Lojas fechadas e quase 3 mil trabalhadores desempregados em Itabuna 



COMERCIO - EMPREGOS
O comércio de Itabuna sofreu prejuízos consideráveis com a crise

Por Simone Nascimento

Valmir Alves Ramos tem 46 anos, é pedreiro, casado e pai de dois filhos, de 7 e um 1 ano de idade. Mora com a família no bairro Sinval Palmeira e todos os dias, bem cedinho, sai de casa em sua bicicleta, na esperança de conseguir um trabalho. Essa rotina já se repete há seis meses, desde que ele foi demitido da construção civil. Valmir é apenas uma entre as 2.899 pessoas que perderam o emprego entre janeiro de 2015 e abril desse ano, em Itabuna.

Estamos no primeiro semestre de 2016 e os itabunenses continuam amargando as consequências de uma crise financeira, que desafia milhões de brasileiros, desde uma espécie de “bombardeio” político detonado sobre o país no ano passado. Empresas foram dizimadas e um “exército” de trabalhadores passou a conviver com o tão temível “monstro” do desemprego.

Só para se ter ideia, Itabuna fechou nada menos que 2.259 postos de emprego com carteira assinada, somente em 2015. Desse número, 505 vagas pertenciam ao comércio. E as atuais notícias não são nada animadoras. Segundo o Sindicom (Sindicato do Comércio Varejista de Itabuna), de janeiro até abril desse ano, 640 emprego foram eliminados – 408 apenas no comércio da cidade. Os setores mais atingidos pela crise são os de eletroeletrônicos e automóveis.

“Outros setores como materiais de construção e vestuários também sentem forte retração. Até mesmo os setores de combustíveis, medicamentos e alimentos, tidos como indispensáveis ou prioritários, foram afetados. Outras atividades econômicas, igualmente, estão sendo atingidas, como por exemplo, a construção civil, que foi a que mais cortou postos de trabalho em 2015. Nosso cenário ainda é agravado pela crise da água. E isso é muito preocupante”, avaliou Eduardo Carqueja Júnior, diretor de Relações Públicas do Sindicom.

Além desse “enxugamento” no quadro de funcionários, muitas empresas fecharam as portas, provocando demissões em massa. Em entrevista ao Diário Bahia, Júnior informou que a Juceb (Junta Comercial da Bahia) ainda não disponibilizou as estatísticas relacionadas aos estabelecimentos fechados até agora no município. “Porém é visível a quantidade de pontos comerciais encerrados nas principais vias de comércio da nossa cidade, como a avenida do Cinquentenário, Paulino Vieira, Amélia Amado, Juracy Magalhães, Inácio Tosta, Rui Barbosa e outras. Nos bairros, a situação também é a mesma”, observou.

No rol de lojas que encerraram as atividades, muitas são de grande porte. Entre elas, a D&D, que funcionava na avenida J. S. Pinheiro. A Silva Calçados também fechou, aproximadamente, três de seus pontos comerciais, assim como a Insinuante, que recentemente, acabou com uma de suas lojas, na avenida do Cinquentenário.

Na contramão de perspectivas tão ruins como essas, Júnior ressalta que recuar não é a melhor solução. “É preciso que os empresários corrijam deficiências que existam e visualizem novas oportunidades. Estar atento à saúde financeira da empresa também é muito importante. Além disso, as empresas devem qualificar sempre seus funcionários e mantê-los motivados. Um time motivado reage melhor aos desafios. O mais importante é não se entregar. Os empresários não podem se curvar à crise e devem reagir com muito trabalho”, estimula.

De desempregado a microempreendedor

O pequeno empreendedor Leandro Sampaio da Silva, de 30 anos, trabalhou no comércio de Itabuna durante mais de cinco anos. Começou como auxiliar de serviços gerais. Depois, foi promovido para estoquista. Em seguida, passou a trabalhar como auditor fiscal. Como viajava muito e tinha que ficar muitos dias longe da família, ele pediu para desempenhar a função de montador de móveis. Pedido aceito, mas ficou no cargo apenas por alguns meses. É que a crise chegou e Leandro acabou sendo demitido, junto com outros funcionários.

O rapaz não ficou de braços cruzados. Em meio às dificuldades financeiras, usou o ofício que aprendeu durante os anos de comerciário para ganhar dinheiro, trabalhando, dessa vez, como autônomo. O pai de família confeccionou cartazes com folhas de ofício mesmo e espalhou pelo bairro Jorge Amado, onde mora, e comunidades vizinhas. Pronto. Precisou de um montador de móveis? Era só ligar para Leandro Sampaio.

No entanto, a crise apertou ainda mais o cerco e não tinha mais tantos móveis para armar, como no início. Nesse intervalo, o caos da falta de água se espalhou pela cidade. E Leandro teve outra ideia. Comprou uns vasilhames e, na garagem da casa da mãe, no bairro Sinval Palmeira, montou uma distribuidora de água mineral.

Então, hoje, o ex-comerciário, além de continuar montando móveis, vende água e faz frete, quando aparece. É que, com o dinheiro dos tempos de serviço no comércio, ele comprou um veículo Fiorino, de segunda mão. Ele usa o automóvel não só para a entrega dos produtos que comercializa, como também para transportar mercadorias de clientes, quando é solicitado.

“Confesso que quando fiquei desempregado tive muito medo. Medo de não poder pagar minhas contas, de as coisas faltarem dentro de casa. Tudo ficou mais difícil. Mas aprendi que devemos confiar em Deus e pedir coragem para encarar novos desafios. Acredito que sempre existe uma saída, mesmo quando tudo parece perdido. Estou caminhando devagarzinho. Um dia está bom, vende muito. No outro, quase nada ou nada, mas continuo confiando que vai melhorar”, diz Leandro.

SineBahia 

O Sine Itabuna costuma atender, diariamente, 150 pessoas, que procuram a agência em busca de uma oportunidade de emprego. De acordo com Karoline Behermann, gerente da unidade, nos últimos dias, em função do aumento da oferta de vagas para o Call Center, o número de candidatos saltou para 300, por dia.

Ela informou que, embora constantemente surjam vagas de emprego, nem todos os trabalhadores que lá aparecem conseguem atender ao perfil exigido para o cargo disponível. “É importante que essas pessoas, independente das suas profissões, procurem se qualificar no período em que estão fora do mercado de trabalho”, recomendou.

Para quem está desempregado ou ainda quem busca o primeiro emprego, Karoline tem uma boa notícia. “Até terça-feira (21), encaminhamos candidatos para o Call Center. São 500 vagas. Os requisitos são: ter ensino médio completo, boa fluência verbal e conhecimento em informática. Não precisa ter experiência”.