Disputa na majoritária



Rui Costa

O PDT do deputado Félix Mendonça Júnior, que é o presidente da legenda na Bahia, quer uma vaga na chapa encabeçada pelo governador Rui Costa (PT).

O chefe do Executivo é pré-candidato à reeleição e acredita que conseguirá seu segundo mandato enfrentando o prefeito soteropolitano ACM Neto (DEM).

O otimismo do petista já foi maior. Os mais eufóricos diziam que a fatura seria liquidada logo no primeiro round. O “já ganhou” perdeu consistência diante do fato de que ACM Neto é um adversário fortíssimo.

Como vão se reunir para um “acerto de contas”, Rui e Félix têm muito que conversar. Uma boa oportunidade para bons esclarecimentos.

O governador deve questionar a posição do PDT de Itabuna em relação à sua reeleição. E Félix deve perguntar ao petista-mor porque ele apoiou o então candidato do DEM em detrimento do postulante do PDT, o médico Antonio Mangabeira.

Vai ser “balas trocadas”. Um encontro para lavar a roupa suja e desabafar. Mas foi o PT quem causou todo esse imbróglio, que traiu a base aliada.

Como a infidelidade foi do Partido dos Trabalhadores, espera-se um pedido de desculpa por parte da legenda.

PDT, PSB e PCdoB, sem chances

Na política nada é impossível, costuma dizer os políticos. Tudo pode acontecer. O adversário de hoje é o aliado de amanhã e sem nenhum tipo de constrangimento.

Quem diria, por exemplo, que o prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, ficaria de mãos dadas com o petismo tendo do seu lado um Geraldo Simões?

Hoje, o alcaide é um neocompanheiro do governador Rui Costa e a maior liderança política do antinetismo no sul da Bahia. Históricos oposicionistas do carlismo viraram coadjuvantes.

Em relação à composição da chapa majoritária, encabeçada por Rui Costa, que vai atrás do segundo mandato, podemos dizer que dificilmente haverá alguma mudança.

Tiro até o “dificilmente” e afirmo que já está tudo certo e combinado. São favas contadas que o PDT e o PCdoB vão ficar de fora.

Quanto ao PSB, a senadora Lídice da Mata, que é a presidente estadual da legenda, vai desistir da reeleição e ser candidata a deputada federal.

João Leão, do PP, vai continuar como vice. Uma vaga para o Senado é de Jacques Wagner (PT) e a outra do PSD de Otto Alencar.

O PDT e o PCdoB, no entanto, estão politicamente corretos em exigir um espaço na majoritária, sob pena de ficarem esquecidos nas negociações.

Para uma melhor compreensão do leitor, coloco em percentuais as chances do PDT, PSB e do PCdoB nessa arrumação visando a eleição de 2018.

Como são três lugares sendo disputados, a permanência de Leão como vice fica com 100%, Wagner 100% e que o PSD vai indicar a outra vaga para o Senado também 100%.

Qualquer mudança vai ser em decorrência de um ato voluntário, de um acontecimento político (Wagner ser o candidato do PT à Presidência da República) ou um grave acidente de percurso.

O PDT, PCdoB e o PSB sabem do 0%. Não são tão ingênuos, incautos e infantis.

O vai e vem do PT 

No começo, o PT se posicionou contra o afastamento de Aécio Neves e das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao senador tucano.

Assombrado com a repercussão negativa popular, e também entre sua militância e simpatizantes, o PT resolveu ficar do lado da Suprema Corte.

É que o Partido dos Trabalhadores, assim que saiu a posição do STF de afastar o parlamentar do PSDB, emitiu uma dura nota, classificando a decisão de “esdrúxula”.

Questionado sobre a mudança, Humberto Costa (PT-PE), líder da minoria no Senado, disse que estava defendendo a autonomia entre os Poderes e não o ex-presidenciável.

Ora, ora, se a defesa é de caráter institucional, porque mudou, recuou, se acovardou, tomou outro rumo, jogando uma convicção na lata do lixo?

É bom lembrar que temos um Senado de 81 parlamentares com 32 sendo investigados pelo STF. O PT tem quatro com inquéritos já instaurados: Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, José Pimentel e Lindbergh Farias.

Gleisi é a presidente nacional da legenda. É investigada no inquérito 3979 por lavagem de dinheiro e corrupção passiva no âmbito da Operação Lava Jato.

Vamos ver como vai se comportar o PT se lá na frente o STF resolver afastar os seus senadores, se o partido manterá a mesma posição.

Aécio Neves, sem dúvida o político mais cínico da história da República brasileira, reconquistou o mandato dizendo que foi “vítima de armação”.

O corporativismo parlamentar, amigo íntimo da impunidade, venceu a Justiça, derrotou o preceito constitucional de que “todos são iguais perante a lei”.

O início da derrocada do Estado democrático de Direito ocorre quando se cria duas espécies de gente, a que não é atingida pela lei e a que é punida por ela.

Para ser mais didático e incisivo, os engravatados não podem ter um tratamento diferente dos descamisados. A lei não pode ser dura para uns e flexível para outros.

O saudoso jornalista e escritor Fernando Sabino, costumava dizer que “para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei. Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica”.

Bolsonaro versus Ciro

Ciro Gomes

A desenvoltura do presidenciável Ciro Gomes, mostrando seu programa de governo e apontando soluções para os graves problemas que afetam o Brasil, preocupa os adversários.

Um dos assuntos que começa a ser obrigatório na pauta das reuniões, diz respeito a como enfrentar o postulante do PDT nos debates que serão transmitidos para todo o país.

Ciro, que é economista, advogado, professor universitário, ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Ceará, deputado estadual, federal e ex-ministro da Fazenda e da Integração Nacional é, de longe e sem concorrência, o mais preparado de todos os pré-candidatos.

Não à toa que os marqueteiros do deputado Jair Bolsonaro, segundo colocado nas pesquisas de intenção de votos, acham que Ciro Gomes é o maior obstáculo à candidatura do parlamentar carioca.

Não há, por parte dos bolsonaristas, nenhuma preocupação com Lula. São da opinião de que em um eventual segundo turno com o petista, Bolsonaro ganha.

O problema é Ciro Gomes. Ou melhor, a sua competência. A possibilidade de um tête-à-tête, um cara-a-cara, deixa o pessoal na maior tremedeira.

Ciro é um estudioso. Passou um ano e meio na Universidade Harvard Law School estudando sobre os problemas econômicos do Brasil.

Os bolsonaristas têm razão: é melhor enfrentar quatro Lulas do que um Ciro. O 13 do que o 12.

A sinceridade de Bolsonaro

Ficam só falando dos defeitos do deputado-presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que é preconceituoso, racista, machista e homofóbico.

É evidente que seus adversários, principalmente os concorrentes na disputa pelo cobiçado Palácio do Planalto, não vão citar as qualidades do parlamentar.

Mas ninguém, pelo menos em sã consciência, pode dizer que Bolsonaro não é uma pessoa sincera, que diz a verdade, mesmo atirando contra o próprio pé.

“Não sou a pessoa mais capacitada para presidir o Brasil, tem muita gente mais preparada do que eu, mas no Brasil hoje o pessoal está alvejado”, diz Bolsonaro.

A sinceridade de Jair Bolsonaro, admitindo seu despreparo para assumir o cargo de presidente da República, endossa a opinião de que um eventual governo bolsonariano seria um desastre.

“O pessoal está alvejado”, aí Bolsonaro se refere aos adversários enlameados pela corrupção, mais especificamente no âmbito da Operação Lava Jato e do mensalão.

Podemos então concluir que se Jair Bolsonaro não fosse pré-candidato votaria em Ciro Gomes, postulante do PDT. Sem dúvida o mais preparado e sem envolvimento com o lamaçal.

Com efeito, o polêmico e irreverente Bolsonaro, agora também o sincero Bolsonaro, já foi eleitor de Ciro na sua última disputa presidencial.

Fica aí então a sinceridade de Bolsonaro para a reflexão do eleitorado, que tem uma considerável parcela embevecida, encantada pelo defensor da volta do regime militar.

Jamais passou pela minha cabeça fazer algum elogio a Bolsonaro, mas tenho que parabenizá-lo pela sua sinceridade, admitindo sua incapacidade para assumir o comando do Brasil.

Parabéns, Bolsonaro! De um eleitor que jamais votaria em você.