Vou começar o editorial de hoje com o jornalista Chico Alves: “Difícil pensar em crime mais cruel por parte de um gestor público do que, em plena pandemia de coronavírus, roubar dinheiro destinado a aparelhos, insumos e leitos para pacientes da doença”.
A declaração do colunista do UOL Notícias, que tem parceria com a Folha de São Paulo, rompe fronteiras, é universal. Atinge centenas de “homens públicos” com aspas, os larápios do dinheiro do cidadão-eleitor-contribuinte. São gestores de si próprio, do enriquecimento ilícito, das falcatruas, da roubalheira desenfreada, da encrustada corrupção.
Digo que esses “homens públicos” são como germes, verdadeiros vírus, uma espécie de covid-20. Seus sentimentos estão podres, putrefatos. São seres humanos desprovidos de humanidade. Que sejam julgados e condenados sem dó e piedade. O pior dos castigos ainda é muito pouco para os moleques, os canalhas.
O que chama atenção nos ladrões, nos “homens públicos”, nessa corja de gente que tem o mesmo cheiro daquilo que gato esconde na areia, é o cinismo, o descaramento. É pensar que todos nós somos idiotas, abestalhados.
Esses “homens públicos” adoram o “não sei de nada”. O escândalo no governo do Rio de Janeiro é o mais recente cinismo. Encontraram mais de R$ 6 milhões, em cédulas de R$ 50 e 100, na residência do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, suspeito de participar de uma organização criminosa que fraudou vários contratos de compras de ventiladores.
Sobre o rombo nos cofres públicos, que pode ultrapassar a R$ 260 milhões, e a dinheirama encontrada na sua casa, quem sabe até debaixo da cama, o ex-homem de confiança do governador Wilson Witzel lançou mão do “não sei de nada”. E um “não sei de nada” sem demonstrar nenhum constrangimento ou preocupação.
Eles, os ladrões do dinheiro meu, seu, nosso, de dona Maria, senhor João, de quem mora numa mansão ou em um casebre, até mesmo de quem não tem onde morar, são terríveis. O prazer de roubar é insaciável. Religiosamente falando, deveriam ser politicamente “excomungados”, impedidos de disputar cargo eletivo, inelegíveis “in aeternum”, para sempre.
“Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente. Seu filho sem escola, seu velho tá sem dente. Você tenta ser contente, não vê que é revoltante. Você tá sem emprego e sua filha tá gestante”.
“Até quando você vai levando porrada, porrada? Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai ser saco de pancadas?” (Canção de Gabriel, o Pensador).
Concluo o comentário com a mesma indignação de Gabriel: Até quando a impunidade vai continuar triunfando? Até quando tanta injustiça social, com tanta miséria e muita gente morrendo de fome? Até quando vão desprezar o preceito constitucional de que “todos são iguais perante a Lei”?
Até quando?