Olha, meu amado leitor, ao longo desta minha iniciante caminhada na seara do autoconhecimento, umas das coisas mais fantasiosas que eu ouvi é que, em algum dia, chegaremos ao patamar de nos relacionarmos de maneira perfeita, que não enfrentaremos desafios, que saberemos cada passo a ser tomado. Caso você já tenha ouvido isso também, meu caro, venho aqui decepcioná-lo.
Não tem jeito, estamos vivos e em movimento! Nossas emoções estão vivas, fazem parte de nós, nos norteiam e trazem as lentes com as quais enxergamos o mundo, as situações e as pessoas. Fazemos planos, criamos expectativas, temos momentos de carência, insegurança, medo. Não há como fugir disso.
Uma das grandes ilusões que a gente pode carregar nesta vida é acreditar que, porque lemos meia dúzia de livros, começamos a conhecer os nossos monstrinhos, iniciamos o processo de ampliação de consciência, vamos estar imunes à dureza da vida. Não sentiremos medo, raiva, incômodo, tristeza e vontade de chorar em posição fetal. Sentiremos tudo isso! Ter conhecimento acerca de nossas questões internas não significa que nos tornaremos menos humanos.
Muitíssimo pelo contrário, meu amado ser que me lê aí do outro lado destas linhas! Quanto mais a gente caminha por essa trajetória do autoconhecimento, mais vigilante a gente se torna para perceber que a vida faz seus próprios movimentos que nos impulsionam a construir valores, que nos chacoalham para que a gente derrube os muros que criamos em direção ao amor.
Quanto mais passos a gente dá nesta jornada de autoconhecimento, mais nos tornamos responsáveis por nós mesmos. A cada passo nesta caminhada, mais percebemos a importância de cuidar das nossas dores como se elas fossem nossa responsabilidade, quebrando com este ciclo vicioso de ficar procurando culpados e vilões e nos colocando, na maioria esmagadora das vezes, como vítima ou mocinho da história, esperando que vejam o quão maravilhosos e incríveis e brilhantes e especiais nós somos.
Não, não somos especiais. Não saberemos lidar com tudo sempre, não sabemos o que é melhor para o outro com quem nos relacionamos, não temos condições de apontar erros e faltas dos nossos pais e cuidadores. Que a gente seja nossos próprios cuidadores e salvadores.
Somos humanos e esta é a nossa condição! Enquanto a gente estiver vivo, vamos estar sendo colocados diante das nossas mazelas nas nossas relações. Vamos querer que o outro nos supra onde não lhe cabe nos suprir. Vamos desejar e criar expectativas que o outro não tem condição de cumprir.
A chave-mestra aqui, meu amado ser, é entender onde o nosso calo aperta, onde a nossa dor dói, para que a gente possa conhecer os nossos gatilhos e esteja atento para quando a ferida ameaçar latejar.
Não é que a dor vai parar de doer, não se iluda. É a gente que vai descobrindo o melhor tratamento, essa é a nossa missão ao se relacionar.