Rui, Neto e a sucessão



                                                                            *Marco Wense

A oposição ao governo Rui Costa, liderada pelo prefeito ACM Neto, torce para que o chefe do Executivo esteja na lista de inquéritos do STJ.

O Superior Tribunal de Justiça, depois da decisão do STF de que a corte não precisa mais de autorização prévia das Assembleias estaduais para promover abertura de ação penal contra governadores, ficou mais forte.

O ministro Og Fernandes tem razão quando diz que a decisão da instância máxima do Judiciário confere ao STJ um “protagonismo ainda maior na cena política-jurídica brasileira”.

O oposicionismo, coadjuvado pelo PMDB dos irmãos Vieira Lima e o PSDB dos deputados João Gualberto, Jutahy Júnior e Antônio Imbassahy, sabe que precisa de um fato que crie obstáculos à reeleição do petista.

O problema da oposição é o mesmo que do PT nacional. Ou seja, só têm o prefeito ACM Neto e Lula como nomes eleitoralmente competitivos.

Tem até quem diga que Rui Costa, se sair ileso desse lamaçal que toma conta do país, pode liquidar a fatura logo no primeiro turno.

Não à toa que os adversários do governador começam a dar os primeiros passos em direção a um plano B em caso de desistência de ACM Neto.

A tábua de salvação seria o senador Otto Alencar, cuja candidatura já conta com o apoio entusiasmado do deputado Ângelo Coronel, presidente do Parlamento estadual e muito próximo do alcaide de Salvador.

A cúpula do PT, sob o comando de Everaldo Anunciação, acha que toda essa movimentação em torno de Otto, que é do PSD, legenda aliada, é somente para tumultuar e criar intrigas na base governista.

Só resta esperar. A política, como dizia Magalhães Pinto, é como uma nuvem, você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou.

Cuspindo no prato      

A ingratidão é o elemento mais perverso do processo político. Neste caso passa a ser sinônimo de traição e deslealdade.

O governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, anda dizendo que “o PSDB não tem compromisso com o governo Temer”.

Além da patada – ou melhor, da bicada –, Alckmin ainda lança mão do bordão demagógico e empoeirado: “Nosso compromisso é com o povo brasileiro”.

Depois de mamar nas tetas dos cofres públicos, de usufruir das benesses inerentes ao poder, o tucanato quer se afastar do governo Temer como o diabo da cruz.

Esquece o senhor Alckmin que o PSDB foi o grande articulador, junto com o PMDB e o DEM, do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

Ora, ora, quem pariu Mateus que balance, diz a sabedoria popular quando alguém não assume o protagonismo de um fato.

Outro detalhe é que o PSDB tem cinco ministros na gestão temista, incluindo aí o deputado baiano Antônio Imbassahy com a secretaria de Governo.

O PSDB cospe no prato que comeu, não lava e, agora, depois do barco naufragando, sai de mansinho e deixa o comandante a ver navios.

O “Fica Temer” é coisa do passado. O “Fora Temer” passa a ser a nova bandeira do tucanato. Coisas do movediço e traiçoeiro mundo da política.

Os pré-candidatos de FG

Não estou acompanhando o desenrolar das pré-candidaturas de Sérgio Gomes e de Rafael Moreira para à Assembleia Legislativa do Estado.

Não sei nem a que partido estão filiados ou por qual legenda pretendem disputar uma vaga no Parlamento. Sérgio e Rafael têm em comum o fato de não terem identificação partidária.

Buscam o atalho e o pragmatismo como os melhores caminhos para alcançar o sucesso político, independente de partido X, Y ou Z. Nesse ponto são convergentes.

Moreira e Gomes sabem que o primeiro passo é conquistar o apoio dos integrantes do primeiro escalão do governo Fernando Gomes.

Nos bastidores, alguns titulares de cargos de confiança já dão sinais da sua escolha. Outros declaram publicamente, como Claudio Dourado, do SETRAN, em favor de Sérgio Gomes.

Não sei como anda o relacionamento político e pessoal entre os pré-candidatos. Mas a união para evitar o surgimento de um terceiro nome é indispensável.

  Cada vez mais complicado        

Essa agonizante preocupação do presidente Michel Temer em devolver o foro privilegiado a Rodrigo Loures é a prova inconteste do receio de uma delação premiada.

Louros, agora um ex-deputado federal, o homem da mala de R$ 500 mil de propinas pagas pela JBS, espera que o amigo faça alguma coisa para que ele retorne ao Parlamento.

A tentativa de nomear o ex-ministro da Justiça, Osmar Serraglio, para o ministério da Transparência não deu certo. Loures é suplente de Serraglio.

O problema é que interlocutores do “homem da mala” já fizeram chegar ao Palácio do Planalto, em tom de ameaça, que a situação começa a ficar insustentável.

A manchete de hoje nos principais jornais, de que o Ministério Público Federal pediu a condenação de Palocci por corrupção, aumentou ainda mais a pressão sobre Temer.

Ou devolve o foro privilegiado a Rodrigo Rocha Loures, do PMDB do Paraná, ou então o risco de um explosivo depoimento no âmbito da Operação Lava Jato.

O pior é que as tentativas para tornar Louros um “privilegiado” pode ser interpretada como uma obstrução da Justiça. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

     Bancada baiana           

Composta por três senadores – Otto Alencar (PSD), Roberto Muniz (PP) e Lídice da Matta (PSB) – e 39 deputados, a bancada baiana é a quarta maior do Congresso.

Félix Júnior, presidente estadual do PDT, vai coordenar o bloco em Brasília nos próximos dois anos. Somente nove parlamentares deixaram de votar no pedetista.

“A indicação mostra a confiança no trabalho desenvolvido por mim na Câmara. Espero poder representar bem o parlamento e contribuir ainda mais para a unidade da bancada em defesa dos interesses do estado”, diz Félix.

Félix Júnior, agora como coordenador, vai ter que separar sua atuação parlamentar da função de representante da bancada baiana.

Com essa nova e desafiadora missão, o deputado Félix tem três vertentes: o seu próprio posicionamento, o do PDT e o do bloco parlamentar baiano.

            Alimentando o monstrengo

Não tenho a menor dúvida de que a impunidade é a grande responsável por todo esse lamaçal que toma conta do país.

Essa MP editada pelo presidente Temer que mantém Moreira Franco como ministro e com foro privilegiado é a prova inconteste de que o monstrengo está vivíssimo.

Aliás, a impunidade é a grande inimiga do cidadão comum. É preconceituosa com os pobres e com quem não tem prestígio.

Pois é. O senhor Moreira Franco, ex-governador do Rio de Janeiro, é investigado em dois inquéritos autorizados pelo STF, sendo que um deles no âmbito da Operação Lava Jato.

O senhor Moreira Franco foi citado mais de 30 vezes nas delações dos diretores da Odebrecht e é investigado na chamada “farra das passagens”.

Enquanto isso, as penitenciárias estão abarrotadas de “ladrões de galinhas”, sem falar nos presos que já deveriam estar soltos.

O princípio constitucional que mais simboliza o estado democrático de direito, é o que diz “que todos são iguais perante a lei”. Do contrário, é farsa, simulacro de democracia.