Somos adestrados pela linguagem



Quem já viu o processo de adestramento de um cão, ou de outro animal? É um processo que consiste em condicionar um comportamento do animal a um som de nossa fala, de nossa linguagem. Assim, posso condicionar o comportamento de ataque de um cão  a uma palavra minha, como também posso condicionar o comportamento de não-ataque, a uma outra palavra. De tal forma que consideramos adestrado um cão que reage com um comportamento esperado aos sons de nossa fala. Disto isto, a conclusão óbvia é a de que o homem é o animal mais adestrado que existe. Por quê? Porque somos obrigados a condicionar o nosso comportamento à linguagem desde que nascemos. Ainda nos braços da mãe, e já nos ensinam sons de palavras para que aprendamos a reagir com sorrisos, com estender os braços.  Os animais espetacularmente adestrados, como os de circo, são adestrados desde pequenos. Por isso o seu desempenho se transforma em espetáculo. Ora, todos os humanos, em qualquer sociedade, são também adestrados desde pequenos pela linguagem. Logo, somos a espécie animal mais adestrada que existe. O poder de adestramento da linguagem é tão grande que ela transforma nosso corpo e nossas necessidades. O discurso religioso pode transformar as necessidades sexuais de um homem e de uma mulher, adestrando-os a viver em castidade. O discurso político comunista adestrou dezenas de jovens a ignorarem o instinto da sobrevivência, o sofrimento da dor na luta contra a ditadura militar brasileira. Basta olhar as pessoas no Shopping: parecem ratos adestrados num labirinto, comendo, comprando, divertindo-se, apresentando os mesmos comportamentos, sob o comando de palavras escritas e faladas.