“Como prefeito, não é desilusão, mas minha vida pública se encerra”, anuncia Vane



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Vane: “Fernando Gomes vai receber a prefeitura muito melhor do que eu peguei” (Foto: Diário Bahia)

 

Por Celina Santos

 

Com voz mansa, aparentando calma e um tom conciliador, o prefeito de Itabuna, Claudevane Leite, se esforça para expor, em detalhes, o que conseguiu realizar na gestão. “Aumentamos todos os procedimentos SUS em 30% – de laboratório a ressonância magnética; exames como oftalmo aumentaram em 200%; atraímos empresas, como a Tel Informática, com 1.300 pessoas trabalhando; o SineBahia já intermediou a contratação de 3 mil pessoas”, exemplificou. Vane admite que o governo falhou ao não fazer os devidos investimentos na comunicação e garante não passar de boato a ideia de que ele não sabe comandar.

Qual a principal conquista e a principal falha do seu governo?

A principal conquista foi sanear as finanças; pegamos uma Prefeitura onde se devia R$ 500 milhões, onde 83% que entrava era folha. Eu faço uma conta rápida: 83%, com o duodécimo da Câmara, que são mais 6%, dá 89%. Me sobravam 11%. Foi assim que eu peguei a prefeitura. Pouca coisa em Itabuna funcionava. Saneamento precário, pavimentação também, o Hospital de Base era chamado ‘Casa da Morte’ … enfim, muita coisa pra fazer, um grau de endividamento incrível, aliado à pior crise econômica da história do país. Esse foi um desafio monstruoso, porém, foi minha maior conquista.

Por quê?

Porque fizemos gestão. O lixo da cidade era um milhão de reais, eu reduzi para R$ 600 mil; combustível eu reduzi para metade do que se gastava, porém, com mais máquinas trabalhando; até o final de 2016, consegui baixar a folha em 30%. A volta do Comando Único também me fez baixar, mas eu, efetivamente, consegui baixar em mais de 20%. Por conta disso, conseguimos que a prefeitura respirasse e fizesse investimentos. Só um adendo: baixamos a folha sem prejudicar a o servidor, que teve ganho real nesses três anos. Também tivemos uma melhoria no Hospital de Base, em todos os sentidos e criamos os maiores programas sociais da história da cidade.

E qual foi a principal falha?

Nossa maior falha talvez tenha sido não conseguir comunicar isso à cidade. A gente conseguiu muitos avanços em todas as secretarias, mas muita gente não sabe do que a gente fez. Muita gente não sabe que a gente foi a gestão que mais reformou e ampliou escolas e postos de saúde; melhorou muito a mobilidade urbana da cidade – não só o fluxo, mas principalmente a segurança do trânsito. Derrubamos uma escalada de violência no trânsito de Itabuna; reduzimos em 50% o número de acidentes.

Muitos dizem que seu governo foi dividido entre dois “nichos de poder” – um dos evangélicos, outro do PCdoB. O que o senhor diz sobre essa avaliação?

Não, nunca aconteceu isso. Itabuna sempre tem esses boatos. Na realidade, o governo foi comandado pelo prefeito Vane. Não houve brigas no Centro Administrativo…

Nem veladas?

O que a gente sabe de real é que às vezes há um desentendimento, mas uma divisão no governo nunca existiu.

Seu sucessor, Fernando Gomes, ganhou a eleição destacando a capacidade de “mandar”. Essa característica lhe faltou?

De forma nenhuma. Eu tenho uma maneira de diferente de mandar; quem manda não precisa dizer que manda, não precisa xingar a mãe de ninguém. Quero que em algum momento a imprensa, que sabe tudo, investiga tudo, diga qual foi uma situação que eu mandei fazer uma coisa e fizeram outra. Desconheço um fato nesse sentido. É como Ubaldo Dantas. Pra mim, nos últimos anos, foi o melhor administrador da cidade. Claro que administrou num momento diferente, com recursos, e falaram que não morava em Itabuna. Com a gente, essa questão caiu muito [por dizerem] que a gente não manda na prefeitura. E só faz uma licitação de transporte público quem manda; só regulamenta o mototaxista quem manda; fui prefeito que mais trocou secretário. De Saúde eu troquei dois do PCdoB. Nada contra o partido, mas os secretários não foram ao encontro do que eu queria e eu troquei.

O senhor se compara a Ubaldo em quê?

Não, eu falo dos boatos. Dizem que eu moro no Jardim das Acácias, já me deram três casas lá. Falo nesse sentido. Ubaldo ia pra Brasília buscar recursos e ficou uma fama de que ele não morava em Itabuna. Assim também tentaram pregar a fama de que eu não tinha comando na prefeitura.

O PCdoB foi muito forte na sua campanha, inclusive para viabilizar recursos. O senhor considera que deu o espaço correspondente a essa participação?

Digo que sim, porque não houve reclamação com relação ao PCdoB e nenhum [outro] partido que fez parte da base. Eles estavam satisfeitos com aquilo que a gente pôde dar. Então, o PCdoB teve o espaço dele, os outros também tiveram e a gente não teve nenhuma dificuldade com relação a isso.

Todos os seus secretários tiveram autonomia para tomar decisões sem lhe consultar?

Não. Eu sou prefeito e tenho tudo pra resolver. Tivemos um secretariado, na sua essência, técnico. Dei autonomia, mas nunca dei ‘carta branca’ a ninguém. E nenhum secretário avançou o sinal; nenhum tomou decisão sem estar em sintonia com o prefeito.

Do que o senhor se arrepende?

Com sinceridade, não tenho muitos arrependimentos. Temos algumas tristezas, porque não pudemos fazer mais. Mas não me culpo, porque fiz o que pude. Tive reconhecimento a nível nacional. A revista Isto É fez um ranking dos municípios e Itabuna ficou no grupo seleto dos 10% mais bem administrados do Brasil; a cidade ficou entre as 12 do país que mais investem em Educação e Saúde. A Firjan, que faz um ranking há mais de uma década, pegou 2013, 2014 e 2015 e eu consegui avançar mais de 1.500 posições. Temos prêmios importantes. Itabuna é a cidade mais transparente da Bahia; quem coloca é a CGU [Controladoria Geral da União]; fui considerado ‘Prefeito Empreendedor’ da Bahia, uma premiação fantástica! Fui a Brasília representar a Bahia. Esse prêmio foi porque criamos a Sala do Empreendedor, que fazia um trabalho itinerante nos bairros; saímos de menos de mil para 7 mil microempreendedores formalizados. Os programas da Ficc e de esporte me deram também uma premiação nacional, por um grande programa de combate às drogas.

Após dois mandatos na Câmara e ter chegado à Prefeitura com expectativa grande do itabunense, fica uma interrogação: A experiência como prefeito lhe frustrou a ponto de querer esquecer a política e cuidar só da vida pessoal?

Não, não me frustrou; pelo contrário. Agora, a vida pública é cansativa porque as pessoas nivelam você por baixo. Não todas. Fizemos uma pesquisa para avaliação pessoal do prefeito e a cidade aponta duas qualidades. Uma delas é que eu sou honesto, a segunda é que eu sou trabalhador. Então, não fiquei frustrado.

Mas o fim deste mandato encerra também sua carreira política?

Não quero mais. Eu acho que cumpri meu papel. Como vereador, fiscalizei, fiz denúncias, propus e aprovei projetos importantes para a cidade… como prefeito, não é desilusão, mas minha vida pública se encerra. Quem entra pobre e sai rico da vida pública só tem um nome: ladrão. Como não sou, vou continuar a trabalhar. Eu vou tirar um mês pra descansar e estou analisando alguns convites. Há também a possibilidade de fazer um trabalho missionário, fora de Itabuna.

Exatamente como Fernando Gomes vai receber a prefeitura no dia 1º de janeiro?

Muito melhor do que eu peguei. Não só em relação às finanças, mas o hospital de Base funcionando, os programas sociais. Temos planejamento e estamos trabalhando pra não deixar dívida nenhuma ou o menor possível. Os salários estão em dia e vamos pagar todos os nossos fornecedores. Vão ficar problemas muito pequenos.