Não queria comentar a sucessão presidencial de 2022. Acho o assunto intempestivo e inoportuno diante dessa preocupante crise provocada pelo cruel e devastador coronavírus. A cobrança, no entanto, por parte de meus parcos leitores, é grande e quase que diariamente.
A indagação maior é se o presidente Jair Messias Bolsonaro vai se reeleger, como aconteceu com FHC, Lula e Dilma Rousseff. Quase sempre respondo que ainda é cedo para fazer uma análise mais apurada. Não adianta. Os parcos leitores continuam insistindo.
Cheguei a conclusão que o melhor caminho é externar minha opinião, mesmo sabendo que o processo político, como dizia o ex-banqueiro Magalhães Pinto, é como a nuvem, “a cada olhar, enxerga-se um novo formato”. Diria também que o mundo político, além desse inerente cinetismo, é traiçoeiro e perverso.
Então, “vamos lá”, como diz um amigo bolsonarista doente, daqueles que acham que não tem nada de mais o presidente fazer um churrasco diante de um cenário com milhares de mortos e chegando a quase 140 mil contaminados pelo maldito vírus. E o pior: o sistema de saúde caminhando para um colapso total.
De início, devo dizer que não será nenhuma novidade, nada espantoso, se Bolsonaro ficar de fora do segundo turno, cedendo o lugar da direita para o ex-ministro Sérgio Moro, hoje o maior adversário do chefe do Palácio do Planalto na sucessão de 2022.
Bolsonaro ainda tem um terço do eleitorado. Se o pleito presidencial fosse hoje, o mandatário-mor do país, a maior autoridade do Poder Executivo, iria para a segunda etapa eleitoral. Mas, como já falei acima, a política é como o formato das nuvens.
O segundo mandato consecutivo do gestor da República só será conquistado se seu adversário no segundo turno for um petista. E se for Haddad novamente, melhor ainda. O gigantesco antipetismo vai continuar como “cabo eleitoral” imprescindível para o projeto da reeleição. Se disputar o segundo turno com Moro (ainda sem partido) ou Ciro Gomes (PDT), perde.
Nos bastidores do staff bolsonariano, entre os bolsonaristas mais próximos do presidente, uma possível composição entre Moro e Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, preocupa. Mandetta seria o vice de Moro.
No mais, esperar o que vem pela frente, não só em relação a crise do coronavírus como no campo da economia. Se o presidente continuar nessa pegada, protagonizando uma crise atrás da outra, a estrada da reeleição vai ficando cada vez mais intransitável.
PS – Vale lembrar que dos três discursos fortes do então candidato Bolsonaro, dois foram para o espaço: o toma-lá-dá-cá e o combate à corrupção. O primeiro evaporou-se com a aliança com o chamado Centrão. O segundo ficou enfraquecido com a saída de Moro do governo. Só restou agora a “bandeira” do antipetismo, que não é mais exclusiva. Outros presidenciáveis também querem o “Fora PT” como estandarte.