O que está acontecendo?                 


Em tempos de eleição tão acirrada e diante deste cenário tão polarizado, é necessário se posicionar, sim.


O que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou. Já diz a música de Nando Reis. E tenho observado isso neste período tão delicado que estamos passando no nosso país. As eleições no primeiro turno acirraram bastante as ideias, conceitos, propostas entre os candidatos à Presidência, principalmente. E, agora no segundo turno, as coisas ficaram bem piores! Temos dois candidatos totalmente antagônicos, opostos e que estão no foco da bipolaridade que se criou no Brasil. Mas eu me pergunto e te pergunto, meu caro leitor, será mesmo que essa bipolaridade é causada por Bolsonaro e Haddad?

Meu intuito aqui, nesta coluna, não é defender candidato A ou B. Mas existe um movimento peculiar que circunda tudo isso. A grande maioria da população está se valendo da verdade absoluta. Eu estou certo, eu sou o melhor. A você, que discorda de mim, o meu desprezo. Eu observo as discussões e o quanto que a agressividade está instaurada. É necessário diminuir o outro para que eu possa me sentir maior e melhor. Pouco se vê debates saudáveis a respeito das propostas de cada candidato; vê-se muita troca de farpas, desrespeito, intolerância. Acredito que Voltaire esteja se revirando no túmulo, coitado. Todo esse cenário de separação, segregação vai totalmente contra um dos maiores preceitos do célebre filósofo que pregava que podia não concordar com uma só palavra de quem quer que seja, mas defenderia até a morte o direito de dizê-la. O que vemos é totalmente o oposto. Se você não concorda com o que eu digo, com o que eu acredito; você é alienado, desinformado, de direita, de esquerda e só merece as minhas ofensas.

Será que não seria muito mais viável a troca de ideias? Em algum lugar, certa vez, ouvi um exemplo fantástico sobre isso. Digamos que eu tenha uma caixa de bombom Garoto. Você, caro leitor, tem uma caixa de bombom Lacta. Ou seja, temos opiniões diferentes acerca de um mesmo assunto. Abrimos as caixas de bombom e eu começo a olhar os bombons da sua caixa, você começa a olhar os bombons da minha… percebemos que existem possibilidades de sabores, misturas diferentes e que podem ser, igualmente, saborosas. Daí eu coloco na minha caixa de bombom Garoto um Diamante Negro, um Laka, um Sonho de Valsa. Você, aí do outro lado, coloca na sua caixa de bombom Lacta um Serenata de Amor, um Baton, um Crocante. Saímos, os dois, com mais variedades de chocolates, mais sabores e mais experiências. Idem acontece – ou pelo menos deveria acontecer – com nossas opiniões. Mas, infelizmente, sabemos que não é bem assim que a banda vem tocando.

O que vejo são ofensas, ataques de ódio e de desrespeito. A falta de argumentos está sendo substituída pela agressão, pelo menosprezo, pela afronta. A agressividade passa pelo instinto de sobrevivência; quando nos sentimos ameaçados, partimos para o ataque. Já diz aquele velho ditado: a melhor defesa, é o ataque. Mas, hoje em dia, em tempos de Redes Socias, esse ataque e agressividade pouco tem a ver com o nato instinto de sobrevivência; mas, sim, bem mais com o que cita Dostoiévski quando diz que em todo homem habita um demônio oculto.

Em tempos de eleição tão acirrada e diante deste cenário tão polarizado, é necessário se posicionar, sim. Não podemos mais nos dar ao luxo de ficar em cima do muro. Mas a ofensa, a agressão, o desrespeito, a intolerância com a opinião alheia não combinam nada com o cenário de uma democracia.

Que possamos ouvir, debater, discutir ideias com racionalidade.

Abrir nossas caixinhas. Afinal de contas, todos nós queremos a mesma coisa: o melhor para o nosso país.


Mariana Benedito – Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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