Já tem algum tempo, meu caro leitor, que a gente pode perceber um movimento crescendo em alta em torno do autoconhecimento, evolução, melhoramento e espiritualidade.
Mas, antes de estabelecer qualquer tipo de raciocínio aqui nesta coluna, acredito que seja importante a gente conversar um tiquinho sobre o que é espiritualidade – conceito que vem sendo amplamente divulgado, debatido. Precisamos diferenciar religião de espiritualidade. A ideia de religião é baseada em um conjunto de crenças, doutrinas e práticas próprias de um grupo social que possui determinada visão e concepção do divino e a sua relação com o homem e a fé. Já a espiritualidade passa por um viés mais amplo, é tudo que tem como objetivo a busca pelo propósito de estarmos aqui, pelo sentido da vida, pela conexão com algo maior. Existe até mesmo, meu caro, a ideia de espiritualidade no meio do ateísmo, que busca uma abertura para o reconhecimento da dimensão ilimitada da existência, de nossa relatividade numa explicação não religiosa, mas que vá além do intelecto.
Pois bem, como a gente tem visto muito falar sobre essa busca por propósito, por evolução, por melhoramento, por amadurecimento emocional e comportamental, muitas pessoas têm procurado trilhar esse caminho. Maraviwonderful! Mas, querido leitor, nós somos seres guiados pelo desejo de aceitação, de aprovação, de reconhecimento, de pertencimento. Agora, acompanhe comigo: imagine que você está vendo por todos os lados informações sobre a importância de a gente se olhar, observar padrões, condicionamentos, posturas. Imaginou? Vamos para frente, agora você percebe seus familiares, seus amigos, pessoas que você convive lendo sobre o assunto, se interessando, colocando em prática a teoria, conversando sobre tudo isso com você, na busca de trocar experiências, vivência e percepções. E você não está ainda trilhando esse caminho. Todo mundo falando sobre e você começa a se sentir deslocado, um peixe fora d’água.
Como qualquer outro ser humano na face deste planeta chamado Terra, é natural que você comece a sentir a necessidade e o desejo de ser pertencente de novo e começa a ler uma coisinha sobre autoconhecimento aqui, puxa uma prosa ali…, mas a busca está sendo real?
A caminhada de autoconhecimento e espiritualidade traz alguns estereótipos. E algumas cobranças. Agora que você começou a meditar, por exemplo, não pode sentir raiva, não pode se exaltar. Tem que estar sempre com as mãozinhas com posição de “namastê“, com um sorriso de Buda nos lábios. Mesmo que, por dentro, esteja acontecendo o maior rebuliço!
Mostrar que é. Sem ser.
Mostrar que medita, mostrar que busca, mostrar que se conhece, mostrar que está na caminhada. Mostrar que está equilibrado, quando não se está.
O que é verdade? O que é ego, numa necessidade de parecer espiritualizado e evoluído?
O que é vaidade? Até que ponto a gente encara mesmo os medos, fantasmas, dores de frente? Até que ponto a gente foge? Até que ponto a gente ainda usa muletas? Até que ponto eu sou verdadeiro com aquilo que eu sinto? Até que ponto eu preciso que os outros reconheçam minha mudança e amadurecimento?
Lá no fundo, naquele lugarzinho que só você acessa, a busca pelo autoconhecimento, evolução e espiritualidade está sendo vivida ou está sendo mostrada?
Mais verniz ou mais raiz?
Evoluí?
* – Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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