A entrevista do governador Rui Costa na revista Veja, nas suas páginas amarelas, continua causando um pega-pega no PT que há muito não acontecia, envolvendo gente graúda da legenda e o comando nacional.
O morador mais ilustre do Palácio de Ondina fez três declarações que deixaram o staff petista irritado. Uma foi dizer que “a bandeira Lula Livre não deve ser condicional para que o PT forme alianças com partidos”. A outra que o PT deveria apoiar Ciro Gomes em 2018. A terceira é que se encontra disponível para disputar a sucessão presidencial de 2022.
Ao dizer que o PT deveria apoiar o então presidenciável do PDT, Rui Costa termina concordando com o óbvio ululante, que a candidatura de Fernando Haddad e o enraizado antipetismo elegeram Bolsonaro. Ao colocar seu nome como pré-candidato à presidência da República, o petista-mor da Bahia se junta aos que não acreditam na elegibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o que teria deixado os companheiros mais chateados, tiriricas da vida, foi Rui ter dito que o movimento “Lula Livre” não deve ser “condicional” nas conversas com as agremiações partidárias de esquerda e centro-esquerda.
Em nota, evidentemente com o aval de Lula, que mesmo preso dita o caminho que o petismo deve seguir, e que acaba de ficar surpreso com a “rebeldia” de Rui Costa, o Partido dos Trabalhadores nega que esteja impondo a defesa do “Lula Livre” como condição para dialogar com os partidos e outros setores da sociedade.
Na nota, o PT diz que Fernando Haddad “só não venceu a eleição pelo uso criminoso de notícias falsas pela campanha de Bolsonaro”. Ora, os dois lados usaram esse nojento e deplorável expediente. Salta aos olhos que o bolsonarismo foi mais competente e cruel. Ora, ora, até as freiras do convento das Carmelitas sabem que Haddad, além de ser um presidenciável fraco, considerado um dos piores prefeitos da história de São Paulo, foi derrotado pelo gigantesco antipetismo, que não atingia Ciro Gomes. Vale lembrar que todas as pesquisas de intenções de voto davam vitória de Ciro enfrentando Bolsonaro em um segundo turno.
E por falar em mentira, a nota do PT diz que Ciro Gomes nunca teve a intenção de construir uma alternativa no campo da centro-esquerda. Que coisa, hein? Ciro tentou por diversas vezes a unidade, conversou com o PSB, PCdoB, com outros partidos e até com o próprio PT, cuja soberba é pública e notória.
Quem destruiu e sabotou a imprescindível busca da unidade foi o PT, a loucura irresponsável de lançar um “poste”. O PT agiu de maneira sorrateira, dando punhaladas pelas costas, que o diga Ciro Gomes.
Parte do petismo já considerava Ciro Gomes como adversário e caminhando para ser inimigo político. Não se conforma com as firmes opiniões do pedetista, com suas ácidas e contundentes críticas aos governos de Lula e Dilma Rousseff, principalmente e respectivamente no campo moral, com os escândalos de corrupção, e no econômico com a desastrosa política econômica, que quase leva o país ao caos.
O sincero desabafo do governador Rui Costa terá como principal consequência seu isolamento, que vai ser em doses homeopáticas. Sua legítima e democrática pretensão de disputar o Palácio do Planalto subiu no telhado. Se depender exclusivamente de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, Rui deve procurar outro abrigo partidário.
Concluo o comentário de hoje com o último parágrafo do modesto editorial de ontem: “Ou o PT calça as sandálias da humildade ou vai ficar isolado. Que o petismo mais lúcido ouça os conselhos do governador Rui Costa”.