Coluna de Mariana Benedito – Cada um no seu quadrado


“de quem é a tarefa de gostar do que você faz e do que quer fazer?”


               

Uma das coisas mais transformadores e preciosas que eu descobri na vida, meu amado leitor, foi entender a importância dos limites.

Limite é tudo que demarca onde algo termina e onde outro algo começa, o espaço disponível e disposto para que alguma coisa aconteça e cresça. Os limites protegem e evitam que tudo se embole e se misture sem saber mais o que é uma coisa e o que é a outra. A gente, aqui da região cacaueira, sabe que Itabuna e Ilhéus são cidades irmãs, não é? Fazem parte de uma microrregião importantíssima para a economia sul-baiana. Mas cada uma tem suas peculiaridades, capacidades e poder de oferta ao todo. Sabemos onde uma começa e a outra termina e, assim, divididas e fortalecidas separadas, elas podem somar muito mais quando se juntam.

É assim que trabalha o limite. Precisamos ter clareza de quem somos, quem é o outro, o que é importante para nós – aquilo que é essencial e não permite negociação ou violação – e o que precisamos, muito mais do que queremos.

Os limites protegem. Repare bem, meu amado leitor. Quando nos relacionamos, estamos propensos a conhecer e lidar com a dor e a delícia dessas relações. Todo mundo tem qualidades e defeitos, todo mundo tem uma história, todo mundo tem cicatrizes, todo mundo tem medos. E, na grande maioria das vezes, essas histórias, defeitos, qualidades, cicatrizes, medos e inseguranças não são exatamente as mesmas. Cada um de nós vive de acordo à combinação de todas essas coisas; a visão de vida e de mundo tem nuances diferentes para cada um dos habitantes da face desse planeta chamado Terra. Ou seja, no frigir dos ovos, meu caro, é cada um com uma opinião diferente de acordo à sua história, e quando nos colocamos a postos para uma relação – o que vai acontecer inevitavelmente, porque ninguém é uma ilha – vai haver, de alguma forma, atritos de ideias, divergências e toxidade, em menor ou maior grau. E o que vai determinar até onde esta, também inevitável, opinião do outro afeta ou influencia nossa vida? É, isso mesmo, você já sabe a resposta, os limites.

Olha, meu amado ser, é muito comum pensar que as pessoas vão ficar chateadas com a gente a partir do momento em que deixarmos de fazer o que era desejo delas ou quando a opinião delas não tiver mais tanto peso nos nossos comportamentos ou quando a gente disser não. Mas, deixa eu te falar uma coisa, quem precisa decidir o que é melhor para você é você mesmo. Pura e simples. Estamos separados do outro e o outro está separado da gente, cada um cuida de si. Bem-vindo ao mundo adulto. Isso é amadurecer, isso é “adultecer”. Ser responsável pela nossa própria biografia e pagar o preço disso, bancar a nossa própria felicidade e a vivência de nosso propósito. Repare como é muito mais confortável ser infeliz. E pagar o preço disso é saber que é preciso dizer não, colocar limites para proteger o que é essencial para nós.

Dizer não, não significa abandonar. Frustrar não significa ferir. São coisas completamente diferentes. É cada um cuidando do seu próprio quadrado e desempenhando suas próprias tarefas.

Até porque de quem é a tarefa de gostar do que você faz e do que você quer fazer? De quem é a tarefa de se apropriar dos seus sonhos e objetivos? De quem é a tarefa de te aprovar, te reconhecer nos seus erros e acertos? De quem é a tarefa de tentar e experimentar para ter uma vida mais gostosa e suculenta? E de quem é a tarefa de lidar com o que você está fazendo?

A aprovação do outro tem a ver, antes de qualquer coisa, com a história dele, com todo o conteúdo emocional que ele traz e a situação que ele passa atualmente, pouco depende de quem a gente é ou o que a gente faz. Aí eu te pergunto, se a aprovação do outro depende tão pouco de você, daquilo que você faz e daquilo que você é, será que faz tanto sentido mesmo esperar por ela? Mesmo que sejamos a perfeição personificada, isso não vai garantir que a gente tenha a aprovação.

Colocar limites é cuidar da gente, nutrir e alimentar o que é essencial para nós, proteger o que é sagrado para nós. É ter clareza do que a gente pode negociar e do que a gente jamais vai abrir mão.

 

* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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