A importância do pai


“Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto da proteção de um pai.” Essa frase ficou permeando minha cabeça.


Tem uma frase de Freud, a mente brilhante que desbravou a Psicanálise, em seu livro O mal-estar na civilização que diz: “Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto da proteção de um pai.” Essa frase ficou permeando minha cabeça, já que no último domingo comemoramos o Dia dos Pais e falou-se bastante – nas redes sociais, principalmente – sobre a importância da figura paterna, da presença física desta figura na vida dos filhos, contrabalanceando a valorização de tantas mães que cumprem as duas funções, além das mensagens com teor de que somente a relação biológica não é suficiente. E não o é, de fato.

A figura paterna – e aqui não vamos entrar na vertente de mães, avôs, tios, primos que exerçam essa função, mas do pai, efetivamente – é de importância absurda no desenvolvimento de qualquer ser humano. É a presença do pai que nos fornece a sensação de segurança, de solo seguro para firmar a pisada e seguir em frente, de proteção mesmo, como disse Freud. É a presença do pai que nos dá sentido de existência, individual, como ser autônomo; já que passamos os primeiros anos de nossa infância muito ligados às nossas mães, nos vemos como se fôssemos um só com ela, e é a intercessão do pai que nos dá a ideia de individualidade, de presença em nós, de unidade, de identidade, de força e segurança para viver a vida, de coragem para ganhar o mundo, de confiança em nós, principalmente e no meio que nos cerca. São os pais que nos levam ao mundo, que nos mostram e apresentam as oportunidades de crescimento, que nos impulsionam a sair do ninho. Bert Hellinger, psicoterapeuta alemão e criador das Constelações Familiares, diz que somente na mão do pai a criança ganha um caminho para o mundo, as mães não podem fazê-lo. O amor do pai não é cuidadoso da mesma forma que o da mãe. O olhar do pai vai para a amplitude.

Pessoas que, por qualquer que tenha sido o motivo, não conviveram com seus pais durante a infância, trazem para a vida adulta sérias lacunas relacionadas justamente à segurança. São, em seu grande maioria, adultos inseguros, que não se sentem fortes o suficiente para enfrentar as dificuldades e obstáculos da vida, que possuem uma grande dificuldade de se sentirem encaixados, aceitos, amados simplesmente pelo que são, é como se sempre faltasse “aquele” carinho, “aquele” afeto, que somente poderia ter vindo do pai.

E, aqui, amado leitor, entra agora uma coisa altamente subjetiva: a interpretação que cada um faz da presença do pai. É fato que um dos nossos maiores focos de dores, lacunas, traumas são relacionados aos nossos pais, à forma como fomos vistos por eles. Não cabe máscara de perfeição aqui! Somos educados, criados com base na criação que nossos pais tiveram de seus pais e assim sucessivamente, o que, muitas vezes, faz com que os equívocos de criação sejam passados de geração em geração. E não há nenhum bicho de sete cabeças nisso.

A grande questão é que o mais importante é a forma como cada um de nós interpreta essa presença, ou ausência paterna. Existe a ausência física e a ausência afetiva. É aquele velho caso de presença ausente: existe a figura paterna, convivendo, mas não existe a base emocional, de envolvimento afetivo. E isso é mais comum do que podemos imaginar. E cada um de nós interpreta essa presença de nossos pais de uma forma. Por exemplo: pais que tenham dois ou mais filhos, cada um deles terá uma visão diferente dos pais. Não tem para onde correr! O contexto pode ser muito parecido, mas as nuances de cbuidado, de interpretação, de afeto que cada um dos filhos observará, será diferente. E isso se dá devido à subjetividade, individualidade e forma de ver o mundo que cada um de nós possui, intrínseca a cada um de nós, que independe da criação que tivemos.

E quando essa interpretação da ausência do pai é sentida como abandono – seja ele físico ou afetivo – os efeitos são profundos, relacionados à sensação de eco e vazio internos, de ter sido excluído, de ter uma privação e lacuna afetivas. Por mais que as mães tentem – e desejem – a sua presença jamais substituirá a do pai. Os filhos com essa sensação de abandono possuem dificuldades de lidar com sentimentos de rejeição, podem apresentar baixa autoestima, a crença de não serem merecedores de amor, cuidado e carinho.

O grande diferencial de todas as relações, meu querido leitor, é o autoconhecimento. E eu repito isso que nem disco arranhado. Porque somente a partir dele podemos observar, interpretar e identificar as faltas que carregamos. Somente a partir do autoconhecimento podemos encarar, de frente e sem fantasias, que nossos pais não são perfeitos e que fizeram o melhor que poderiam ter feito na nossa educação e criação. Somente a partir do autoconhecimento vamos ganhando percepção do que nos limita, onde o calo aperta e podemos ir ressignificando, dando um novo olhar de mais empatia, de entendimento do universo de nossos pais para que os nossos filhos já recebam de nós essas dores e lacunas menos latejantes e possam, posteriormente, passar para os seus filhos menos dores ainda; já que quando sabemos onde nos dói e como dói, temos em nossas mãos a possibilidade de fazer diferente, de não mais passar essa dor adiante.

O autoconhecimento nos permite quebrar padrões, modificar comportamentos.

E seja qual for a realidade que você viva aí do outro lado, amado leitor, de pai presente ou ausente, tenha a plena certeza de que todos merecemos o melhor que essa vida tem para nos proporcionar.

Acredite!

Mariana Benedito – Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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