QUE SAÚDE QUEREMOS?



Nas duas últimas semanas o noticiário foi comandado por mortes ocorridas em pessoas que se submeteram a tratamentos estéticos, principalmente com a introdução de substâncias que não estavam aprovadas para uso humano mas que a irresponsabilidade, a ganância e, principalmente, nenhum respeito pela vida, faziam com que tais tratamentos fossem realizados; o pior foi que isso aconteceu em S. Paulo e Rio de Janeiro, dois Estados onde se exerce uma medicina de ponta, que pode ser comparada ao que se pratica nos melhores centros do mundo. Chama a atenção que há diversos órgãos que fiscalizam o exercício e o comportamento dos vários serviços de saúde, mas insuficientes para frear a sanha dessa gente que só pensa em aumentar os seus lucros.

Também sem sido mostrado a penúria que se vê em alguns hospitais públicos, com pacientes sem leitos, sofrendo em macas e em cadeiras, quando não jogados ao chão e isso, também, visto em várias partes do país, inclusive nos estados acima citados e em outros que estão fora daquela linha de pobreza encontrada no nordeste. Pacientes aguardando meses e, até, anos, para conseguir a realização de uma intervenção cirúrgica. É este o tipo de atendimento que queremos?

É bem verdade que a solução para um problema tão complexo também não é fácil, mas a situação poderia ser menos vexatória caso houvesse mais seriedade, menos ladroagem e melhor emprego dos recursos – que não são pequenos – numa distribuição mais realista e dentro das necessidades de cada região. No meio desse caos que repetidamente é mostrado pela mídia, encontramos ilhas de excelência, em várias partes do país, principalmente no leste e no sul mas isso se encontra bastante distante daqueles milhões de brasileiros que estão sob o guarda-chuva do SUS (Sistema Único de Saúde), tido como o maior programa de assistência médico-hospitalar gratuito do mundo, implantado após a constituição de 1988, enaltecido por alguns, bombardeado por outros. Que os recursos alocados para o SUS são insuficientes, não há dúvidas mas, por outro lado, que há muito desvio do dinheiro para o bolso dos espertalhões, isso também tem sido mostrado. Os políticos ladrões – com as devidas exceções – estão de olho nos recursos da saúde e da educação, fato também muito mostrado e documentado pelos órgãos de imprensa.

Além desse caos na assistência à saúde da população, passamos a ter uma proliferação desordenada de escolas de medicina, hoje em número de 305; só não temos mais escolas do que a Índia mas suplantamos os Estados Unidos, a China e a Rússia; esse fato tem chamado a atenção de estudiosos para a qualidade do futuro médico, da concentração em determinadas regiões do país e a ausência em áreas mais longínquas; tal qual a distribuição de renda, a distribuição de médicos também é desordenada. Ultimamente o governo tomou a decisão, já um pouco tarde mas, antes tarde do que nunca, em proibir novas escolas de medicina dentro de um prazo de cinco anos. Pelo número de escolas que temos, cerca de 27.000 novos médicos serão diplomados todos os anos, número mais que suficiente para atender as necessidades da população brasileira.

São problemas que deverão ser enfrentados por aqueles que querem chegar aos píncaros do poder nas próximas eleições quando o eleitor deverá ter a máxima cautela na escolha dos seus candidatos. Cuidado com líderes populistas e “salvadores da pátria”.

Médico e ex-vereador