BOLSONARO, MORO, CENTRÃO E O LAVAJATISMO


Bolsonaro bem próximo do Centrão, comenta o articulista Marco Wense


Nesse pega-pega entre Bolsonaro e Moro, o primeiro round foi do ex-juiz da Operação Lava Jato. O duro e incisivo pronunciamento terminou implicando o presidente da República em, no mínimo, dois crimes: de responsabilidade e falsidade ideológica.

De responsabilidade em decorrência da escancarada interferência política do morador mais ilustre do Palácio do Planalto na Polícia Federal. O de falsidade com o uso da assinatura de Moro sem sua permissão. Não vou aqui me estender no assunto. Os dois prováveis crimes já foram exaustivamente comentados ontem, não só nos meios de comunicação como por muitos advogados, parlamentares, enfim, por muita gente.

Vamos começar pelo Centrão, que é um agrupamento de políticos adepto da política do toma lá, dá cá, não importando o governo, seja de esquerda, direita, centro ou qualquer campo ideológico. O Centrão já foi aliado de Lula, Dilma, Temer e, agora, é Bolsonaro desde criancinha.

Ao se aproximar do Centrão, o presidente Jair Messias Bolsonaro joga na lata do lixo sua principal bandeira de campanha: a nova política, o que terminou levando milhares de eleitores a acreditar que o “mito” daria um chega pra lá no encrustado fisiologismo. Ledo engano.

Pois é (1). Bolsonaro, cada vez mais isolado, assombrado com o fantasma do impeachment, procura desesperadamente o Centrão, que já começa a debruçar sobre os cargos que vai reivindicar para se tornar aliado do presidente, defender efusivamente o governo e combater o “Fora Bolsonaro”.

Pois é (2). Além do novo parceiro no Congresso Nacional, o presidente detona o chamado “lavajatismo”, que simboliza o combate ao desvio do dinheiro público, em que pese um Aécio Neves está solto, debochando da Justiça e parlamentando como se nada estivesse acontecido. Com efeito, o tucano (PSDB) é o maior exemplo de que a impunidade continua viva.

Pois é (3). E agora, como fica o discurso de Bolsonaro diante dessa aliança com o Centrão? Se correr o bicho pega se ficar o bicho come. Ele pega porque o presidente fica desprotegido diante de um eventual pedido de afastamento para que as gravíssimas acusações do ex-juiz Sérgio Moro sejam investigadas. Ele come porque vai crescer a decepção dos eleitores que votaram no então candidato Bolsonaro, o paladino da política sem troca de favores.

Pois é (4). Sem o lavajatismo do seu lado, que foi junto com o antipetismo seus dois principais “cabos eleitorais”, a próxima pesquisa para a sucessão de 2022 deve apontar uma queda preocupante nas intenções de voto em Bolsonaro, que vai disputar o segundo mandato consecutivo via instituto da reeleição.

Pois é (5). Em toda essa confusão, um partido e um político se destacam na falta de credibilidade para aproveitar o momento de crise do presidente Bolsonaro: PT e João Doria. O petismo foi o responsável pela eleição de Bolsonaro. O governador de São Paulo se elegeu pegando carona no bolsonarismo. O esforço de Doria para dizer que é agora um antibolsonaro chega a ser ridículo e, ao mesmo tempo, hilariante. Na sua última entrevista disse que “o Brasil tem dois vírus, o coronavírus e o vírus lá do Planalto”.

O “Pois é” de número 6 fica por conta da negativa repercussão na imagem do nosso país em todo o mundo. Em plena pandemia de coronavírus, com as pessoas morrendo, a classe política se atracando, de olho na sucessão presidencial de 2022.

Bolsonaro e Moro

PS – A próxima enquete eleitoral sobre o pleito presidencial de 2022, vai mostrar a verdadeira força do chamado “bolsonarismo de raiz”, já que os lavajatistas, que votaram em peso no então candidato Bolsonaro, são os novos adversários do bolsonarismo. O lavajatismo tem agora uma missão pela frente: convencer Sérgio Moro a disputar o cobiçado Palácio do Planalto.