A prática do amor-próprio


Mariana Benedito: “não significa buscar de forma compulsiva preencher os espaços para não precisar de ninguém”


 

Amor-próprio. Substantivo masculino. Sentimento de dignidade, estima ou respeito que cada um tem por si. Pelo menos é assim que diz o Dicionário Aurélio. Eu, particularmente, meu amado leitor, acrescentaria o reconhecimento e acolhimento com os nossos próprios defeitos, falhas, faltas, lacunas, dores, medos; e, indo ainda mais além, a capacidade de dizer não àquilo que vai contra o que acreditamos, à nossa verdade, ao nosso equilíbrio. Amor-próprio é saber cuidar bem da gente mesmo, sabe?

Existe uma frase que diz que a gente só pode dar o que tem. E é bem verdade, viu? A capacidade que a gente tem de amar outra pessoa é desenvolvida a partir de uma relação bacana com a gente. É aquele negócio do transbordar; só acontece quando já está cheio.

Mas deixa eu te falar uma coisa aqui, sinceramente. Tome aí seu golinho de água e vamos prosear. Eu acredito que a gente se perde um pouco nessa busca por se amar.

Repare, ter amor-próprio não significa ser autossuficiente ou buscar de forma compulsiva preencher os espaços para não precisar de ninguém. A gente pode ver muito por aí afora esse discurso de se bastar, de não precisar de ninguém, de que é melhor andar sozinho. Isso não passa de fuga, meu amado ser de luz! Fuga para não ver refletidos no outro os nossos próprios medos, limitações; fuga para não assumir responsabilidades consigo e com o outro; fuga para continuar levando uma vida infantil. O nome disso é indisponibilidade emocional, não é amor-próprio.

Ter amor-próprio não significa se fechar para as relações e para o envolvimento emocional com o outro, porque você é o alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado e ninguém está à altura de se relacionar com esse pedaço do Olimpo. Isso é outra coisa, meu querido!

Amor-próprio é equilíbrio. É buscar os caminhos internos para se fazer companhia e se preencher, sim, mas entendendo que o outro pode nos complementar. Entendendo que precisamos do outro para nos mostrar visões diferentes da vida, modos diferentes de encarar as adversidades. Que as diferenças existem e, quando estamos abertos, podemos somar e todo mundo sai ganhando! Algo novo nasce disso tudo e pode ser maravilhoso!

Amor-próprio não é se bastar! É fazer o dever de casa de se cuidar, assumir a tarefa de escrever a própria história e fazer com a vida o melhor que puder; sabendo que, na troca, na complementaridade existe uma riqueza de valor inestimável.

Amor-próprio é se colocar em primeiro lugar, sim! Considerando sempre nossa essência, o que é importante e essencial para nós, sabendo impor nossos limites com assertividade e expondo nossos desejos com o coração leve; afinal nós merecemos o melhor, não é mesmo?

É fundamental, para o desenvolvimento do nosso amor-próprio, que a gente perceba o que é importante para nossa saúde física, emocional e psíquica e tome em nossas mãos as rédeas de nossas vidas. Ter amor-próprio não significa ser inconsequente, passar por cima de tudo e de todos. Ter amor-próprio é ter consciência de que é preciso saber o que é melhor para cada um de nós; é poder dizer não quando algo nos viola, violenta, deturpa.

Amor-próprio é hábito! É construção, é comprometimento da gente com a gente mesmo.

Bora começar?

 

 

* Psicanalista, terapeuta e especialista em Marketing

Instagram: @maribenedito