A derrocada do PSB



Miguel Arraes (foto Internet)

*Marco Wense

Toda agremiação partidária, independente do campo ideológico, tem sua banda podre. Aí não cabe a máxima de que toda regra tem exceção.

Quando falo de ideologia, o faço apenas por uma questão meramente didática, para uma melhor compreensão do leitor.

Essa especificação de direita, esquerda ou qualquer outra, perdeu consistência. Não se faz mais política com posições firmes e coerentes, assentadas em princípios.

O que se observa é uma busca desenfreada – e sem escrúpulos – para atender interesses pessoais ou de grupos. O fim justifica os meios.

Não é só o mofadosistema político que está putrefato. Os homens públicos, “dignos” representantes do povo, deixando de fora as poucas e honrosas exceções, perderam a vergonha.

É triste, muito triste, só para citar um exemplo mais recente, ver o PSB, que é o Partido Socialista Brasileiro, do saudoso Miguel Arraes, totalmente desfigurado.

O PSB, que tem uma brilhante história na defesa da inclusão social, sempre do lado dos mais desprotegidos, descamba para o fisiologismo e o toma-lá-dá-cá.

O presidente Michel Temer, de olho no fortalecimento de Rodrigo Maia, seu substituto imediato, se encontra com a deputada Tereza Cristina, líder do PSB, para evitar que parlamentares insatisfeitos com o partido se filiem ao DEM. Quer todos no PMDB.

Até aí tudo dentro do jogo político, mesmo não sendo uma tarefa para um presidente da República, que deveria estar preocupado com outros problemas.

A líder socialista até que poderia aproveitar a conversa com o chefe do Executivo para cobrar melhoras na saúde, na educação, enfim, em vários setores da administração ou, então, protestar sobre alguns pontos da reforma Previdenciária.

Que nada. A preocupação da representante do PSB na Câmara dos Deputados era com a bancada ruralista. Foi reclamar da Receita Federal, que tem se negado a mudar entendimentos regulatórios que beneficiariam os ruralistas.

Poucas horas depois da audiência com o mandatário-mor da República, Cristina se reuniu com o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid.

O PSB de hoje nega o PSB de ontem. A legenda caminha a passos largos para não ter o amanhã.

O cinismo e os partidozinhos

O cinismo maior do momento político, marcado por um lamaçal sem precedentes na história da República, fica por conta de Temer e Maia.

Nunca vi tanta falsidade entre dois políticos. Nas declarações públicas são como dois amiguinhos de infância. Nos bastidores, um querendo destruir o outro.

Eles se conhecem. Sabem que são parecidos quando o fim é a conquista do poder, não importando os meios. A tapeação é recíproca.

Não adiantou Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, mostrar a Michel Temer mensagem da mãe cobrando lealdade ao chefe do Executivo.

Temer não entrou no jogo emocional de Maia, apelando para a própria genitora para convencê-lo de que é um parceiro confiável.

Bastou menos de 24 horas para que Temer entrasse em campo para evitar o fortalecimento de Maia com a ida de parlamentares do PSB para o DEM.

Deputados insatisfeitos com o partido que tem a pombinha como símbolo estão procurando uma nova agremiação partidária.

De olho na sua candidatura ao Palácio de Ondina, o prefeito ACM Neto ajuda Maia na difícil missão de trazer os “socialistas” para o staff demista.

Temer tem uma arma fulminante contra Maia, a mesma que usou para sair vitorioso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ): a caneta para liberar o “faz-me-rir”.

Em priscas eras, como diria o saudoso jornalista Eduardo Anunciação, a saída de um parlamentar do PSB para um partido de outro campo ideológico, significava o fim da carreira política.

Hoje, a debandada ocorre sem nenhuma cerimônia e sem qualquer tipo de constrangimento. O óbvio ululante é que os partidos perderam o respeito. São partidozinhos.

Aliança inusitada       

Em conversas reservadas, algumas lideranças petistas têm dito que essa aproximação do PCdoB com o DEM é “inaceitável”.

Não se sabe ainda a posição da senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, em relação a essa inesperada e estranha composição.

O ex-ministro Aldo Rebelo, figura de destaque no staff comunista, é o responsável pelo namoro entre a legenda e o demista Rodrigo Maia, comandante-mor da Câmara dos Deputados.

Os petistas lembram que Maia foi um dos responsáveis pelo impeachment de Dilma Rousseff e que o DEM teve um papel importante no “golpe”.

A inusitada aliança já conta com o aval e o entusiasmo da deputada federal Luciana Santos (PE), presidente nacional do PCdoB.

Vale lembrar que Rodrigo Maia é o substituto imediato de Michel Temer e fortíssimo candidato em uma eventual eleição indireta.

O PCdoB, portanto, se distancia do PT e passa a ser conivente com as pretensões de Maia: ser presidente da República sem o voto popular.

Que venha outra        

Engana-se quem pensa que a maior torcida por uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer seja dos seus adversários.

Ledo engano. Quem sonha todos os dias com uma nova acusação contra o peemedebista são seus defensores na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

A preocupação em defender um chefe de Executivo com uma estrondosa impopularidade é café pequeno diante do toma-lá-dá-dá.

A CCJ, que é umas das mais importantes comissões da Casa Legislativa, se transformou em um verdadeiro balcão de negócios. Uma vergonha.

E por que querem mais e mais denúncias contra o chefe do Executivo?

A vitória de Temer na CCJ custou a bacatela de R$ 15 bilhões entre recursos para aliados e emendas parlamentares.

Ora, ora…

A vez da economia

No aspecto moral, oposicionistas e governistas, deixando de fora algumas e honrosas exceções, se igualam.  Estão chafurdados no lamaçal.

Um fica com medo da pedrada do outro, já que seus telhados são de vidros. Quem acusa termina sendo acusado pelo mesmo crime, quase sempre de corrupção.

O “Fora Temer” versus “Fica Temer” vai ter que ser disputado no campo econômico, com a imprensa exercendo o protagonismo.

O Ministério do Trabalho divulgou na segunda-feira, 17, que o Brasil abriu 9.821 vagas formais no mês de junho.

Aí as manchetes são dadas de acordo com os interesses de cada meio de comunicação, seja por jornais, blogs, televisão e etc.

O Estadão, por exemplo, no alto da primeira página estampou: “País cria 9.821 vagas com carteira em junho, terceiro mês com resultado positivo”.

Vem o Brasil 247 e diz: “Mercado de trabalho frágil mostra que depressão continua”.

Ainda bem que vivemos em uma democracia, mesmo com suas falhas e seus relampejos autoritários.

Procura-se um presidente    

Conforme anunciou o blog Pimenta, a secretaria de Governo Maria Alice, fiel escudeira do prefeito Fernando Gomes, vai para o PSD do senador Otto Alencar.

A ida de Alice para o PSD se deu até mesmo por falta de opção, já que outros partidos da base aliada do governador Rui Costa (PT) foram descartados.

Não sei como será o relacionamento da secretaria com o prefeito ACM Neto. O alcaide soteropolitano sempre teve um bom relacionamento com a “dama de ferro”.

Agora, é encontrar alguém que possa substituir Maria Alice no comando municipal do DEM. Tem pretendente que pode ter uma recaída pelo fernandismo.

Todo cuidado é pouco. A política não costuma socorrer os que dormem e, muito menos, os ingênuos e incautos.

Menino maluquinho       

O prefeito de São Paulo, o tucano João Doria, obviamente do PSDB, perdeu a estribeira, como diria a minha saudosa vovó Nair.

O alcaide, cada vez mais assustado com o crescimento de Jair Bolsonaro (PSC) nas pesquisas de intenções de voto para o Palácio do Planalto, parece descompensado.

Perdeu a compostura que um gestor público deve ter no exercício da sua função. Chega ao ponto de chamar a ex-presidente Dilma Rousseff de “anta”.

Suas atabalhoadas atitudes são motivos de críticas até por parte de lideranças do tucanato. FHC acha Doria um “gestor de Facebook”. José Serra “um blefe”.

O governador Geraldo Alckmin (SP), por conta do bom relacionamento que deve ter com o colega de legenda, prefere o silêncio.

É bom lembrar que Doria é cria política de Alckmin. Mas andou ensaiando, na calada da noite, uma candidatura presidencial mesmo sabendo da intenção do criador de disputar o pleito.

Até o jornal Folha de São Paulo, antes simpático às pretensões dorianas, diz, em editorial, que a candidatura presidencial não passa de um “balão de ensaio”.

Os adversários do mandatário-mor paulistano costumam chamá-lo de “menino maluquinho”. Nas redes sociais vem sendo chamado de “Prefake”.

PS – Fake é uma palavra da língua inglesa que se atribui a pessoas falsas, que não são autênticas, que ocultam a verdadeira identidade.

A debandada dos insatisfeitos         

Como existe um consenso entre governistas e oposicionistas, a “janela” para mudar de partido sem o risco de perder o mandato pode ser transferida para setembro ou outubro desde ano.

Parlamentares insatisfeitos com suas legendas já começam a namoricar com outras agremiações partidárias.

No bojo da reforma política também o chamado “distritão”, que vai eleger para o Legislativo os mais votados em cada Estado.

Aqui em Itabuna, alguns vereadores podem deixar os partidos pelos quais foram eleitos. A fidelidade partidária é novamente derrotada pelo jeitinho brasileiro e o vergonhoso casuísmo.

Os chefes de Executivo, ávidos por uma maioria obediente no Parlamento, que feche os olhos para as falcatruas, vão fazer de tudo para acomodar os desertores nas legendas aliadas.

Todo mundo sabe como funciona esse “vão fazer de tudo”. É o toma-lá-dá-cá, amigo íntimo da impunidade e cada vez mais triunfante e vitorioso.