AI, SAUDADE DÓI


João Otavio Macedo desabafa sobre um ano sem a companheira Zina


Todos os seres vivos estão condenados à morte desde o momento de sua concepção e nós, situados no topo da escala animal, passamos a nos preocupar e discutir esse assunto com as pessoas mais velhas, os amigos, os religiosos, já que a finitude da vida é inexorável e brutal, levando uns mais cedo, outros mais tarde e a morte acaba fazendo parte da vida. Não importa a causa, a morte permeia o pensamento da maioria das pessoas e dela não escapamos.

Todos lamentam e choram os seus mortos, levando Saint Exupéry a acrescentar que “cada pessoa que passa em nossas vidas, passa sozinha, mas não vai só nem nos deixa sozinhos; leva um pouco de nós mesmos: deixa um pouco de si mesmo”.

Hoje, 12 de novembro, completa um ano que perdemos a nossa querida e sempre lembrada Zina, a doutora Zina, para quem as crianças constituíam o seu mundo e era por elas amada. Cuidar dos pequeninos era a missão maior do seu trabalho. Na nossa família, eu, nossos filhos, netos, noras, parentes e amigos perdemos um verdadeiro tesouro e a comunidade regional deixou de receber a dedicação de uma pediatra que, por 51 anos, cuidou de muitas crianças de Itabuna e da região, sempre com um sorriso suave a emoldurar uma face serena e amiga.

Ainda choramos a sua partida pois, como dizia Shakespeare, “chorar é diminuir a profundidade da dor” e, vez por outra, chegamos a acreditar na afirmação de Guimarães Rosa que “as pessoas não morrem, ficam encantadas!”, pensamento parecido com outro gigante da literatura, o bardo lusitano Fernando Pessoa, quando exclama que “a morte é a curva da estrada. Morrer é não ser visto”.

Não há dor parecida com a perda de um ente querido; nenhuma dor física, por mais renitente e penetrante, atinge as dimensões da dor de uma saudade. Por isso mesmo usei o título de uma composição de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga para iniciar a nossa conversa: “Ai, Saudade Dói “. O escritor Coelho Neto também deu sua colaboração sobre o tema ao escrever que “a saudade é a memória do coração”.

E mergulhado nesse oceano de dor e de saudade, vou atrás de um menestrel do Cariri, o cearense Antônio Gonçalves da Silva, muito conhecido como Patativa do Assaré, quando exclama:

 

Saudade dentro do peito

 

É qual fogo de monturo

Por fora tudo perfeito

Por dentro fazendo furo

 

Há dor que mata a pessoa

Sem dó e sem piedade

Porém não há dor que doa

Como a dor de uma saudade”

 

E assim, prezados leitores, externei meus pensamentos sobre a perda de um ente querido; é um assunto assaz complexo para ser resumido em poucas linhas; o povo costuma dizer que “cada cabeça é um mundo” e é a mais pura verdade.