Como assim você faz terapia?!



 

Mariana Benedito*

 

Existe uma grande nebulosa que envolve a psicoterapia. Muitas pessoas acreditam que o terapeuta é alguém que vai resolver todos os problemas e dilemas do paciente com soluções mágicas, sem que haja nenhum tipo de esforço e entrega no processo terapêutico; outros já acreditam no extremo oposto: que o terapeuta é alguém que se limita a ouvir, sem ser agente ativo na terapia. O papel do terapeuta não é dar respostas ou opiniões; mas, sim, ajudar o próprio paciente a encontrá-las, à medida que ele mesmo vai conhecendo melhor seu interior, sendo possível explorar suas luzes e sombras e, mais importante, aprendendo com elas.

A terapia não é, de maneira alguma, exclusiva para quem tenha um tipo de transtorno psíquico. É uma ferramenta importantíssima para todos nós, porque propicia que analisemos nossos problemas, dores, faltas, anseios a partir de outro ponto de vista, de outra perspectiva que, muitas vezes, não conseguimos enxergar sozinhos. Além de que nós não somos imbatíveis. Devido à natureza cíclica da vida, passamos por diversas situações, traumas, momentos delicados e difíceis com os quais não conseguimos lidar e enfrentar, o que nos leva a sofrer, enlutar, reprimir, entristecer, evitar, e isso é absolutamente normal, faz parte da essência humana, independentemente se a infância foi traumática, tranquila ou extremamente feliz. O mais importante é entendermos – o quanto antes – que a saúde da nossa mente é tão fundamental quanto a saúde física. Até mesmo porque quando algo não vai bem dentro de nossa mente, tudo se refletirá no mundo externo, afetando diretamente o modo como sentimos a vida, a forma como nos relacionamos conosco e com as outras pessoas.

Uma grande dúvida que surge também é com relação aos tipos de psicoterapia, a diferença entre Psicologia Comportamental e Psicanálise. A diferença fundamental entre as duas abordagens é que a Psicologia Comportamental foca na resolução do sintoma, enquanto a Psicanálise foca na investigação de sua causa. Para facilitar, vou dar um exemplo. Digamos que você, que está lendo esta coluna, tenha medo de dirigir, não consiga de maneira alguma se sentir seguro ao volante e, de repente, surge uma oportunidade de emprego fantástica em que um dos requisitos básicos é justamente dirigir. Existe um curto prazo para que você perca o medo e possa se candidatar à vaga. Nesse caso, existe um sintoma: medo de dirigir. Recorrer à Psicologia Comportamental é o mais viável, no momento, já que o terapeuta trabalhará especificamente o seu medo e buscará meios para que você possa superá-lo. Porém, no nosso inconsciente existe uma coisa chamada pulsão, que é nada mais, nada menos do que uma energia psíquica que aciona nosso medo. Então, após recorrer a uma terapia comportamental e sanar o medo de dirigir, é provável que esse medo se desloque para outra coisa, ou até mesmo retorne futuramente com algum tipo de agravante. Eis que surge a Psicanálise. A abordagem busca investigar o porquê do seu medo, de onde ele vem, o que provocou, qual a causa e origem dele. Daí porque a análise é mais demorada e mais profunda, porque é um processo de investigação do inconsciente, já que busca jogar luz em cima daquilo que tentamos esconder, não queremos ver ou até mesmo nem saibamos a força com que tal conteúdo age em nossas vidas. Entendendo a causa do medo, vendo-o por uma outra perspectiva e dando um novo significado a ele, é altamente possível que ele seja sanado definitivamente, que a pulsão seja dissolvida.

Então, a psicoterapia é para todo mundo que se dispõe a aprender e conhecer mais sobre quem é, como e por que reage de determinada forma diante de situações e pessoas, quais condicionamentos o moldaram para ser a pessoa que é, para que tenha, de fato, melhores perspectivas sobre a vida em todos os seus aspectos. É um mergulho de autoconhecimento, muitas vezes não tão confortável, porque passamos muito tempo nos protegendo de acessar algumas dores, eventos que possam ter nos marcado de forma efetiva. Todos nós temos capacidade de realizar este mergulho interno, a grande chave é se entregar ao processo, se permitir, entender que está diante de um profissional que se qualificou para auxiliar, orientar e fazer com que este mergulho aconteça da melhor maneira possível.

 

* – Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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