Arrume sua mala…


A caixa fúnebre, diz Kiko, não comporta muita coisa além de um corpo inerte


Por Kiko de Assis

A pandemia do Covid-19 nos trouxe muitos transtornos e também reflexões. Com a morte espreitando a todos sem exceção, a angústia da impotência foi arrebatadora. Amigos, parentes e até personalidades morrendo “feito moscas”, nos deu a dimensão exata do caos estabelecido. A ciência salvadora e até poucos dias antes colocada à prova e negada por muitos, inclusive pelo poder público, imediatamente torna-se a tábua de salvação e o “elefante branco” do SUS, passa a ter seu devido e merecido reconhecimento. Mas isso tudo faz parte da cena escatológica apresentada e veiculada sistematicamente na grande mídia nacional. A morte como objeto de espetácularização…
Mas e a reflexão que fica? Bem, estamos todos, como sempre, de malas prontas para a viagem final e inexoravelmente ela acontecerá! A questão que insiste em ressoar dentro das nossas cabeças é a seguinte: o que vou levar? A caixa fúnebre não comporta muita coisa além de um corpo inerte. E o que realmente cabe nessa mala? Há muitas parábolas, poemas e até tratados cuidando da explicação sobre o que se leva na viagem final. Uma coisa é certa! Só levaremos o que vivemos! Sim! Parece diminuta e simplicista essa colocação, mas não é! Nós temos desde a mais tenra infância os objetivos e destino traçados pela sociedade em que vivemos, seja pelos pais, escola ou vivencia autônoma. São imputados valores que nos direcionam ao pódio de uma grande competição, uma corrida do vale tudo. Por conta dessas “maratonas” muitos se esquecem do primordial, que é VIVER! Nossa vida é preciosa e única, precisa ser tratada 24 horas por dia de forma singular! A maioria das pessoas acha que serão eternas no campo físico e que a morte é um problema do vizinho… É preciso parar e reavaliar esse conceito de viver por viver ou viver alucinadamente como se não houvesse o amanhã. A dose certa é saber o que levaremos! Sei que as imagens, os cheiros e os sabores cabem na mala. Somente isso nos é permitido levar. Somos seres sensitivos e o seremos até o momento da partida. Não há tempo para se perder com “valores” fora dessa caixinha. Então, viaje, divirta-se, ame muito, gaste com jantares maravilhosos, bebidas agradáveis, enfim, consuma a vida! Não deixe ela o consumir. Lembre, nessa mala só vai caber isso…


Kiko de Assis
Publicitário e Produtor Cultural