Roberto José: entre “baculejo” e propostas para cultura


O candidato, ex-secretário municipal, busca vaga na Câmara Federal


 

Um discurso que demonstra farto conhecimento teórico, inclusive com o tempero de frases de efeito; um idealismo evidente; um conjunto de bandeiras que vão da educação à segurança pública. É assim que o geógrafo Roberto José da Silva busca vaga de deputado federal pelo partido Rede-Sustentabilidade. Aos 44 anos, ele é policial Civil e já foi Militar. Teve experiência em cargos públicos ao presidir a Ficc (Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania) e a então Settran (Secretaria de Transporte e Trânsito).

Em entrevista ao Diário Bahia, o candidato mantém um ar de “lord”, mas não deixa de dar alfinetadas no prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, nem de recorrer ao jargão policial quando propõe fazer um verdadeiro ‘baculejo’ nas licitações das prefeituras da região.

 Diante de um eleitor descrente, o que o senhor diria para mostrar que não será mais um entre os 513 deputados federais?

Primeiro, confirmar que nós estamos diante de um cenário calamitoso. A primeira palavra é renovação com qualidade. É escolher pessoas que tenham uma base, uma experiência política, uma história de serviços à população. Nós precisamos estimular esse eleitor que tem pretensão de não ir às urnas, para que se sinta estimulado. Quando ele não vota ou vota nulo, está elegendo o que há de pior.

Existem muitos rótulos em relação à política. Falam que os policiais formam a “bancada da bala”, tem a “bancada evangélica”. Entre as duas, de que lado o deputado Roberto José estará?

Sou da bancada da população. Eu me autointitulo um político “outside” – pertenço ao partido, mas não voto em partido; voto nas pessoas, nas ideias. Defendo uma eleição sem partido, não precisamos necessariamente de partidos – estou na Rede, que é um partido novo, não tem políticos ficha-suja, nós precisamos reinventar o Brasil. Itabuna elege um cara com 34 mil, mas 44 mil deixaram de ir às urnas. Isso é extremamente grave; nesse momento de descrédito, precisamos ser a voz que clama no deserto.

 O senhor me lembra palavras do atual prefeito, Fernando Gomes. Ele foi do então PMDB, saiu do DEM, agora está desfiliado e diz que o partido dele é Itabuna. Alguma semelhança?

Não. Você conhece as árvores pelo fruto; qual o fruto desse senhor? Eu conheci Fernando Gomes estando em Salvador como Marajá do Brasil. Ele chega pobre à Prefeitura e hoje é rico. Há uma incompatibilidade entre o que ganha e a riqueza que tem. É público e notório que ele responde a 198 processos. Talvez a marca dele seja o patrimonialismo, e não Itabuna; tirar do público para o privado. Há uma diferença muito clara nisso. Na última gestão, ele acabou com a cidade e foi morar em Conquista. Abandonou Itabuna e depois vem com a história de que “Foram me chamar”. De fato, uma categoria foi chamar; mas é uma categoria que se utiliza bem da Prefeitura, faz um vilipêndio à boa política.

Sua experiência na Ficc é suficiente para buscar vaga na Câmara Federal?

Na Ficc e na Settran, não é? Mostramos que com pouco é possível fazer muito. Nós precisamos criar e a gestão pública estar voltada aos anseios populares. O que se criou no Brasil foi uma ‘cleptocracia’, ou seja, república dos ladrões. Para reinventar o Brasil, defendo três pilares: primeiro, Educação como principal vetor de desenvolvimento de um país – já diria Darcy Ribeiro; precisamos revolucionar a Educação, para que daqui a 50 anos tenhamos um país melhor. Isso só com autonomia do povo. O povo vai saber votar e fazer o devido expurgo do mau político…

Por outro lado, são ideias. O que um deputado federal pode fazer num universo tão amplo de pares, para que aquela sua bandeira seja ouvida?

Eu preciso encontrar eco com o povo, que o povo defenda essa bandeira para pressionar os deputados. Precisamos criar uma carreira única do magistério – o professor no Brasil nunca foi valorizado. Só teremos um país melhor no dia que o professor for valorizado, como é no Japão, na Coréia do Sul. Eles fizeram sua revolução cultural e hoje são países melhores. Então, o fortalecimento da educação é meu principal pilar.

 Em termos práticos, o deputado federal pode propor emendas para que os recursos cheguem a suas bases ou não. A primeira emenda de Roberto José será…

Para Educação e Cultura. Como presidente da Ficc, nós defendemos um programa amplo sobre arte e educação. Porque Itabuna é uma cidade extremamente vulnerável; a vulnerabilidade é a negação da cidadania plena. E a violência em Itabuna é resposta de uma sociedade injusta. Não adianta colocar o aparato policial na rua, se não fazemos prevenção à violência.

 Então, seria uma emenda para Educação e Cultura de Itabuna?

Sim. Principalmente as fanfarras, para criar uma ONG, uma associação de arte e cultura regional. A melhor forma de empoderamento é a arte, a cultura, a geração de emprego e renda.

“Estou montando um grupo de advogados e contadores, para que possam fazer um verdadeiro ‘baculejo’ nas licitações das prefeituras da região”

O senhor colocaria, por exemplo, uma emenda para o prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, gerir, apesar de vocês serem de grupos sem tanta proximidade política?

Não tenho nenhum problema; muito pelo contrário. Minha ideia é criar também um grupo de fiscalização. Estou montando um grupo de advogados e contadores, para que possam fazer um verdadeiro ‘baculejo’ nas licitações das prefeituras da região. Um grupo ligado ao gabinete do deputado, porque segundo a Constituição, a função do deputado é propor, mas principalmente fiscalizar. Por que os deputados não fiscalizam? Porque, via de regra, eles estão presos em uma promiscuidade com boa parte dos prefeitos.

De antemão, quais seriam as três prefeituras aqui na região que serão fiscalizadas?

Ilhéus, Itabuna, Camacan… Pelo menos as dez maiores prefeituras da região serão objeto de um verdadeiro ‘baculejo’ desse grupo de fiscalização. A gente precisa ter um olhar republicano sobre a coisa pública; ela precisa ser voltada para o povo.

Vindo da Polícia Militar, hoje policial Civil, que proposta o senhor trará para a segurança?

Defendo um modelo em que não precisa mudar muita coisa. Tem que começar a valorizar a base das polícias, que são os praças, escrivães e investigadores da Polícia Civil. Defendo carreira única nessas categorias, para Polícia Militar e Polícia Civil. Isso significa que o soldado entra como soldado até chegar ao posto de Coronel. Mas, para chegar ao oficialato, tem que entrar pela base; isso estimula toda uma categoria a fazer continuamente a capacitação profissional e melhora a qualidade. Em qualquer lugar do mundo é assim; o Brasil é que tem um modelo único e não deu certo. Outra coisa é ciclo completo; a Polícia Militar prende, tem que fazer seu próprio procedimento e entregar ao juiz plantonista, para que ele julgue se aquela prisão merece ser transformada em preventiva ou não. Isso libera a Polícia Civil a focar nos crimes mais graves, como é nos Estados Unidos.

Para resultados maiores, é preciso também uma articulação com seus pares no Congresso…

Eu entendo que a articulação é importante, mas não se pode fazer política verticalizada; tenho que convencer a população a pressionar. É o inverso; se ela é verticalizada, você não empodera ninguém.

Na sua ótica, os ambientalistas já superaram o rótulo de “ecochatos” para se apresentar ao grande público na política?

O desenvolvimento sustentável tem características do ambientalismo. Mas não é essencialmente isso; é gestão sistêmica. Por exemplo, a barragem – que chega com 200 anos de atraso – precisa ser acompanhada de outras ações, como preservação de nascentes, matas ciliares… se isso não for feito, em dez anos perderemos 50% da capacidade de guardar água.