Complementares


Mariana Benedito*: “O mundo não para esperando que a gente se decida"


 

Eu não sei você, meu amado leitor, mas eu vivi muito tempo da minha vida gastando energia com dilemas desnecessários. Perdi tempo tentando escolher entre coisas que não eram opostas.

Na verdade, a gente cresce ouvindo que não se pode ter tudo na vida, que é sorte no jogo e azar no amor. Crescemos sendo bombardeados por crenças que nos limitam e nos fazem acreditar que tudo precisa ser 8 ou 80, que precisamos escolher e categorizar tudo o tempo inteiro. É preto, é branco, é alto, é baixo, é bonito e é feio. Assim seguimos colocando tudo em caixas, limitando a nossa realidade com fantasias e, num grau ainda mais profundo de análise, escondendo uma enorme preguiça e falta de maturidade para meter a mão na massa e ser alguém de valor na vida.

Por muito tempo acreditei que eu precisava escolher apenas um caminho. Ou me dedicava à realização profissional, ou me dedicava à construção de um relacionamento saudável. Ou seguia o caminho da graduação em Administração, com especialização em Marketing ou seguia o caminho da Psicanálise, mente e comportamento humano. Ou ministrava cursos e encontros de meditação ou saía para dançar e me divertir com amigos, varando a madrugada e gargalhando alto. Ou isso ou aquilo. Ou. Ou. Ou.

Parei! Parei com essa ideia de ou isso ou aquilo porque percebi que, ao passo que ficava decidindo entre uma coisa e outra, não fazia nem uma e nem a outra. A dúvida blindava uma acomodação, uma estagnação e uma inércia, que eu atribuía à busca por um caminho perfeito. Estava buscando o que era melhor, o que sintonizava mais com minha jornada e, enquanto isso, a jornada estava passando sem me esperar decidir. O mundo não para esperando que a gente se decida, ele deseja mesmo é que a gente se movimente!

As coisas são complementares. Ter uma carreira profissional em ascensão é complementar a ter um relacionamento saudável e maduro; em cada um nós desenvolvemos valores e construímos pilares essenciais para a nossa vida. Cada um traz seus próprios desafios e vitórias. Mas é preciso dedicação para ambos. É preciso deixar de fugir da carência, do vazio, do medo, da ansiedade, do que a gente sente enfiando a cara no trabalho e deixar de fazer da vida do outro o único pilar da nossa, nos abandonando. É preciso estar firmado na realidade, atento às demandas de cada situação, atento às demandas do outro, aberto para construir algo bacana. Substituir o “ou” por “e”.

As coisas são complementares. Hoje, depois de muito me enrolar e me sabotar, construo minha carreira profissional unindo a administração, o marketing, a comunicação e a psicanálise. Essa sou eu! Essa é minha cara! Esta coluna só existe por isso, você só está me lendo aí do outro lado, meu amado leitor, porque eu entendi que não precisamos perder tempo com dilemas entre coisas que podem se complementar. A gente deve prestar atenção às coisas grandes e às coisas pequenas, parando com a mania de contrapor as coisas.

Observe, meu caro, se existe aí dentro de você uma dúvida entre uma coisa ou outra. As duas coisas são realmente excludentes? Uma impossibilita necessariamente a existência da outra? Se não, você está perdendo tempo inventando quinhentas e setenta e oito desculpas para não fazer nem uma e nem outra.

Lembre sempre: substitua o “ou” pelo “e.”

As coisas são complementares.

 

*– Psicanalista; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;

E-mail: [email protected]