Ramon Vane: 58 anos de entrega à arte e à justiça social



Ramon Vane ok
Ramon Vane, um dos maiores ícones da cultura sul-baiana

Por Celina Santos

 

Numa civilização em que andar armado era sinônimo de coragem, ele usou a palavra como principal arma; numa época em que um só fruto traduzia a riqueza do sul da Bahia, ele encenou a peça “Cacau verde – nem tudo que reluz é ouro”. Neste dia 17 de janeiro, faz exatos 58 anos que nasceu Ramon Vane Santana Fontes. O artista de múltiplos talentos fez de Buerarema – a velha Macuco – seu primeiro e derradeiro palco.

A partir da terra natal, integrou um dos mais efervescentes movimentos do teatro regional, o Grupo de Arte Macuco, junto com os companheiros José Delmo, Zenrique, Gal Macuco, Eva Lima, entre outros. Ali, o celeiro de talentos atraía a vizinhança para a Feira de Arte de Macuco e muitos eventos se espalharam, para deleite dos amantes da cultura.

A atriz Eva Lima, companheira de arte de Ramon Vane por 35 anos, lembra que estreou no espetáculo “Ave de Rapina” tendo ele no elenco, diante de 400 pessoas. “Ramon foi uma linda flor do cacau em minha vida. Fico com a imagem do otimismo, vez por outra, da rebeldia dele; a imagem da inteligência e da alegria em uma pessoa só”, definiu, emocionada.

Como ator, Ramon Vane ganhou projeção nacional, inclusive pelo trabalho no cinema. Em 2011, conquistou o prêmio do 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na categoria melhor ator coadjuvante. A escolha foi pela interpretação do personagem “Pafrente Brasil”, emO homem que não dormia”, do diretor Edgard Navarro.

Beleza e justiça

Formado em Direito, Ramon era visto como “o advogado das causas sociais”. Tal como fomentava reflexões com seus poemas, ele provocava questionamentos diante da “fria letra da lei”. E assim, às vezes desconcertando juristas, brigava pelos ideais em que acreditava.

Ramon Vane faleceu 48 horas antes do aniversário e quatro dias depois de sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral) do tipo isquêmico. Internado no Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães, em Itabuna, ele estava sob os cuidados dos amigos e de três irmãos. Nos últimos tempos, enfrentou a perda dos pais e, há um mês e meio, de uma irmã.

Mas uma marca que ficará para sempre desse profissional das artes é a doçura e a serenidade, mesmo diante das dificuldades da vida. Traduzia com perfeição uma frase que cunhou num bate-papo despretensioso: “A beleza é a contenção do que é útil e bom”. Para a legião de amigos e admiradores, Ramon Vane personificou um dos mais belos exemplos de ser humano.