Otto Alencar incomoda



Plenário do Senado
Otto Alencar

* Marco Wense

Li, durante o carnaval, alguns questionamentos nas redes sociais dizendo que eu estou magoado com o PT e passando esse sentimento para a Coluna Wense.

No grupo “Diálogos Sem Platão”, formado basicamente por jornalistas e alguns intelectuais, o amigo Cláudio Rodrigues, pelo qual tenho um grande respeito e carinho, faz essa “advertência”.

Chateado, sim. Misturando as coisas, não. Afinal, trocar um candidato do PDT, legenda que integra a base aliada do governismo, por Fernando Gomes, adversário histórico, é decepcionante, mesmo sabendo que o mundo político é movediço, ingrato e traiçoeiro.

Essa indignação talvez seja fruto da minha coerência política e de nunca ter traído ninguém. São mais de trinta anos na mesma legenda, o PDT. Vale relembrar que foi o meu primeiro e único partido.

E aqui faço uma homenagem ao saudoso e inesquecível Dagoberto Brandão, fundador do PDT de Itabuna e a figura mais ética que conheci no emaranhado jogo da política: o velho Dagô, como era carinhosamente chamado.

Ora, a minha opinião – e tenho o direito de tê-la, expressá-la e torná-la pública – é que o senador Otto Alencar pode disputar o Palácio de Ondina na eleição de 2018.

Quando a Coluna Wense comentava que a campanha de Dr. Mangabeira estava crescendo, que o candidato do PDT já teria ultrapassado Augusto Castro, Azevedo, Geraldo Simões e Davidson Magalhães, muito leitores diziam que a análise decorria da minha condição de candidato a vice na chapa encabeçada pelo doutor.

Pois é. O então candidato do PDT foi tomando a sopa pela beirada do prato e deu no que deu: quase 19 mil votos, muito mais que a soma da votação de Geraldo (PT) e Davidson (PCdoB).

Ora, ora, o próprio governador Rui Costa diz que “é muito cedo para se falar em 2018”. O “muito cedo” significa que nada está definido, que tudo pode acontecer. O chefe do Executivo diz também que “não teme a possibilidade de Otto disputar o Palácio de Ondina”.

Francamente, não vejo por que tanto espanto com uma possível candidatura do senador Otto Alencar, como se fosse algo que esteja amarrado, já como favas contadas que o parlamentar vai apoiar o segundo mandato de Rui Costa (reeleição). Uma coisa compulsória.

O que me surpreende é que ainda existam pessoas que se surpreendem com isso, como diria o bom jornalista Hélio Schwartsman, da Folha de São Paulo. Ou seja, uma candidatura de Otto com o apoio do prefeito ACM Neto em uma coligação PSD-DEM-PSDB-PMDB-PPS.

Até parece que o cinético processo político é o resultado de 2+2, que só pode ser quatro. Que não há sobressaltos e surpresas, como essa inusitada aliança entre o PT e FG.

Depois que o PT se aliou a Fernando Gomes, beijando suas mãos e seus pés, em uma bajulação sem precedente na história política de Itabuna, tudo pode acontecer. Se o petismo não estivesse preocupado com o senador, não estaria monitorando seus passos.

Fernando Gomes foi o político grapiúna que mais falou mal do Partido dos Trabalhadores e dos petistas. Lula era um irresponsável e Dilma Rousseff uma desorientada. Toda vez que alguém levantava a hipótese de FG se aliar ao PT, ouvia um “xô satanás”.

Portanto, a minha opinião, independente de ter sido o vice de Mangabeira e de todo o esquema do PT para tornar Fernando Gomes ficha limpa, é que o senador Otto Alencar pode ser candidato a governador da Bahia na eleição de 2018.

No mais, é esperar o julgamento da instância maior da Justiça Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral – TSE. Se haverá ou não uma nova eleição para a prefeitura de Itabuna.

Concluo com uma pertinente pergunta: Em um eventual “segundo turno” a cúpula do PT apoiaria o candidato que Fernando Gomes apontasse ou ficaria com um nome de consenso da base aliada?

PS (1) – Não tenho nenhuma dúvida que o paradoxo mais apropriado para a sucessão estadual, que só perderia força no início de 2018, é o socrático “Só sei que nada sei”.

PS (2) – Outro detalhe é que digo que o senador Otto Alencar “pode” sair candidato ao governo da Bahia. Esse “pode” não pode ser descartado e, muito menos, menosprezado. Se alguém dissesse, pouco tempo atrás, que Fernando Gomes iria se aliar ao PT, seria taxado de imbecil.