PARA ENTENDER O BRASIL


Costumo sempre lembrar que os políticos que estão mandando - e roubando - no país, foram eleitos e reeleitos pelo povo, esse mesmo povo que reclama, xinga, apupa mas, no dia das eleições, sacramenta esses malfeitores, alguns até que estão no parlamento há muitos anos.


João Otávio Macedo

É discussão antiga – mas sempre atual – sobre as causas do desenvolvimento do Brasil, tentando explicar as desigualdades encontradas num país tão rico, belo e que  tem tudo para  se situar à frente das demais nações. Sérgio Buarque de Holanda, com o seu “RAÍZES DO BRASIL”, Euclides da Cunha com “OS SERTÕES”, Caio Prado Júnior com “FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO” e Gilberto Freire com “CASA GRANDE & SENZALA”,foram alguns dos pensadores e estudiosos que tentaram esmiuçar a formação do povo brasileiro, desde as suas origens lusitanas, incluindo a participação dos nativos que aqui viviam à época do descobrimento e os negros que foram trazidos para serem escravizados, O povo brasileiro é a miscigenação dessas três raças, com a acréscimo, anos depois, de povos de outras etnias que vieram em busca do eldorado, fugindo das brigas tribais e religiosas e, também, da pobreza que havia, inclusive, em países da Europa.

Mas, diante de tantos fatos que observamos diariamente, não é fácil entender o comportamento do povo brasileiro embora o país continue com a sua mesma exuberância e riqueza; é comum jogar toda a culpa sobre a classe política, o que não me parece verdadeiro, embora as ações e o comportamento da maioria não sirvam como exemplo para ninguém, principalmente para as novas gerações. Costumo sempre lembrar que os políticos que estão mandando – e roubando – no país, foram eleitos e reeleitos pelo povo, esse mesmo povo que reclama, xinga, apupa mas, no dia das eleições, sacramenta esses malfeitores, alguns até que estão no parlamento há muitos anos.

É muito complicado entender o comportamento do povo brasileiro; um ex-presidente, campeão de popularidade mas que se encontra preso, pela justiça, por falcatruas, aparece, nas pesquisas, como imbatível nas eleições, caso possa ser candidato, o que não me parece de todo improvável, enquanto nessas mesmas pesquisas, o segundo colocado, deputado federal em sétimo mandato, tem dificuldade para emplacar um candidato a vice e se esforça para fazer alianças. Só no Brasil um político preso, e não é um preso político mas um devedor da justiça, fica “arrotando” valentia e ameaçando meio-mundo e com possibilidades – tudo é possível – de retornar ao poder, com votos de pessoas esclarecidas que vão – ou foram – às ruas, em passeata, pregar moralidade e pedir cadeia para os corruptos.

Sérgio Buarque fala, em seu grande livro, sobre o brasileiro como “homem cordial”; o livro foi escrito em 1936 e é provável que, àquela época, talvez se pudesse fazer essa afirmação; vejamos alguns fatos contemporâneos: o último censo anual mostrou o vergonhoso número de  62 mil homicídios, praticados pelo nosso “homem cordial” que deu, também, para incendiar ônibus em algumas cidades, tal como ocorrido recentemente em Fortaleza; caixas eletrônicos são frequentemente dinamitados, causando prejuízos não apenas aos banqueiros mas à população pois em muitas localidades é o único local de acesso fácil para quem fazer pagamento e sacar algum dinheiro.

Virou uma praga o assalto a caminhões  de  carga, mormente nos  Estados do Rio, S. Paulo e Minas Gerais, contando com a benevolência de comerciantes corruptos que enriquecem comprando o material roubado Crimes monstruosos são praticados até por menores e as cadeias e os presídios já não têm mais onde colocar os malfeitores; prega-se a construção de mais presídios quando a solução seria a educação; não me parece que haja falta de escolas mas como reter o jovem nelas, evitando que vá para as ruas aprender a roubar, a matar, cheirar “cola” e enveredar por outros caminhos do tóxico; e o “homem cordial” continua gerando filho, sem qualquer responsabilidade que, quando estiver crescendo, estará nas ruas, na “universidade” do crime.

O agronegócio está mantendo o crescimento do país mas o êxodo rural ocorreu de maneira abrupta, esvaziou os campos e “inchou”as cidades; as consequências estão aí e a violência é uma delas influenciando no sagrado direito de ir e vir pelas ruas das grandes cidades; veja-se o exemplo da belíssima e inigualável cidade do Rio de Janeiro.

Os problemas, seríssimos, estão expostos e boa parte do povo brasileiro, joga todas as esperanças nas eleições de outubro próximo. O quadro é preocupante e alguma coisa terá que ser feita; os festejos juninos já acabaram, a copa do mundo terminou e, agora, é voltar a pensar no Brasil, tal como fizeram os quatro escritores citados no início desta conversa. O país é grande, belo, rico mas essa riqueza precisa ser melhor distribuída; as desigualdades gritantes não podem continuar; precisamos deixar de ser o país do futuro para ser o país do presente.

João Otávio Macedo, médico
e ex-vereador de Itabuna