Coluna de Mariana Benedito – Chá com uma boa companhia


... você já percebeu o quão ferrenho e julgador pode ser consigo



A gente só convida para tomar um chá, um café, um drink quem a gente gosta de ter do lado, não é verdade, meu amado leitor? Pois então, hoje, nesta coluna, eu te faço o pedido que convide você mesmo. É, se faça companhia por um momento. Fique com você um pouco. Abra espaço para o sentir e fique com você mesmo enquanto sente, independente do que quer que venha a sentir. No começo pode parecer estranho, desconfortável, principalmente se você estiver sentindo algo que pese, que machuque, que magoe, que doa. Se fazer companhia nos momentos em que a gente quer fugir da gente mesmo é, de fato, desafiador e altamente desconfortável. Sei bem!

E aí você pode estar se perguntando, meu amado ser que me lê aí do outro lado, o que é abrir para sentir ou aceitar o que estou sentindo? Hoje, após caminhar por alguns caminhos, eu acredito que abrir espaço para sentir e aceitar o que sinto está diretamente ligado a duas coisas: lidar com a realidade dos fatos e a forma como eu me trato enquanto sinto.

Pode ser que você, meu querido leitor, ao se perceber cometendo um erro, por exemplo, vista a capa do maior carrasco que pode existir na face deste planeta Terra, daqueles que empunham nas mãos uma chibata, e se puna da mais perversa forma. Se julgue com as piores acusações, apontando o que deveria ou não estar sentindo e pintando o pior quadro de você mesmo, porque sente o que sente.

É justamente nesse momento que entra a forma como a gente se trata enquanto sente o que quer que seja. É claro que senso autocrítico, noção e canja de galinha não fazem mal a ninguém, mas eu posso até me arriscar dizendo que você já percebeu o quão ferrenho, cobrador e julgador pode ser consigo mesmo. A forma abusiva com que trata e fala com você mesmo. Se cobrando o tempo inteiro, achando que isso vai catapultar você para frente. Com pânico de sentir os sentimentos desconfortáveis que vêm no combo do erro: a sensação de inadequação, vergonha, de não ser perfeito.

Agora repare que peso gigantesco para se carregar, meu tão amado leitor. É se cobrar algo inatingível. Não é da condição humana ser perfeito. Não adianta, lidemos com isso. O erro é extremamente necessário e faz parte da criação de qualquer coisa. Perceba se a gente critica uma criança que cai quando está aprendendo a andar. Nós cobramos que ela corra enquanto está dando os primeiros passos? Muito pelo contrário. Damos passos mais lentos para que ela acompanhe o ritmo, incentivamos que ela levante quando cai. E por que não nos tratamos da mesma forma? Por que não compreendemos o erro como um passo de aprendizado, como um fortalecimento para o próximo passo que daremos?

Que tal fazer o teste de ao invés de se condenar tanto quando cometer um erro e ficar na repetição mental autodepreciativa, lidar com o fato de que o erro é necessário – só erra quem tenta, só cai quem se movimenta – e se fazer companhia, falando com você mesmo de uma maneira madura e buscando um plano de como vai lidar com os inevitáveis erros e não mais como evitá-los?

A gente não leva em consideração que somos eternos aprendizes da arte de viver e se relacionar. Estamos aprendendo, a cada passo!

E a forma como a gente se trata durante este processo faz toda a diferença, meu amado leitor. Seja uma boa companhia para você.

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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