A expectativa é grande em torno da coletiva de hoje à tarde de Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde do governo Bolsonaro, obviamente sobre o cruel coronavírus, a “gripezinha” do chefe do Palácio do Planalto.
Seria mais uma entrevista normal, com Mandetta informando a atual situação da crise e as medidas que estão sendo tomadas para evitar que o vírus, que tem um alto poder de contaminação, se espalhe rapidamente.
Mas, infelizmente, a coletiva, depois que Bolsonaro saiu às ruas ontem, sem nenhum tipo de proteção, desdenhando e debochando das recomendações das maiores autoridades do mundo científico, vai ter um viés político, que pode desencadear a demissão de Mandetta, cujo trabalho vem sendo elogiado até mesmo por lideranças importantes da oposição.
Que coisa, hein! Governantes de vários países, a Organização Mundial de Saúde (ONU), estudiosos sobre o assunto, cientistas, sanitaristas, renomados médicos, enfim, todos defendendo o isolamento social como o melhor “remédio” para evitar a proliferação acelerada do coronavírus, e Bolsonaro contra, de birra com o ministro Mandetta.
Até seus dois ministros considerados como “imexíveis”, Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Paulo Guedes (Economia), são a favor das medidas tomadas por Mandetta. Moro não diz nada, tem receio do presidente se aborrecer e não indicá-lo para uma vaga no STF. Guedes ainda ousa dizer que “é preciso fazer o isolamento”.
Vale lembrar que já passou pela cabeça do presidente Bolsonaro, por mais de duas vezes, demitir Moro. Só não materializou o desejo em decorrência de pesquisas que apontavam uma acentuada queda na sua popularidade se Moro fosse demitido. Com efeito, a importante e imprescindível Operação Lava Jato, que teve o ministro na linha de frente, fez crescer o antipetismo, que terminou sendo o maior “cabo eleitoral” da campanha do então candidato Bolsonaro.
Ora, até as freiras do convento das Carmelitas sabem que Bolsonaro está forçando a saída do ministro da Saúde, que já avisou, em alto e bom som, e também em letras maiúsculas, que não vai pedir demissão.
Pois é. Governo versus governo = governo sem governante = navio sem comandante. É lamentável. Até quando a maior autoridade do país vai ficar sem juízo, sem entender que a situação é gravíssima, que pode tirar a vida de milhares de pessoas? Os religiosos, diante desse cenário, costumam dizer que “só Deus na causa”.
O ministro Mandetta vai ratificar todas as decisões já tomadas, mais especificamente a do isolamento social. Sua demissão pode acontecer hoje e, no seu lugar, provavelmente mais um general no primeiro escalão do governo.
Mandetta usou o poeta Drumond para mandar um recado a sua equipe: “No meio do caminho, uma pedra”.