Coluna de Mariana Benedito – Falamos mais de nós do que imaginamos


“as palavras que saem de nossas bocas podem se transformar, também, em verdadeiras armaduras"


Deixa-me te contar, meu querido leitor. Uma das coisas que eu mais tenho aprendido nessa vida – e a prática clínica na Psicanálise engrandeceu ainda mais tudo isso – é de que nós falamos o tempo todo de nós mesmos. Pode estar falando do tempo, de futebol, da novela das nove; não importa, a gente enxerga a vida através de nossas lentes e transmitimos, verbalizamos, expressamos e comunicamos através destas mesmas lentes.

O discurso que a gente carrega traz traços importantíssimos sobre nós. E esse caminho de autoconhecimento, auto-observação e autopercepção permeiam justamente este sentido: a gente precisa começar a se ouvir mais. A forma como tratamos o outro, a maneira que nos referimos a alguma coisa traçam verdadeiros mapas da nossa realidade emocional e psíquica. A nossa psique é que comanda tudo e, tomando como base que as doenças físicas são somatizações das nossas dores emocionais, é na nossa mente que precisamos colocar o foco de nossa cura. E quando eu falo de cura, amado leitor, me refiro ao entendimento de que estamos nessa caminhada para identificar, olhar, entender, compreender, aceitar e ressignificar nossas dores, medos, o que nos separa de estar em paz.

Agora, acompanhe meu raciocínio: se a forma como falamos, nos relacionamos, nos expressamos e comunicamos diz muito sobre nós e um dos maiores objetivos da nossa mente é nos proteger de sentir dor, as palavras que saem de nossas bocas podem se transformar, também, em verdadeiras armaduras, que nos blindam, mas nos separam. Existe um estudo chamado “Um Curso em Milagres” – ele propõe a mudança do pensamento baseado no medo e na culpa para uma percepção do amor e suas expressões; recomendo muito, é interessantíssimo. #dicadamari – e um dos seus principais postulados é que tudo que há neste planeta chamado Terra é amor ou um pedido por amor. Repare, vou dar um exemplo: quantas vezes nós já fomos magoados, machucados por alguém ou este mesmo alguém falou ou agiu de determinada forma que nós interpretamos de maneira que nos ferisse e, para demonstrar o quanto estávamos magoados, falamos com este alguém de forma ainda mais grosseira? Como se a nossa mente dissesse: você me magoou e eu estou sentindo uma dor absurda, preciso que você saiba o tanto que está doendo e sinta a mesma dor que eu, portanto as minhas palavras saem feito faca. Nós desejamos, no fundo, chamar a atenção desta pessoa para que ela veja nossa dor; é um pedido por amor.

Quantas vezes encontramos pessoas agressivas, que tratam o outro de maneira rude, ignorante, bélica como se estivessem, de fato, vestindo armaduras e empunhando armas, prontas para o combate vinte e seis horas por dia; qualquer mínima coisa é motivo para gritos, impaciência, intolerância, como se o mundo estivesse errado, ela certa e a única forma de persuasão seja a rispidez e selvageria, com pitadas de xingamentos e doses de patadas. Caso você conheça pessoas assim – ou seja uma delas –, tente olhar de maneira diferente. Todo esse comportamento agressivo é, nada mais, nada menos, do que um pedido por amor.

Ela tenta, a todo custo, chamar a atenção, ser olhada, ser vista em sua totalidade, como se ela, no meio de toda agressividade, dissesse: é uma dor tão pesada para carregar sozinho, é uma carga emocional tão densa, é uma ferida tão profunda e não para de latejar, que eu não estou mais conseguindo suportar, mas a armadura que eu vesti me separa tanto de você, que esta foi a maneira de pedir ajuda.

Tudo é amor ou um pedido por amor.

E cabe a nós, por mais machucados e fragilizados que possamos estar, perceber nossos medos, inseguranças, frustrações, dores para não projetar no outro toda essa carga emocional. Muito embora alguns comportamentos sejam pedidos por amor, só nós temos a chave para abrir a “caixinha de pandora” que guarda todos os segredos.

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica;

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