoiar suas candidaturas ao Palácio de Ondina.

Quem hoje se encontra do lado do governador, pode amanhã ficar com o alcaide soteropolitano e vice-versa. Basta ser contrariado em alguma reivindicação, algum pedido.

O Centrão vem dando às cartas no jogo pelo poder, principalmente lá em Brasília. Em alguns estados da Federação estão unidos, na base do “um por todos, todos por um”.