Artigo de João Otávio Macedo – A VIOLÊNCIA E SEUS TENTÁCULOS


“não concordo em demonizar apenas o traficante, poupando o “bonzinho” usuário quando é este, pela sua persistência no uso e abuso de substâncias tóxicas e proibidas, que mantém esse comércio ilegal”


Diante da avalanche de fatos marcados pela violência, fica difícil fugir do problema, aqui e em outras partes do mundo, já que o esperado seria uma queda em seus índices. Quando o problema parece que vai arrefecendo, eis que explode em outros lugares, com novas facetas, obrigando os governos a aumentar o contingente de funcionários envolvidas no combate a atos, muitos dos quais, não ocorriam no passado.

Como ficar indiferente às explosões e incêndio de ônibus e prédios, como está ocorrendo em Fortaleza e em outros municípios do Ceará? Como não atentar para o continuado ataque aos caixas eletrônicos, muitas vezes o único acesso a esse determinado tipo de serviço, à disposição de pessoas aposentadas e moradoras em localidades distantes de uma rede bancária maior?

O espectro da violência mexe com o humor da população, bombardeada diariamente pelo noticiário, principalmente da televisão, mostrando crianças abatidas pelas chamadas “balas perdidas”, resultantes do enfrentamento da polícia com os bandidos, cujo número só faz crescer, fortemente armados e embalados pelos lucros do tóxico, essa praga que parece que veio para ficar, de difícil combate; não concordo em demonizar apenas o traficante, poupando o “bonzinho” usuário quando é este, pela sua persistência no uso e abuso de substâncias tóxicas e proibidas, que mantém esse comércio ilegal, mas altamente lucrativo; em volta do tóxico arma-se uma rede de corrupção, contaminando setores da polícia, da justiça, do mundo político e de autoridades que deveriam se posicionar na linha de frente diante desse gigantesco problema.

A violência afugenta o turista e mexe com a economia, pois deveríamos, pelo tamanho e pelas belezas e riquezas deste país continente, estarmos nos primeiros lugares da escolha como destino turístico no mundo.

A violência nasceu junto com a civilização, obrigando a elaboração de leis e mais leis visando à sua diminuição, mas apesar de tudo isso, ela aí está, com os seus vários tentáculos, nos metendo medo e criando uma dor de cabeça constante para os governantes; ocorre tanto nas camadas de maior poder aquisitivo quanto nas mais pobres; é praticada tanto por detentores de títulos acadêmicos como por pessoas iletradas. Nas duas últimas semanas, dois fatos importantes tomaram conta do noticiário, o primeiro envolvendo um ex-Procurador Geral da República, ocupante, portanto, de importante cargo no alto escalão do país e que confessou ter pensado em matar um ministro do Supremo Tribunal Federal; para tanto teria comparecido à suprema corte portando um revólver, mas cujo homicídio, felizmente, não se concretizou, por motivos não bem explicados, talvez, quem sabe, por arrependimento ou por uma maior reflexão; dias após a confissão de um atentado que, felizmente, não se concretizou e que teria ocorrido dois anos atrás, eis que um procurador da justiça paulista invade um tribunal e, com uma faca, atinge uma juíza, felizmente, também, sem maiores conseqüências. Dois atos, um que não se perpetrou e outro em que houve lesão corporal, ambos envolvendo pessoas que frequentaram a universidade, prestaram concurso público e, o que é mais grave, atuando no âmbito da justiça. Observando o comportamento das pessoas e os atos de violência, fica, cada vez mais evidente, a veracidade do brocado latino, muito conhecido, de que o “Homo Homini Lupus”, ou seja, o homem é o lobo do homem.