A DANÇA DA PANDEMIA


Artigo de João Otavio Macedo


Estamos caminhando para o final de um ano atípico, difícil, de muito medo e apreensões e sem as esperanças de um breve retorno à rotina que vivíamos até a eclosão dessa terrível pandemia; como escrevi, recentemente, estamos todos nesse bloco imenso de “mascarados” e com os cuidados necessários para não nos tornarmos vítimas da ação nefasta desse vírus.

Temos uma rede de informações que, infelizmente, nem sempre merece fé, muitas vezes trazendo mais confusão a uma população assustada que precisaria, nessas horas difíceis, de líderes sérios, calmos, capazes de tranquilizar aqueles que estão desesperados. Palavras mal colocadas só aumentam a angústia e o medo; setores da comunicação fizeram um alarde com a colocação do Presidente Bolsonaro de que não iria obrigar ninguém a se vacinar, como se ele estivesse dizendo algum disparate; vivemos em um país que pratica a democracia e, efetivamente, não se pode obrigar quem quer que seja a se vacinar, embora a vacinação seja a única ação capaz de frear e, em alguns casos, acabar com muitas doenças infectocontagiosas.

A Organização Mundial de Saúde enfatiza que “a vacinação evita a morte de 2 a 3 milhões de pessoas todos os anos” e, para quem tiver dúvidas, é só verificar o que aconteceu com a varíola, o sarampo, o tétano e a poliomielite (paralisia infantil). É evidente que, se muitas pessoas não se vacinam, fica muito difícil acabar com uma epidemia, ou uma pandemia como a atual, mas aí acabamos, mais uma vez, no caldeirão da ignorância, pois, caso tivéssemos um povo civilizado, educado, não haveria necessidade de nenhuma campanha pela vacinação; cada um procuraria um posto, juntamente com seus familiares, para se vacinar.

Essa obrigatoriedade para vacinar faz lembrar o que ocorreu no distante ano de 1904, quando o presidente Rodrigues Alves, estimulado pela juventude e disposição de um médico brasileiro que viera da França após se especializar em saúde pública, chamado Oswaldo Cruz, resolveu vacinar a população do Rio de Janeiro que vivia às voltas com a varíola, a peste bubônica e a febre amarela; foi criada a lei que obrigava vacinar a população e isso causou tanta confusão que por muito pouco não determinou a queda de Rodrigues Alves da presidência da república; foi a chamada “revolta da vacina”; a imprensa e, até setores do exército, ficaram contra a vacinação, numa demonstração clara do obscurantismo que, infelizmente, ainda encontramos nos dias de hoje.

Claro que compete ao governo e, principalmente, aos meios de comunicação, mostrar o valor da vacinação – quando ela chegar – pois será a única maneira que teremos para colocar a população a salvo da ação desse vírus.

O assunto é muito sério e não deve ser levado para o campo da brincadeira pois, afinal, estamos lidando com vidas humanas que poderão ser ceifadas por esse invisível inimigo, que modificou e modificará muito mais a vida futura aqui na terra.

Temos fé na ciência e nos homens e mulheres que estão, na calada dos laboratórios, buscando as armas efetivas para combater esse inimigo perigosíssimo. O mundo já enfrentou outras epidemias e pandemias e, certamente, num futuro que não sabemos quando, poderá ver-se às voltas com microrganismos que ainda não apareceram e que estão por aí hibernados, à espera de um momento propício para darem o bote. É uma vigilância constante nessa dança desses seres minúsculos que nos causam muito mal.