COLUNA DE MARIANA BENEDITO – Quem é você?


"A gente se identifica demais com os rótulos que recebemos ao longo de nossas vidas"


É isso mesmo. Quem é você? Pode parecer uma pergunta bem simples e fácil de responder. Mas se eu te propor responder essa pequenina questão sem que você diga seu nome, onde ou com o quê trabalha, onde mora, quantos anos tem e de quem é filho? Hein?

Quem é você antes de tudo isso? Somos seres constituídos a partir de influências externas. Quando somos crianças, recebemos um nome, uma família, uma educação, conceitos de certo e errado, valores, condutas. Todos são aspectos externos a nós e nossa personalidade vai sendo criada a partir de cada coisinha que nos é dita, mostrada, entendida, assimilada. Quantas pessoas a gente vê por aí que seguem as mesmas carreiras profissionais dos pais, por exemplo? Cresceram naquele universo, em meio àqueles exemplos, estabeleceram ideais baseados naquilo que foi apresentado a elas. A nossa história é, em grande parte, escrita por outros personagens. E eu, querido leitor, acredito piamente que a gente começa a escrever a nossa história, a próprio punho, quando despertamos para os rótulos daquilo que somos.

O que você gosta mesmo de fazer? O que te dá prazer e, como diz o líder espiritual Osho, o que faz seu coração vibrar? De verdade. Quais são seus sonhos? Os seus desejos, as suas vontades? Você, com você. Aquela resposta que surge de primeira, de pronto, no ato da pergunta; antes de pensar em mudar, adaptar – ou até mesmo desistir – porque junto dessa primeira resposta, vem também aquelas velhas vozes sabotadoras.

Quando a gente viaja sozinho, de avião ou ônibus, e não deseja ficar ouvindo a conversa dos passageiros no assento de trás, nem a criança dando uma crise de calundu, porque queria comer doce e a mãe não permitiu, no assento da frente, a gente prontamente coloca um fone. Não ouve mais as vozes externas. Se concentra e se conecta com o som que deseja. E é exatamente isso que a gente precisa fazer para responder às perguntas lá de cima: tampar os ouvidos para as vozes que dizem quem somos e ouvir apenas a voz que fala internamente.

A gente se identifica demais com os rótulos que recebemos ao longo de nossas vidas e nos esquecemos, cada vez mais, de quem somos, da nossa essência. É um constante movimento de reação: alguém nos rotula, a gente reage para provar que não é aquilo; mas no fato de precisar provar, a gente já se identificou. Percebe? Quando a gente precisa provar algo para alguém, é porque a gente precisa provar para a gente mesmo primeiro. E à medida que vamos permitindo que os outros pincelem rótulos, histórias, concepções em nossa tela, nos distanciamos dela em branco.

Quem é você de verdade?

Antes de tudo isso que te disseram que você é.

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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