Eu acredito seriamente que tudo é uma coisa só e que está tudo ligado e interligado. Há sabedoria em tudo! Cada pedacinho deste mundo pode nos trazer uma lição, uma reflexão, uma epifania, um clique para entender algum comportamento nosso, um empurrãozinho para iniciar uma mudança em nós. A natureza, o Universo, as pessoas, os animais, os relacionamentos, as águas, o sol, a chuva, as estações trazem consigo verdadeiros ensinamentos. Já parou para observar, querido leitor?
Pois bem, eu crio gatos. Eles me escolheram para ser tutora deles, essa é a grande verdade. Mas o fato é que eles me mostram grandes verdades e passam ensinamentos fantásticos. A grande lição que eu aprendi convivendo, observando e entendendo o comportamento dos gatos é a respeitar o espaço do outro. É compreender que as coisas não acontecem do jeito, da forma e na hora que eu desejo, idealizo, quero, faço birra e bato o pé.
Vou explicar melhor, repare. O comentário mais unânime que eu ouço quando digo que tenho gatos é de que eles são frios, independentes, interesseiros e sorrateiros. Mas por qual razão a grande maioria das pessoas tem – e eu também tinha, até conviver com eles – essa ideia? E aí, conversando cá com meus botões, com alguém aqui, com alguém acolá, passei a entender que nós, seres humanos, nascidos na face deste planeta chamado Terra, não sabemos lidar com a rejeição, com o não, com a recusa. E, sendo mais dura ainda, a gente não sabe respeitar o espaço do outro.
A grande diferença entre cães e gatos é que os primeiros têm você como o ser mais importante de vida deles. Quando você vai brincar, dar atenção, fazer carinho em um cachorro, ele para o que estiver fazendo para receber, retribuir e fazer daquele momento uma verdadeira festa. Ele pode estar roendo o osso mais gostoso do mundo, pode estar tirando a soneca mais delícia da vida, pode estar fazendo o que for, ele para, recebe a sua atenção e faz você se sentir a pessoa mais especial da galáxia. E é isso que a gente deseja em nossas relações: ser o centro. Ter atenção total. Independente do que o outro esteja fazendo, queremos ser prioridade, queremos nos sentir especiais.
E agora eu te pergunto: por que os gatos são frios, meu caríssimo leitor? Porque eles não fazem isso. Os gatos são extremamente carinhosos, companheiros, parceiros; mas eles impõem limites ao espaço deles. E ao nosso também. Se você quiser fazer carinho em um felino num momento em que ele não estiver afim de receber, ele simplesmente levanta e sai. Caso você insista, ele solta um grunhido, como se estivesse te alertando que aquele não é o momento e, caso você continue insistindo, ele te morde ou te dá um tapa e sai, desfilando toda sua majestade e imponência. Ou seja, respeite o meu espaço, o meu momento e a minha vontade. E isso nos causa profundo desconforto, porque a tendência da nossa mente é gritar, instantaneamente, que o outro não nos deu atenção porque não nos ama, não somos importantes ou não somos merecedores daquele amor. Não respeitamos o espaço, o momento e a vontade do outro. Daí passam a pintar os lindos e maravilhosos gatinhos, somos seres estranhos, frios e interesseiros, que só te procuram quando querem comida.
Os mesmos limites e respeito que os gatos estabelecem com o espaço deles, eles fazem com os nossos. A forma do gato se fazer presente e te dar carinho, atenção e afeto é se aproximando: ele chega perto, te olha, deita do teu lado, ronrona, faz uma massagem, senta no teu colo e espera. O gato espera você retribuir, como se te dissesse: ó, estou aqui, você quer, pode e está disponível agora?
E quando os dois estão presentes, inteiros, abertos e disponíveis, ah, meu querido leitor, a energia e o amor que se criam naquele momento são transformadores, revigorantes e fazem um bem danado; porque ali, naquele instante, os dois querem a mesma coisa e respeitam mutuamente as vontades.
São verdadeiros mestres.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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