Cachos conduzem jovem itabunense à reinvenção na pandemia


De recepcionista a cabeleireira, Beatriz Aragão derrubou os próprios preconceitos e tornou-se empreendedora


Beatriz distribui ensinamentos por identidade e aceitação

Longos fios de cabelo alisado, muitas vezes domados com a ajuda de um ferro de passar. É apenas uma recordação distante na vida de Beatriz Aragão. A jovem itabunense, de 22 anos, conta que, literalmente, cortou pela raiz uma vida inteira de madeixas lisas por força de produtos químicos.

Ao mesmo tempo em que deixou os cabelos crescerem naturalmente, ela fez vários cursos (uns on-line e outros presenciais) sobre cabelos cacheados. Descobriu que poderia ajudar outras mulheres a, como ela, assumirem a própria aparência. E pôde encontrar ali uma nova profissão.

Com a ajuda da irmã Maria Eduarda (Duda), começou um salão na lavanderia de casa. “Tinha um lavatório móvel, arrastava e lavava as toalhas”, lembra. A tradicional propaganda boca a boca e a modernidade do Instagram (@beattrizaragao) trouxeram uma leva de clientes.

Todas em busca de uma profissional preparada para cuidar de cabelos cacheados, ondulados e/ou crespos. A demanda cresceu, o estabelecimento que leva o nome de Beatriz Aragão mudou para um espaço no centro e atrai clientes de cidades vizinhas. A cada dois meses, inclusive, ela atende um dia inteirinho em Ilhéus.

“Eu me reinventei na pandemia. Quero incentivar as mulheres a se aceitarem como são! Não existe cabelo ruim; existe cabelo maltratado”, revela Bia, como é chamada entre os amigos. “Começamos de baixo e nossa história não vai parar”, completa Duda.

Mulheres aprendendo a valorizar a própria aparência

Raiz de transformação

A mudança que embala a vida de Beatriz também deixa reflexos na caminhada de Duda, de 15 anos. A menina, que também assumiu os cabelos crespos, recorda que passava por alisamentos desde a infância. Felizes por assumirem a própria aparência sem a tal da “química”, elas fazem planos.

“Queremos que as mulheres tenham o cabelo que quiserem ter, sem seguir padrões impostos pelos outros. Seja livre!”, diz a adolescente, mostrando seguir firme a trilha encontrada junto à irmã. Ah! Identidade rima com solidariedade entre elas, hein? O salão tem uma “sacolinha do Gacc”. Nela ficam cabelos para serem usados em futuras perucas.

Convicta do sucesso conquistado, a cabeleireira deseja mergulhar nos estudos na área de Marketing. Nossa rápida conversa (que virou entrevista diante dos fatos inusitados expostos) mostrou o perfil comunicativo de uma jovem que foi recepcionista em banco, secretária e encontrou nas próprias interrogações um caminho de empreendedorismo – e, indiscutivelmente, sucesso.

Para assumir a própria beleza, elas dizem adeus à química