Por Celina Santos*
Em plena era da liberdade de expressão, o jornalista não pode fazer perguntas alusivas a assuntos de interesse público? Precisa mesmo responder de forma grosseira quando algo provocou constrangimento em nossas autoridades? Que democracia é essa, para vermos exaltação ao tempo em que não se podia formar um grupo de amigos no meio da rua para bater o bom e velho papo?
Desculpem o desabafo, mas é doloroso ver um companheiro de trabalho apurar um fato o dia inteiro, com RESPONSABILIDADE, para dar a notícia ao vivo no dia seguinte e ver duas pessoas saltarem em frente à câmera berrando que aquele veículo era lixo.
Como assim? O trabalho exercido há anos, com toda dignidade, não merece atenção e respeito? Eis um exemplo recente em Itabuna, sul da Bahia, mas sabemos de acontecimentos semelhantes em vários estados, Brasil afora. La-men-ta-vel-men-te!
Esta semana, vimos uma manifestação pública pelas tão perigosas redes sociais fazendo piada com o passado de uma jornalista que fora presa grávida, por três meses, durante a Ditadura Militar (sem eufemismos, por favor!). Parte desse tempo, testemunhou, na companhia nada aprazível de uma cobra.
A ironia recordando o tal episódio na prisão deu-se um dia após a profissional exercer a liberdade de criticar uma autoridade (sim, posição conferida pelo voto popular a cada quatro anos). A vontade é ralhar: “seus pais não lhe deram educação?”. Opa …
É triste ver que o trabalho sério daqueles que buscam averiguar os fatos antes de noticiá-los (sim, eis um dos papéis do verdadeiro jornalista) relegado à suspeita de “fake” (termo norte-americano para designar o que é falso). Tudo aquilo que não cabe num legítimo veículo de comunicação, vale reiterar.
O mais perverso é ver tantas pessoas acreditando no que leem por aí; colocando a própria saúde e/ou o bem-estar dos filhos em risco; alguns até confessando que não se informam pelos canais onde haja jornalistas (diferente dos que espalham boatos, pois a esses cabe apenas o velho termo fofoqueiro).
Mas hoje, 07 de abril, Dia do Jornalista, vamos exaltar os mágicos resultados do trabalho feito com compromisso. Aquele que permite ver a alegria de uma mulher aposentada após penar por anos com uma doença crônica e saber que um texto seu contribuiu com tal resultado.
Aqui falamos de dona Edna Oliveira Melo. Lembram dela? (Essa história foi tornada pública em 2009, a partir de um texto assinado por esta que vos escreve e logo abraçada pelos colegas jornalistas em Itabuna. No ano passado, em tempos de pandemia, ela seguiu para outro plano).
E a alegria de alguém que encontra um familiar desaparecido, quando foi vista a imagem dele em uma reportagem escrita ou em vídeo? Ou a festa quando entrevistamos um centenário ou centenária, dali colhendo lições de vida que não têm preço…?
Eu poderia citar (com licença para encerrar na primeira pessoa do singular) “n” exemplos, mas fico por aqui celebrando esta valorosa missão. Ao mesmo tempo, rogando para prevalecer na sociedade a certeza de que são maioria, sim, os profissionais a honrar nossa profissão.
* Celina Santos é Chefe de Redação no jornal Diário Bahia e integra a assessoria da Câmara de Itabuna. Formada em Comunicação Social (Rádio e TV) pela Uesc; Jornalismo pela FTC; pós-graduada em Jornalismo e Mídia pela então FacSul