Fernando e os neocompanheiros



Fernando Gomes

Fernando Gomes, prefeito de Itabuna, ex-demista, tem agora um novo ingrediente no seu invejável currículo: conseguiu reunir todos os ex-inimigos políticos de uma só vez.

Cinco mandatos de alcaide e quatro de deputado federal são itens secundários diante de um Davidson Magalhães, Wenceslau Júnior e Geraldo Simões como neocompanheiros.

Se foi um sonho de Fernando Gomes, de juntar seus desafetos em torno de si, sonho realizado. Parabéns ao chefe do Executivo. Parabéns de verdade.

Essa inusitada junção traz duas imediatas consequências. A primeira, é que o médico Antônio Mangabeira, do PDT, passa a ser a verdadeira e autêntica oposição ao governo municipal.

O empenho de Geraldo Simões para ser o representante maior do oposicionismo perde consistência. Vai ser convidado para ser o padrinho do enlace da “cobra” com o “jacaré”.

Foi o próprio Geraldo Simões quem definiu a estranha aliança do governador com o prefeito como um “casamento de cobra com jacaré”.

A segunda consequência é o silêncio de Fernando diante das irregularidades do governo de seu antecessor, o evangélico Claudevane Leite.

Fernando sabe que o governador Rui Costa tem uma gratidão por Vane, que foi um dos primeiros prefeitos a declarar apoio a sua então candidatura ao Palácio de Ondina.

Uma auditoria nas contas do ex-alcaide poderia atingir o vice Wenceslau Júnior e, por tabela, o PCdoB, aliado histórico do Partido dos Trabalhadores.

A festa da assinatura da ordem de serviço para a duplicação da BR-415 foi o maior espetáculo de constrangimentos da história política de Itabuna.

A declaração de Fernando Gomes de que não tem compromisso com o PT e nem com a candidatura de Jaques Wagner para o Senado não foi suficiente para provocar a ira dos petistas.

Fernando Gomes está em êxtase. Todos o admirando e batendo palmas. O grande desafio é convencê-lo a aderir ao “Lula lá”.

A culpa é do Congresso               

Toda essa mixórdia envolvendo o Supremo Tribunal Federal e as duas Casas Legislativas – a Câmara dos Deputados e o Senado da República – decorre do corporativismo que toma conta do Parlamento brasileiro.

Quando desviado da sua verdadeira função, esse instrumento de proteção termina sendo aliado da impunidade, com os senhores políticos ficando acima das leis.

Ora, se o Congresso não faz sua parte, deixando os larápios do dinheiro público sem castigo, como se nada estivesse acontecendo, cabe a Justiça tomar a iniciativa.

Se depender exclusivamente do Parlamento, todos são honestos e dignos representantes do povo. O corporativismo entra em campo e a sujeira é jogada para debaixo do tapete.

Se afastar político sujo do parlamento é inconstitucional, então que se jogue o preceito de que “todos são iguais perante a lei” na lata do lixo.

Com efeito, costumo dizer que esse preceito é o preceito dos preceitos, o preceito-mor. Sem ele, nada de estado democrático de direito. Cria-se uma casta de privilegiados, duas espécies de gente.

Onde anda os Conselhos de Ética do Senado e da Câmara dos Deputados? A corrupção correndo solta, os assaltos aos cofres públicos cada vez mais escancarados, a sem-vergonhice debochando de todos, e nada de Conselhos.

O corporativismo funciona como um parente bem próximo da impunidade. Andam de mãos dadas desafiando a Justiça e as instituições.

Se fosse um Congresso Nacional sério, digno do povo brasileiro, que lavasse a roupa suja na própria lavanderia, os Conselhos de Ética estariam sobrecarregados, trabalhando de domingo a domingo.

O STF pode sim afastar do parlamento os maus exemplos, os joios.  O que é inaceitável – e inconstitucional – é proteger marginais engravatados.

Os dissidentes de FG

O prefeito Fernando Gomes já disse que não tem nenhum compromisso com o PT e, muito menos, com a candidatura de Jaques Wagner ao Senado.

Fernando, que saiu do Partido do Democratas (DEM), continua sem legenda. Já foi convidado pelo PSD de Otto Alencar e o PP do vice-governador João Leão.

A declaração do alcaide não foi rebatida pelos petistas de Itabuna, que preferiram o silêncio em vez do confronto, já que o chefe do Executivo é um aliado do governador Rui Costa.

Com efeito, Fernando Gomes não perde a oportunidade de dizer, em alto e bom som, que o único do PT que vai ter seu apoio é Rui Costa (reeleição).

O pessoal de Josias Gomes, secretário estadual de Relações Institucionais, ficou surpreso com a posição do prefeito. Esperava que o nome de Josias fosse também incluído na sua agenda.

É bom lembrar que Josias trabalhou muito pela elegibilidade de Fernando. A contrapartida seria o apoio a sua candidatura à Câmara Federal. Ledo engano.

A hibernação de Geraldo Simões e a acomodação de Davidson Magalhães, respectivamente do PT e PCdoB, empurram o médico Mangabeira (PDT) para ser o representante maior da oposição ao governo municipal.

E quem são esses dissidentes do fernandismo? São os que vão votar em ACM Neto na sucessão do Palácio de Ondina, que não votam em candidatos do PT em hipótese nenhuma.

É evidente que os dissidentes, com medo de sofrer represálias, evitam falar sobre o assunto. É o chamado voto silencioso, que costuma derrubar previsões eleitorais e pesquisas de intenção de votos.

O saudoso jornalista Eduardo Anunciação dizia que quando o eleitor entra na cabine de votação, sente uma incontida vontade de trair.

O eleitor, segundo Anunciação, olha para um lado, olha para o outro, e vapt-vupt. Se o candidato perder por um voto, foi o voto que o “traidor” não deu.

O inesquecível Eduardo Anunciação, editor da conceituada coluna Política, Gente, Poder, no Diário Bahia, morreu geraldista, depois de muito tempo sendo amigo e fiel defensor de Fernando Gomes.

Coisas do movediço e traiçoeiro mundo da política.

Fernando e o Pimenta

Jaques Wagner

Em entrevista ao conceituado blog Pimenta, Fernando Gomes tornou a dizer que só tem compromisso com o governador Rui Costa, que só vota nele (reeleição).

Do PT, mais ninguém. Nem Jaques Wagner para o Senado. O alcaide sempre disse cobras e lagartos da legenda, e continua dizendo. Impressionante é o silêncio dos petistas de Itabuna diante de um Fernando declaradamente antipetista.

Em relação a disputa presidencial, deixou claro que não apoia Luiz Inácio Lula da Silva. Nas entrelinhas, que seu candidato pode ser Jair Bolsonaro.

Quando questionado sobre os mandatos de Lula, fez questão de falar dos processos na Justiça: “Quem pode responder é o povo. Está aí a situação. Vocês estão vendo na TV aí os processos”.

Pois é. Fernando Gomes é só Rui, o resto do PT que se dane, que procure sua praia. Não se sabe ainda a opinião do ex-governador Wagner sobre o posicionamento do alcaide.

Até que ponto chegou o petismo, ficando refém de um político que detesta o PT e não perde a oportunidade de dizer isso publicamente.

Lula lá

Nos bastidores do Palácio de Ondina, o que se comenta é que o apoio de Fernando Gomes a Lula e ao ex-governador Jaques Wagner é só uma questão de tempo. “Todos estarão no mesmo palanque”, diz um membro do diretório de Itabuna.