O preço do progresso



João Otávio MacedoJoão Otávio Macedo

Fazendo-se um passeio pela história da civilização, ficamos encantados com o formidável avanço adquirido ao longo do tempo, sendo impossível imaginar a vida sem essas conquistas que mudaram o mundo. Há menos de duzentos anos, o transporte utilizado na terra era de tração animal embora, séculos antes, o homem já se aventurasse pela imensidão desconhecida dos oceanos em barcos acanhados, para os padrões de hoje, mas foi essa intrepidez que propiciou as grandes navegações e os grandes descobrimentos nos séculos XV e XVI. Foi entre os séculos XIX e XX que ocorreu um salto imenso, com a invenção da máquina a vapor empregada na ferrovia e o automóvel; no século passado, a realização do antiquíssimo sonho humano de voar. A invenção do telégrafo sem fio já foi outro ganho importante, depois o rádio e, posteriormente, a televisão, até chegamos aos dias presentes com a informática e os diversos tipos de celulares, ensejando conversas simultâneas em qualquer parte do globo, com o recurso de ver, na tela, o interlocutor; e, certamente, pelo andar das pesquisas, ver-se-á, no futuro, coisas ainda mais fantásticas.

No campo da medicina o progresso foi fantástico; séculos atrás não se conhecia a existência dos microorganismos, como as bactérias, os vírus, os protozoários e os fungos, e as doenças eram tratadas empiricamente, muitas sendo catalogadas como castigo dos deuses. Ampliou-se o campo do diagnóstico e um grande arsenal para a cura e/ou tratamento de muitas doenças; as cirurgias mais complexas tornaram-se rotinas e, tudo isso, e mais os cuidados com a higiene, com a alimentação, com o estilo de vida, têm aumentado a média de vida.

Mas, tudo tem um preço e, às vezes, um preço muito caro; as fábricas e os motores dos veículos usando combustível fóssil, contribuem para a modificação do clima, dos oceanos, das calotas polares, com reflexos que já se fazem sentir no presente e, dizem os cientistas, no futuro será pior.

A  descoberta dos antibióticos foi um marco decisivo na história da medicina e milhões de vidas deixaram de serem perdidas muito cedo graças a ação desses medicamentos, verdadeiramente miraculosos. Acontece que, ao passar do tempo, os antibióticos foram sendo usados desenfreadamente e sem o devido acompanhamento de profissionais que estudaram e sabem a dosagem certa, o tempo certo e para que devem ser usados. O uso indiscriminado desses remédios ocasionou um fenômeno biológico conhecido como” resistência bacteriana”, surgindo as temíveis “bactérias super-resistentes”, hoje um verdadeiro terror quando do tratamento de algumas infecções, mormente as adquiridas quando de uma internação hospitalar. Os cientistas afirmam que essa mutação experimentada pelos microorganismos, principalmente as bactérias, foi ocasionada pelo uso excessivo os antibióticos, como dito acima e, também, pela falta de cuidados higiênicos.

Essas superbactérias são assim chamadas, não por um possível aumento de sua virulência, mas pela resistência adquirida frente aos antibióticos; esse fenômeno enseja constante preocupação da comunidade científica internacional e, já se fala, até, em uma pandemia, no futuro próximo, de infecções que não responderão aos antibióticos existentes.

O que nos resta fazer? Usar os antibióticos quando realmente forem necessários e sob a indicação de profissionais da área; esperar que a poderosa indústria farmacêutica sintetize novos produtos capazes de enfrentar esse quadro, desenhado como tenebroso, para um futuro que não está muito longe.

João Otavio Macedo.