Artigo de João Otávio Macedo – OS ENTRAVES NA SAÚDE


“Com a entrada da nova constituição brasileira, esperava-se que tudo estaria resolvido, principalmente quando se alardeava que o famoso SUS seria o maior programa no mundo”


 

Na história da civilização vemos que é relativamente recente um maior conhecimento das ciências exatas e a sua aplicação na medicina; as doenças foram, por muito tempo, tidas como castigo dos deuses e não se tinha a noção da existência dos microrganismos. O avanço das ciências propiciou um aumento considerável na média de vida e o cabedal de conhecimento, transformado em conquistas para a população, melhorou as condições de saúde; é o saneamento básico, a vacinação, boa alimentação, moradia decente e outras conquistas, tudo isso tem contribuído para uma expectativa de vida que não se via décadas atrás.

Os cuidados com a saúde e o enfrentamento das doenças sofreram grandes transformações, tornando-se caro e complexo, até chegarmos ao momento atual, com vários entraves que impedem uma eficaz assistência médico-hospitalar; e as queixas quanto ao atendimento só fazem aumentar, só perdendo para a violência, que, por seu lado, também, concorre para onerar e dificultar o atendimento, vez que os atingidos por balas e vítimas de acidentes, principalmente de veículos, demandam um custo muito alto e exigência de hospitais bem montados e com equipe médica e de apoio altamente qualificadas.

Com a entrada da nova constituição brasileira, a partir de outubro de 1988, estendendo a todos os brasileiros o direito a assistência médico-hospitalar, dentro do princípio constitucional de que “a saúde é um direito de todos e dever do estado” esperava-se, mormente para os mais otimistas, que tudo estaria resolvido, principalmente quando se alardeava que o Sistema Único de Saúde, o famoso SUS, seria o maior programa no mundo e que tudo estaria resolvido. O tempo viria a mostrar que não é tão fácil assim e a formidável massa de mais de 150 milhões de brasileiros, que não tem planos de saúde, começou a pressionar e acionar a justiça, na busca de seus direitos; as queixas começaram a aparecer e os meios de comunicação não se cansam de mostrar, todos os dias, cenas chocantes de pacientes em filas quilométricas, hospitais e postos de saúde lotados e sucateados, queixas contra médicos e outros profissionais da área de saúde e, nessa barafunda total, os mais fragilizados levam a pior. Ainda nesta semana, foi mostrada a dificuldade para cirurgia cardíaca em crianças do Amazonas e a carência de leitos em unidades de neonatologia e pediatria, em várias partes do país. Na bela e decantada cidade do Rio de Janeiro a situação é muito grave, com greve do pessoal da saúde, atraso de pagamento em vários núcleos da rede assistencial.

Não dá, nesta página, espaço para relacionar os diversos problemas, na área médico-hospitalar, que temos no país. Há muito que se discute as suas causas e possíveis soluções, mas não vimos nenhum passo adiante; é bem verdade que há ilhas de excelente atendimento, inclusive na abrangência do SUS, mas que não chega à maioria da população. No que se refere aos hospitais, principalmente os da rede filantrópica que engloba algo em torno de 1708 nosocômios, há alguns que recebem uma complementação  em cima do irrisório pagamento oficial e conseguem prestar uma boa assistência. A situação é tão séria que essa rede filantrópica devia – não sei se ainda deve – a bagatela de 20 bilhões de reais.

Alguns relatam má gestão, outros apontam para a corrupção – que efetivamente existe, segundo o que vemos na televisão – e essa crônica falta de recursos entravando, já não digo o crescimento desses hospitais, mas até mesmo a sua manutenção e a capacidade de continuar de portas abertas.

Mais um ano indo embora e a eterna esperança que algo ocorra, de melhor, nessa importante e sensível área da saúde.