Coluna de Mariana Benedito – Na vera…


“...é todo esse pacote sentimental e emocional que nos governa, bem mais do que a razão”


 

Existe uma frase, ditado popular, que diz: “Na prática, a teoria é outra.”

E isso vale para um bocado de coisas nessa vida, meu caro leitor. Mas, a reflexão que eu pretendo deixar aqui, nesta coluna de hoje, é o tanto que a gente prioriza o pensar e se esquece do sentir. Parece uma insanidade dizer isso, já que nós, humanos, somos perfeitamente providos de sensações, sentimentos, emoções e percepções; e, te digo, meu amado ser, é todo esse pacote sentimental e emocional que nos governa, bem mais do que a razão.

O fato é que a grande maioria das criaturas pensantes deste mundo chamado Terra busca ter controle sobre tudo e governar tudo e dar conta de tudo o tempo todo. A gente teima em colocar a mente na frente de tudo, numa busca de entender racionalmente toda e qualquer coisa que nos acontece. Avalie. Imagine que você, em plena solteirice, conheceu uma pessoa. Imediatamente, sua cabecinha trata de separar tudo em caixas, rótulos, nomenclaturas e classificações. Alto ou baixo. Branco ou preto. Cabelo liso ou cacheado. Loira ou morena. Bonito ou feio. E a partir daí mil e outras possibilidades de categorias brotam.

É a mente em seu processo natural de ordem e controle. Buscando se localizar no meio da confusão da nova informação e já catando, nos registros inconscientes – e conscientes –, se esta tal nova informação não resgata alguma lembrança que desperte a necessidade de proteção. A mente totalmente em ação, buscando fazer com que tudo faça sentido. Oi? Fazer sentido, fazer sentir. As coisas não fazem sentido puramente em nossas cabeças. Mas as nossas cabeças não querer sentir nada, elas querem se proteger de sentir dor, de se magoar, de ficar triste. Pescam e buscam as situações parecidas, que de longe lembrem alguma dor. E controlam, bloqueiam para que a gente não sinta de novo. E, de repente, você se percebe ruminando situações passadas para evitar viver o presente, o novo.

O caminho do autoconhecimento, da auto-observação e de tentar diminuir cada vez mais os gritos da nossa mente – que mente um tanto! – nos proporciona diversas ferramentas teóricas de como lidar com todo esse processo mental de controle. Só que, pequeno pônei, é muito difícil colocar em prática todas as coisas incríveis que, na teoria, fazem todo sentido. E aí, meu querido, será que temos a tendência de acreditar que é por meio de nossa cabeça que vamos resolver os nossos conflitos? Lamento informar-lhe, não é.

É justamente através do sentir que a gente pode entender. E grandes mudanças acontecem em pequenas atitudes. Algo pode não parecer racional para você, mas se te faz sentir, se te traz bem-estar, por que não fazer? Vou colocar um exemplo pessoal e extremamente simples aqui. Eu não gosto de chegar em casa, depois de um dia de trabalho ou de ter ido à rua, e vestir uma outra roupa sem tomar um banho; prefiro ficar de calça jeans em casa, enquanto resolvo pequenas coisas, do que vestir uma roupa mais confortável sem tomar banho. Agora se você me perguntar qual o sentido racional que existe nisso, eu te respondo, sinceramente, que eu não faço ideia. Mas quando eu chego em casa e coloco uma roupa mais confortável sem tomar banho, eu me sinto desconfortável, e eu sei disso, porque eu simplesmente sinto.

A gente não pode acreditar em tudo que a mente diz e muito menos só fazer as coisas que ela acha que fazem sentido. Usando as palavras de Osho, faça aquilo que faz seu coração vibrar, aquilo que faz sentido dentro de você, aquilo que dá a sensação de conforto.

A gente não pode mais fugir do que sente, porque absolutamente nada nesta vida vai fazer sentido enquanto a gente simplesmente não sentir. Parece óbvio, não é? Na teoria.

Mas a única saída é para dentro.

 

– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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