Coluna de Mariana Benedito – A busca pelo caminho mais curto


“É possível organizar gavetas sem antes separar o que fica e o que não nos serve mais?”


 

Tem uma frase no filme do Homem-Aranha que diz assim: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. E, meu querido leitor, pensar na dimensão dessa frase nos possibilita perceber que grandes conquistas requerem dedicação, esforço, empenho, disciplina.

Trabalhando na área no comportamento, mente, inconsciente e autoconhecimento humanos, a palavra que eu mais falo, o pensamento que eu mais prego e a ideia que eu mais dissemino é a do processo. Cada coisa de uma vez. Passo por passo. Caminhada. Jornada. E, volta e meia eu me deparo com algum comentário, pergunta, anseio com relação justamente à persistência ao longo do processo. Vejo e observo, cada vez mais, a busca de muitas pessoas sendo pautada com o foco no objetivo, esquecendo a importância do caminho. Vejo o surgimento de diversas ferramentas que sugerem a solução do problema num passe de mágica, sem o entendimento do desconforto, do incômodo, da razão e motivo pelos quais aquele sentimento ou sensação existem.

Agora repare, amado leitor: vamos supor que você tenha um carro e, ao dar partida, percebe que ele está demorando a pegar, está engasgando. Mas pega. Um dia, dois dias, três dias com o mesmo problema. Até que você vê que, não tem jeito, precisa levar seu carro para a oficina. Chegando lá, relata rapidamente para o mecânico o que está acontecendo e, muito embora ele tenha experiência e pode até já saber onde é o problema, você vai precisar deixar seu carro lá para ele investigar. O mecânico abre seu carro, observa, testa, tira uma peça, coloca outra, testa de novo. E agora eu te pergunto, meu caro: é possível consertar um carro sem mexer nas peças? É possível consertar um carro sem causar o mínimo desconforto de você ficar sem ele por um tempo? É possível fazer uma faxina em uma casa sem deixá-la um caos primeiro, com tudo de perna para cima? É possível organizar gavetas sem antes separar o que fica e o que não nos serve mais? Pois é, não é possível. E por que seria diferente quando somos nós que precisamos desses reparos, reformas, faxina e organização?

O único caminho para fora é através. A única forma de aperfeiçoamento é reconhecendo o que precisa ser aperfeiçoado. É necessário lidar com o desconforto de ter a casa bagunçada antes de tê-la limpa e cheirosa. Só é possível dar um novo significado a uma dor, trauma, crença e se possibilitar novas formar de ver o mundo quando se olha nos olhos desta dor, quando você permite que a emoção e angústia guardadas nesta dor sejam entendidas. Não existem atalhos, não existem fórmulas mágicas, receitas prontas, ressignificação da noite para o dia. Atingir o objetivo requer dedicação. Atingir o objetivo requer lidar com o desconforto. Atingir o objetivo requer entender que não somos mais crianças que desejam as coisas na mão, sem esforços.

Chegar onde se deseja requer assumir responsabilidades, mudanças de posturas, auto-observação. Chega um ponto que é necessário abandonar o comportamento infantil de fazer birra, de dar calundu quando as coisas não saem como se deseja, de fazer bico quando percebe que a mudança só depende de você, de querer viver brincando e fugindo e empurrando para depois o que precisa ser feito aqui e agora.

É caminhando que o caminho se mostra. É no desconforto que a gente se mobiliza para sair do lugar.

Tenha em mente o seu objetivo, aonde quer chegar, o que pretende melhorar, comportamentos que deseja abandonar; busque identificar o que causa dor, o que alimenta seus padrões, a razão pela qual faz as escolhas que faz. Mas, te digo, meu amado leitor, a chave-mestra é estar presente. Aqui e agora. Presente em cada passo. Presente em cada sensação. Presente em cada ação. Assumindo a responsabilidade com o seu processo.

Cada passo.

Aqui e agora.

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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