Você já parou para observar o quanto tentamos controlar a vida?
Não só as circunstâncias, os resultados, os imprevistos… mas principalmente: as pessoas. Seus sentimentos, suas reações, suas escolhas. Controlamos por medo. Controlamos porque, lá no fundo, há uma dor antiga: a de não sermos mais o centro do mundo.
Sim, meu amado leitor… essa necessidade por controle é, na verdade, a expressão mais refinada de uma ferida que todos carregamos em alguma medida. É o eco daquele bebê que um dia fomos, e que acreditava que bastava chorar para que o mundo parasse, o peito viesse, o colo surgisse. Porque era assim mesmo que funcionava.
E quando a vida nos mostra que não é mais assim, o ego sofre. Reage. Luta. Monta estratégias sofisticadas para não encarar o fato de que não somos o sol do sistema de ninguém. E uma dessas estratégias é a generosidade excessiva.
Dou tudo de mim. Me entrego, me empenho, me esforço, me moldo. Faço o que ninguém faz. Mas não é só porque sou bondoso. É porque, no fundo, quero algo em troca. Quero ser escolhido. Quero ser visto. Quero ser imprescindível. Quero que o outro, ao receber tanto de mim, se sinta emocionalmente obrigado a me devolver na mesma medida — e, de preferência, nos moldes que desejo.
Não é doação. É escambo disfarçado!
Esse é o teatro da generosidade: um palco silencioso onde a entrega tem um contrato oculto. Só que, repare bem, o outro não sabe que está participando dessa peça. E quando ele não aplaude como esperávamos, não retribui como idealizamos, não nos coloca no altar emocional que secretamente sonhamos, nos sentimos feridos. Rejeitados. Desvalorizados.
E aí a mente começa a gritar a velha máxima: “Depois de tudo que fiz por você!”
Mas, se fizemos esperando algo em troca, será que fizemos mesmo por amor?
Essa dinâmica é mais comum do que imaginamos. E vem, quase sempre, disfarçada de virtude. Fazemos do excesso de doação um tipo de manipulação emocional, exigindo que o outro nos confirme em um lugar de importância, sabe?
Queremos que ele nos devolva a sensação de sermos especiais — e mais uma vez o mundo precisa girar ao nosso redor. É por isso que a falta de retorno dói tanto: não é só uma expectativa frustrada. É a ferida reabrindo.
A vida, meu amado leitor, não opera por garantias. Ela é movimento, risco, incerteza. E toda tentativa de controle — inclusive a de manipular emoções através da entrega — é, no fundo, um grito desesperado contra a nossa impotência diante da realidade.
Mas eu te digo, com todo amor do mundo: é preciso coragem para abdicar do controle.
Coragem para aceitar que nem sempre seremos o centro. Coragem para amar sem garantias. Coragem para dar… sem esperar.
E isso, sim, é generosidade verdadeira. Essa, sim, é maturidade emocional.
A ferida que todos carregamos não precisa ser maquiada, jamais! Ela precisa ser reconhecida, acolhida e, finalmente, integrada.
É assim que crescemos. É assim que nos tornamos livres.
Que você possa continuar doando, meu amado ser de luz.
Mas que o seu doar venha leve, sincero, inteiro. Sem contrato oculto, sem caderninho de cobranças, sem a necessidade de que o outro te coloque em um pedestal. Doar por ser você. E não por querer ser alguém para o outro.
Porque, no fim das contas, o amor verdadeiro não exige recibo.
Mariana Benedito é Psicanalista e Psicoterapeuta
Instagram: @maribenedito