João Otavio Macedo: POPULISMO GRAPIÚNA


“na política, mais do que capacidade e honradez, vale o carisma e isso sobra nesses líderes populistas”


 

O advogado e historiador VERCIL RODRIGUES é uma pessoa denodada; edita o jornal DIREITOS e ele próprio sai propagando e distribuindo o jornal; faz parte de algumas associações e em todas empresta o seu entusiasmo e a sua competência. São pessoas abnegadas como o Vercil que fazem muitas entidades se manterem de pé e incentivam outras também a enveredarem pelo trabalho comunitário.

O último trabalho literário de Vercil é um livro que estava faltando, pois refere-se a um tema até então só discutido nas rodas de conversa e que não havia ainda alcançado uma abordagem mais ampla: o populismo. O nosso citado historiador escolheu um ex-prefeito de Itabuna como exemplo de um autêntico populista e por aí vai discorrendo sobre o populismo, no mundo, no Brasil até chegar às plagas grapiúnas.

O autor mostra que essa praga política está presente em várias partes do mundo; no nosso Brasil vamos encontrá-la em vários momentos da história política, principalmente depois da era Vargas passando por João Goulart, Jânio Quadros, Adhemar de Barros, não esquecendo alguns líderes populistas latino-americanos como Juan Domingo Peron, Lazaro Cárdenas, Victor Paz Estensoro, Hernán Siles Zuazo. O autor cita os sociólogos argentinos Gino Germani e Torcuato di Tella, para quem o “populismo ocorre numa situação de transição”, isto é, na passagem da assim chamada sociedade tradicional agrária, pré-capitalista atrasada – para a sociedade moderna – capitalista, urbana e industrial.

As raízes do populismo estão na assincronia entre os processos de transição de uma sociedade para outra.

O autor vai desfilando sua tese, com explicações bem didáticas, até chegar no populismo grapiúna, encarnado na figura do ex-prefeito de Itabuna, José de Almeida Alcântara, o foco do seu brilhante trabalho.

Esse eu conheci bem e participei das eleições em que saiu vitorioso, embora sem lhe confiar o meu voto. Era coletor estadual, com alguns processos por improbidade administrativa, apesar dos seus apoiadores jurarem contritos que ele tirava o dinheiro do estado para distribuir com os pobres e que tudo teria começado na enchente de 1947, quando era coletor em Itapé e aquela localidade quase que desaparece sob as águas do Cachoeira; começava aí os seus primeiros voos nas artimanhas da política até que, em 1958, conseguiu a eleição para prefeito de Itabuna, derrotando Nestor Passos, Aderson Rayol dos Santos e Miguel Moreira; em 1963 elegeu-se deputado estadual, retornando à Prefeitura de Itabuna em 1967. Faleceu no dia 7 de abril de 1968, quando exercia o segundo mandato como prefeito.

Acompanhando a história da nossa região, do país e do mundo, desde os 10 anos, tenho na memória os principais fatos ocorridos durante todos esses anos, graças ao noticiário radiofônico, e da imprensa, numa época em que esta parecia mais séria e mais fiel; a televisão ainda não havia alcançado estas paragens. Aprendi que, na política, mais do que capacidade e honradez, vale o carisma e isso sobra nesses líderes populistas. Tudo que o Vercil diz sobre José de Almeida Alcântara é a mais pura verdade e se ele ainda estivesse vivo, creio que ainda estaria dominando a política da cidade, embora outros líderes populistas tenham surgido para disputar com ele.

Os comícios de Alcântara eram grandiosos em número de pessoas, com muitos homens sem camisa e com “colher de pau” à mão, que era o símbolo de sua campanha e entoando a composição de João do Vale: “pisa na fulô, pisa na fjulô, “seo” Arcantra já ganhou. Um dos apoiadores costumava colocar o candidato no “cangote”, apesar de ser um candidato corpulento e pesado e gritava anunciando: vou “parmear Arcantra”.

Há mais coisas para contar sobre essa política que vivenciei nos anos quarenta e cinquenta; embora menino, acompanhava meu pai nos comícios e passeatas e lia o que a imprensa noticiava, verdade ou não.

A política mudou? Continua a mesma, com outros personagens e outras parafernálias modernas, como a televisão e a internet e o abandono dos comícios, verdadeira festa para o público que gostava de ouvir e aplaudir os bons oradores.

Aconselho os (as) leitores (as) para lerem o livro do Vercil Rodrigues para aprenderem sobre o populismo, essa praga que domina boa parte da política mundial.