De volta ao passado



Das duas, uma: ou o PT não aprendeu a lição ou protagoniza um cinismo que vai ficar na história da legenda como o fato mais negativo da sua existência.

O Partido dos Trabalhadores, com o aval da sua maior liderança, o ex-presidente Lula, já faz planos para se aliar com os mesmos de sempre, com a banda podre da política.

Esse, digamos, saudosismo petista-lulista se reaproxima da velha e carcomida política, dos políticos representantes do vergonhoso toma-lá-dá-cá.

O PT parece sentir saudades das negociações em nome da governabilidade, que terminaram provocando escândalos como o petrolão, mensalão e outros.

A desculpa para o retorno das alianças é a “vendeta neoliberal”, que é preciso se juntar para evitar o desmonte do Estado brasileiro em decorrência das privatizações do governo Temer.

Os companheiros e as legendas de esquerda que não aderirem ao chamamento de Lula, serão taxados de radicais, sectários, integrantes da chamada “esquerda moralista”.

O PT e Luiz Inácio Lula da Silva, sem demonstrarem nenhum tipo de constrangimento, já estão de mãos dadas com o conhecidíssimo senador Renan Calheiros, trocam elogios e dividem o mesmo palanque.

É o Renan mesmo, o que responde a 13 – coincidentemente o número do PT – investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima do Poder Judiciário.

É o Renan mesmo, o Renan Calheiros investigado no âmbito da Operação Lava Jato por ter recebido cerca de R$ 90 milhões de propinas.

Pois é. O PT gostou das companhias de quando governava o país. Pelo andar da carruagem, não será surpresa um namorico com o também conhecidíssimo Eduardo Cunha.

O PT não se importa com o “diga com quem tu andas e eu te direi quem tu és”. Passa a ser adepto do “os fins justificam os meios”.

O escritor inglês Aldous Huxley dizia que “os fins não podem justificar os meios, porque os meios usados determinam a natureza do fim que é alcançado”.

Como o silêncio diante da aliança Lula-PT-Renan foi ensurdecedor, pressupõe-se então que a militância aderiu ao maquiavelismo ao modo petista.

De volta ao passado. Um filme que parte respeitável do PT não quer mais assistir.

O mensalão tucano

A decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) de manter a condenação do ex-governador de Minas e ex-senador Eduardo Azeredo (PSDB) não foi uma boa notícia para o PT.

Parece estranho, mas é verdade. O discurso de que a Justiça só enxerga Lula, deixando os tucanos impunes, perde consistência.

A estratégia é atraente do ponto de vista eleitoral. O eleitor brasileiro, na sua grande maioria, detesta “perseguição”. Quanto mais tucano engaiolado, pior para Lula.

O processo que sentenciou Azeredo a 20 anos de prisão, pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro, diz respeito ao mensalão tucano.

O PT agora torce para que não aconteça com Aécio Neves o mesmo que ocorreu com Azeredo. O PT quer Aécio livre, leve e solto.

Com efeito, cresce a parcela do eleitorado que vai votar em Lula porque ele está sendo perseguido, que os outros envolvidos no lamaçal têm tratamento diferenciado por parte da Justiça.

Se o tucano Azeredo fosse absolvido pelo TJ-MG, o discurso da perseguição voltaria com toda força e, como consequência, alguns pontinhos para Lula nas pesquisas de intenções de voto.

O PT e os aliados     

A solidez ideológica do petismo é coisa de priscas eras. Começou a desmoronar quando o partido chegou ao topo do poder político.

Quem representa hoje o PT de antigamente, tido como puro e defensor intransigente da ética, é o PSOL, pelo menos por enquanto.

Há muito tempo o PT deixou de ser PT. No Palácio do Planalto fez o que dizia que nunca faria, jogando na lata do lixo todo o discurso assentado na moral e no respeito pela coisa pública.

Vem agora Everaldo Anunciação, presidente estadual da legenda, e diz que “não há, além do PT e do PCdoB, organização com consistência ideológica à esquerda e peso político”.

Em relação ao “peso político”, tudo bem. O PT com a inquestionável liderança de Lula e o PCdoB com sua aguerrida militância.

Mas falar de “consistência ideológica” depois de tudo que aconteceu com o Partido dos Trabalhadores e suas principais lideranças, é forçar a barra.

O PT, em nome da chamada governabilidade, vendeu a alma. Fez aliança com o diabo. Enterrou a coerência, os princípios. O maior inimigo do PT foi o próprio PT: o PT versus PT.

E como não bastasse, Everaldo ainda coloca o PDT e o PSB nos seus devaneios, quando diz que essas agremiações partidárias têm “variações a cada momento”.

Ora, ora, quem é o campeão de “variações”, de mudanças no comportamento, de ficar irreconhecível perante o eleitorado, é o PT.

Quem ficou também esperneado com Everaldo, ex-ceplaqueano e ex-vereador de Itabuna, foi Domingos Leonelli, secretário-geral do PSB: “Não foram o PSB e o PDT que lideraram a esquerda para a lama de alianças com Sarney, Maluf e Jucá”.

Não se faz política com soberba e nem destratando os aliados. É bom lembrar que o prefeito ACM Neto (DEM) não é um adversário qualquer.

Fica parecendo que o “já ganhou” voltou de novo, que a reeleição do governador Rui Costa é favas contadas, que não precisa do apoio de outras legendas.

Jogaram na sarjeta

O meu parceiro no blog O Busílis, Marcos Vinícios, professor da Uesc e analista de economia, tem razão quando diz que “a reforma política deveria ser a mãe de todas as reformas”.

E mais razão ainda ao afirmar que essa que se encontra na Câmara dos Deputados “não passará de mais uma mera reforma de fachada”.

É lamentável a maneira como esses “homens públicos” conduzem a indispensável mudança no sistema político-eleitoral.

Esperamos muito tempo para que a reforma política fosse colocada em pauta na Casa Legislativa. Fiz vários e seguidos comentários sobre sua importância.

De maneira até contundente, escrevi que a prostituição do toma-lá-dá-cá e a sem-vergonhice só teriam um fim com sua efetiva implantação, com profundas alterações na legislação eleitoral.

Agora, depois de tanto tempo mantendo a esperança acesa, vem os parlamentares querendo empurrar uma reforma fajuta.

Só uma grande lata de lixo para receber propostas como “distritão”, doações ocultas, fundo partidário de R$ 3,6 bilhões, permissão para que os partidos explorem loterias e bingos, enfim, uma enxurrada de absurdos.

Jogaram a tão esperada reforma política na sarjeta. Pobres deputados e senadores.  É bom ressaltar que são pobres de espírito público.

* Marco Wense